Volume represado turbinou as vendas de usados em setembro
São Paulo – O resultado das vendas de veículos usados em setembro refletiu um novo comportamento do consumidor. Embora Ilídio dos Santos, presidente da Fenauto, justifique a alta de 12,2% sobre setembro do ano passado pelo forte represamento das vendas nos três meses de fechamento do comércio na maioria dos municípios brasileiros, os consumidores estão, sim, demandando automóveis.
“É um resultado ligado diretamente ao período de isolamento, que fechou lojas e os Detran. A forte demanda represada é fruto de um movimento que surgiu no mercado durante a pandemia. Muitas pessoas que antes tinham optado pelo transporte por aplicativo voltaram a ter interesse na posse do veículo por questões de segurança.”
Também colaboraram para esse maior volume de vendas no período, segundo o presidente da Fenauto, a taxa de juros baixa, as trocas com troco e a manutenção dos preços no mesmo patamar pré-pandemia – algo que não ocorreu no mercado de veículos novos: “Todos esses fatores, mais a questão sanitária, refletiram diretamente na venda de seminovos no período”.
A tendência já era esperada para este mercado especificamente, afirmou Paulo Cardamone, consultor da Bright Consulting: “Aquele movimento que ganhava força antes da pandemia, de muitos consumidores optando pelo uso de outras plataformas de mobilidade, abrindo mão do veículo próprio, acabou perdendo força porque a pandemia gerou insegurança por parte da sociedade no compartilhamento de meios de transporte”.
Para o último trimestre, no entanto, o presidente da Fenauto disse que a expectativa dos vendedores de veículos usados é de que a taxa de crescimento seja menor, refletindo mais a realidade do mercado, que até setembro caiu 22% na comparação com o acumulado dos nove meses do ano passado: “Não vamos crescer tanto, mas com estas tendências citadas é possível vender volume suficiente para diminuir as perdas”.
Pode impedir um crescimento maior, apontou Santos, uma eventual queda na venda de veículos novos. Isso porque o desempenho do segmento é considerado catalisador de negócios no ramo de usados. Os cálculos da Fenauto indicam que para cada veículo 0 KM emplacado são negociadas cinco unidades no mercado de seminovos.
O presidente da Fenauto informou, ainda, que de março a setembro houve redução dos pontos de vendas de seminovos no Brasil. Se antes da pandemia a rede era formada por 48,5 mil lojas hoje o número é 10% menor: “Nem todos os lojistas conseguiram ter caixa para manter a operação durante o período em que o comércio ficou fechado”.
As vendas de veículos seminovos e usados avançaram 10,5% em setembro na comparação com agosto, com 1,3 milhão de unidades. As maiores altas foram observadas nas regiões Nordeste, 15%, e Sul, 10,7%, na comparação com agosto, seguidas de Sudeste, 9,9%, Centro-Oeste, 9,5%, e Norte, 2,9%.
Considerando o tempo de uso dos veículos a maior alta nas vendas ocorreu nos chamados usados maduros, com 9 a 12 anos de uso, com avanço de 11,2% em setembro ante agosto.