Eugênio Mattar, da Localiza: foco no ESG para aprender em tempos raros

O presidente do conselho de administração da locadora de veículos Localiza explica por que a pandemia pode trazer uma oportunidade para empresas investirem na agenda ESG

 

Mattar, da Localiza: “A pandemia mostrou que na vida e no mundo dos negócios temos que nos reinventar constantemente e comprovou que solidariedade e senso de comunidade são fundamentais para podermos seguir em frente”

 

Desde março de 2020, aprendemos a conviver e a encarar os desafios do novo coronavírus. Quem poderia imaginar que 2020 seria uma avalanche de mudanças drásticas no nosso modo de viver, que se estende até os dias atuais? A pandemia mostrou que na vida e no mundo dos negócios temos que nos reinventar constantemente e comprovou que solidariedade e senso de comunidade são fundamentais para podermos seguir em frente.

Para além das questões correntes relacionadas a agendas ambientais e de direitos humanos, a COVID-19 intensificou fortes dores da nossa sociedade gerando consequências duras para a população: o impacto agudo no sistema de saúde; as milhões de pessoas alcançadas pelo sofrimento da doença ou mesmo pelo luto de um parente, amigo ou conhecido; desemprego de aproximadamente 14,2% no Brasil, de acordo com último levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realizado em janeiro de 2021, e 19 milhões de brasileiros passando fome, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, para citar algumas.

Neste cenário, as empresas, além de se voltarem para dentro, diante de seu próprio contexto emergencial e de sustentabilidade com transformação digital de seus negócios e enfrentamento da ruptura das atividades, gestão e caixa, e cuidado com os colaboradores, viram a importância do seu papel no combate da maior crise sanitária do planeta.

A responsabilidade social corporativa foi a protagonista no enfrentamento da covid-19 desde seus primeiros momentos no Brasil. Diversas companhias se empenharam em contribuir para diminuir os impactos da pandemia na saúde das pessoas, no sustento da população e de pequenos negócios, entre diversas outras frentes. Até hoje, de acordo com o Monitor das Doações COVID-19, criado pela Associação Brasileira Captadores de Recursos, foram doados R$ 6,89 bilhões para a causa – um marco histórico.

O que se acentuou e ganhou novas proporções com a crise – marcas solidárias e com propósito – já vinha sendo sinalizado no radar de parte da sociedade e em crescente movimento entre investidores. Com a pandemia, confirmamos que não há mais espaço para empresas que não se posicionem e exerçam seu papel cidadão frente aos desafios da sociedade.

Pesquisa do Barômetro Global COVID-19 da Kantar Ibope, realizada com 500 pessoas de diferentes partes do Brasil no início da crise, já mostrava que 87% dos entrevistados acreditam que as empresas deveriam comunicar seus esforços para enfrentamento da crise. Para o mercado, o cenário não é diferente. Realizado em outubro do ano passado com investidores de todo o globo, estudo do HSBC mostrou que 49% deles acreditam que o investimento em ESG (Environmental, Social and Governance) pode potencializar os resultados das empresas frente aos desafios do mundo que emerge pós-pandemia.

A responsabilidade ambiental, com destaque para o tema mudanças climáticas, continua sendo um assunto relevante para as empresas e sociedade, fator fundamental para a saúde do planeta e a continuidade de muitos negócios. Durante a pandemia, as certificações de carbono cresceram 40%, de acordo com levantamento da consultoria Eccaplan, realizado em parceria com a iTrack. O tema é, inclusive, prioridade da estratégia do Pacto Global da ONU para os anos de 2021 e 2023. Na Localiza, signatária do Pacto, nossa agenda de sustentabilidade avançou e chegamos à neutralização de nossas próprias operações, por exemplo.

Ser uma empresa cidadã, contudo, não é tarefa fácil. A cidadania precisa estar ligada à cultura e DNA, com apoio e patrocínio direto do board das companhias. Por isso, ter uma governança corporativa clara, eficiente, transparente e ética é fundamental. Um estudo muito interessante do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) evidenciou que a dedicação dos conselhos de administração nas empresas aumentou em quase 40% durante a gestão da crise do coronavírus.

Dos 94 conselheiros entrevistados, 85% acreditam que temas de ESG serão priorizados e são o principal legado dessa pandemia. No nosso caso, o Conselho atuou ativamente junto à nossa liderança, impulsionando nossos investimentos e contribuindo para fortalecer ainda mais a boa governança corporativa que é marca da Localiza.

O apoio do Conselho foi fundamental para lançarmos um ambicioso programa de Diversidade e Inclusão, que já reúne uma rede de 500 colaboradores distribuídos em cinco grupos de afinidades: Equidade de gênero, LGBTI+, Migrantes e pessoas em refúgio, Raça e Pessoas com Deficiência, responsáveis por nos ajudar a avançar nesse tema de forma consistente e realista.

Os dados e nossas percepções e vivências, enquanto lideranças, reforçam a importância de que a conexão entre a atuação pautada em valores relevantes para a sociedade contemporânea e o engajamento dos públicos às companhias e suas marcas refletem uma agenda que veio para ficar. Mais do que algo simpático ou simples modismo, agir para promover impactos positivos para a sociedade e para as pessoas exige autenticidade e todo um comprometimento das organizações para assumir seu papel de protagonismo nessa jornada mais sustentável para todos.

Exige uma liderança atenta e conectada com as demandas das pessoas. E nos impulsiona a seguir buscando gerar valor compartilhado a partir de uma visão de que nosso negócio é a mobilidade, e uma mobilidade sustentável. Que é boa para as pessoas, para o planeta e para o negócio.

Fonte: Exame

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