Mobilidade combinada: uma forma necessária e econômica de mobilidade urbana
As vias de uma cidade (ruas, avenidas, travessas, alamedas) são como um organismo vivo no qual a urbe literalmente pulsa. E, como tal, é preciso de cuidados e muita saúde. Mas o que vemos em nossas metrópoles – até mesmo em polos regionais do interior – é um aumento generalizado do caos no trânsito.
Historicamente, nossas cidades sofrem com a má gestão pública, refletida no já tradicionalmente péssimo transporte coletivo, na má educação de nossos motoristas e, mais recentemente, com o agravamento da especulação imobiliária: o que leva um enorme contingente de carros e de pessoas para bairros e cantos das cidades que antes não sofriam com este mal. Em Belo Horizonte, um bom exemplo disso é o caos diário nas ruas e avenidas (apertadas) do bairro Buritis.
Soluções urgentes se fazem necessárias. Mobilidade urbana é um dos mantras do início deste século: seja pelo aspecto puramente urbanístico, seja pela manutenção do meio-ambiente (que sofre com a ainda excessiva dependência do petróleo e com o lento desenvolvimento de carros elétricos e movidos a hidrogênio). Nesse caos, a locação de carros é um dos elos de uma mobilidade urbana eficiente, junto com outras modalidades de transporte.
“O futuro da mobilidade urbana pode ser sintetizado em duas palavras: ‘mobilidade combinada’. O século 21 é o da ação cooperativa, das soluções compartilhadas”, diz o coordenador executivo do ILATS (Iniciativa latino-americana para o transporte sustentável), Luiz Antônio Cortez Ferreira. Neste sentido, a posse de um carro particular aos poucos vai perdendo o sentido. Em espaços onde a mobilidade urbana é valorizada, a relação com a cidade e com a posse de um carro muda completamente: “A posse perde importância, o que conta é a experiência vivida a cada instante”, complementa Luiz Cortez.
Vamos na ponta do lápis e fazer as contas. Um carro popular, básico, custa (entre impostos, seguro e combustível) algo em torno de R$ 12 mil por ano ao dono só no deslocamento dentro das cidades; ou seja, mil reais por mês se computarmos os gastos de maneira global. Se o usuário fizer a opção pela “mobilidade combinada”, fazendo uso, por exemplo, de seis diárias por mês de veículos alugados (em geral, finais de semana, algo em torno de R$ 90,00 por dia), além fazer uso de transporte público durante a semana (num total de R$ 114,00 em Belo Horizonte por um mês) e mais dez deslocamentos de táxi a R$ 20,00 por corrida, este mesmo usuário desembolsará R$ 854,00 por mês. Uma economia considerável. Além disso, essa redução de custos possibilitará uma redução no número de automóveis nas vias urbanas e consequentemente possibilitará maior fluidez no trânsito.
Mas para esse novo cenário surgir e firmar-se no horizonte da mobilidade urbana, são necessárias mudanças estruturais importantes no transporte público (tornando-o mais atraente ao usuário) e a construção de uma nova mentalidade social, onde as pessoas tenham menos necessidade de ter cada um seu carro zero quilômetro na garagem.
Os modelos de aluguel por hora contribuem muito nesse processo. Mateus Silveira, designer de produto e chefe de Planejamento Estratégico e Inovação da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) acompanha a implantação de um projeto-piloto de car sharing em Recife (PE) promovido pela montadora ítalo-americana. “Além do nosso suporte, conta com modelos como o Fiat 500 que foram cedidos em comodato para o projeto, liderado pelo Porto Digital.” Além desta iniciativa, a FCA participa de um esforço de estudos multidisciplinares com a USP e outras entidades. “Como o tema mobilidade urbana é muito complexo e envolve várias disciplinas, estamos formando uma rede que possa colaborar com novas perspectivas e experiências, enriquecendo o resultado final da pesquisa. Até agora, descobrimos que estudar as cidades no Brasil, um país com dimensões geográficas tão grandes e com realidades tão diferentes em cada região, não é tarefa fácil. O cruzamento das informações permite infinitas avaliações”, afirma Mateus.
Para o coordenador executivo do ILACS, um transporte coletivo atraente ao usuário é a “espinha dorsal” dessa nova mobilidade urbana, “transporte coletivo, não esse como conhecemos hoje, mas um transporte público pensado, implantado e operado para prover a melhor experiência possível aos usuários” e complementa: “acho que o Metrô de São Paulo é o exemplo que mais se aproxima desse novo modelo, especialmente quando conseguir superar a saturação nos horários de pico. Um transporte eficiente, seguro, rápido e confiável, com ambientes estimulantes (as novas estações são lindas) e design elegante. O transporte público terá que ser isso, uma dose diária de cidadania”, conclui Luiz Cortez.
Por Bruno Fabri, da Revista SINDLOC-MG.