Da adversidade à diversidade, a receita de sucesso de Mello

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Durcésio Mello e seu mais recente empreendimento: o rótulo próprio de vinhos produzidos em Mendoza (Foto: Fotos: Paulo Bareta)

São Paulo – Durcésio Mello, 60 anos, levou a sério a promessa que fez a si mesmo em 1990, quando sua empresa praticamente quebrou junto com as dificuldades de seu único cliente.
“Jurei que nunca mais colocaria os ovos em uma única cesta”, diz o empresário carioca, lembrando da situação enfrentada quando a Embraer deixou de comprar da Jetstar, na época uma indústria de móveis para aviação executiva e, hoje, representante, no mercado nacional, de 18 fornecedores estrangeiros de peças para aeronaves.
A lição aprendida no primeiro empreendimento foi tão marcante que, após vender até o carro da família para se recuperar, Mello diversificou em tudo: ramos de negócios, público-alvo e preços. Recomeçou em 1995, abrindo quatro franquias de locadora de carros no Estado do Rio de Janeiro e em 2000 estreou como investidor no ramo de restaurantes. Atualmente é sócio de sete casas de várias bandeiras, tipos de comida e preços distintos, dentre eles o Lagoon Gourmet na Lagoa Rodrigo de Freitas, o Victoria, o Pax, o Nanquim e o Mauá, todos na capital fluminense. Ainda na gastronomia, Mello tem parte da cattering Grupo PAX, que fornecerá cerca de 200 mil refeições ao staff, atletas e trabalhadores voluntários da Olimpíada 2016.
Como “dinheiro não é para ficar parado em conta bancária”, Mello está sempre disposto a iniciar uma nova empreitada. “Os restaurantes me levaram aos vinhos”, conta entusiasmado com seu novo negócio: a produção, importação e comercialização no Brasil de seu rótulo, o Don Mello de Uco, produzido em Mendoza (Argentina), na O. Fournier Wine Partner.
Em 2014, ao final de visita à vinícola O. Fournier, no Vale do Uco (Mendoza), guiada pelo próprio dono, Ortega Fournier, Mello comprou uma área de dois hectares em um “clube” de 60 apreciadores de vinho, e cuja adega já foi considerada a quarta melhor do mundo pela revista Forbes.
A iniciativa também se difere das demais em vários aspectos: nasceu como hobby e, para se tornar um investimento, virou uma sociedade com dois jovens empresários: Eduardo Gomes – consultor em gestão esportiva e fundador da Atlas Esportes – e Henrique Lizo – proprietário da transportadora de cargas do Brasil a vizinhos sul-americanos.
Na O. Fournier, os proprietários podem vender sua produção para a vinícola ou produzir seu rótulo próprio. E, ao contrário da maioria dos demais parceiros da vinícola – que encaram o empreendimento como lazer – e antes de colher sua produção, Mello engarrafou uma quantidade razoável de um “gran reserva” de 2009 da O. Fournier, com corte de tempranillo – sua uva predileta -, malbec e syrah; colocou o rótulo “Don Mello de Uco” e começou a comercializar a bebida no Brasil. “Não deu certo, a linha top chegava aqui com preços muito altos, principalmente por causa dos tributos.”
Mas, como diz, Mello, “aí vêm as coisas do destino”. No caso, a convergência de interesses dele com o do empresário Eduardo Gomes, filho de um amigo de infância e também apreciador de vinhos. Outra feliz coincidência foi a parceria com a Easter, que otimizou o faturamento com sua frota trazendo os vinhos de Mendoza para o Brasil em vez de voltar vazia de viagens de transporte de cargas à Argentina. E assim, no final do ano passado, nasceu a Easter Vinhos, que importa, transporta e comercializa o rótulo de Mello. “Eu produzo o vinho, o Henrique transporta e o Eduardo ligou essas duas pontas”, diz Mello.
Os planos são ousados: vender no Brasil 100 mil garrafas ao ano, sem considerar os Gran Reserva e Reserva, cortes mais elaborados e, por isso, mais caros. A aposta agora é nos vinhos mais novos e de entrada no mercado para conquistar o consumo de grande escala, por meio das principais redes de varejo com quem os sócios estão negociando a distribuição. Segundo Mello, o “Don Mello de Uco” Malbec ou Sauvignon Blanc 2014 vai custar para o consumidor final por volta de R$ 55, “valor melhor que o custo dos nossos concorrentes argentinos, como o Catena e Luigi Bosca”.
“Por enquanto vou à vinícola em Mendonza, escolho as uvas com o enólogo e definimos o que vamos engarrafar com o meu rótulo. Mas um dia o ‘Don Mello de Uco’ será totalmente feito com a uva produzida por mim e de minha seleção”, orgulha-se.
A marca registrada do empreendedor Mello, que mescla curiosidade e coragem para diversificar os negócios, também está presente em investimentos que ele admite revelarem seu lado de cidadão consciente, “e, claro, aventureiro”. Além de fazendas na Bahia com reflorestamento de espécies nativas brasileiras – cujas sementes são identificadas com chip implantados nas árvores para facilitar a coleta de sementes -, Mello tem uma fazenda em Botsuana, no sul da África, “para ajudar o mundo a preservar rinocerontes”.
Assim que consolidar o rótulo “Don Mello de Uco”, o empresário tem outros projetos na manga. Um deles é montar um instituto de inclusão social de meninos carentes por meio do futebol. Em parceria com a Harvard, a mais antiga universidade dos EUA, ele e seu sócio na Easter Vinhos, Eduardo Gomes, que também é consultor em gestão esportiva, lançará ainda neste ano uma escola de formação profissional de jogadores de futebol no interior do Rio de Janeiro. Em paralelo, ele se dedica ainda à campanha para ser presidente do Botafogo, outra antiga paixão.
Liliana Lavoratti
Fonte: DCI

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