Aluguel de carros cresce no Japão, mas os clientes não estão dirigindo
230 mil japoneses estão alugando carros que jamais são, efetivamente, dirigidos do ponto A ao B. Essa é uma constatação da Orix Auto Corp. uma das grandes empresas do país no ramo da locação de veículos, que deu origem a uma nova observação comportamental da sociedade nipônica: as máquinas se tornaram pontos de descanso, troca de roupas e até o lugar para a realização de tratamentos estéticos pelos cidadãos.
A mesma tendência foi sentida por outras locadoras de carros do país, como a NTT Docomo, Car2go e Maven, que realizaram pesquisas junto às suas bases de clientes sobre a utilização dos veículos, ao notarem que muitos deles eram devolvidos com quase a mesma quilometragem da coleta. A ideia é que, basicamente, eles são dirigidos até algum ponto de estacionamento e, depois, são utilizados para outras atividades. E essa é a realidade de cerca de 15% de seus clientes.
Entre as principais estão a famosa soneca após o almoço ou em meio a compromissos de trabalho ou o consumo de entretenimento por streaming. Os cibercafés, teoricamente, eram os lugares preferidos dos japoneses para isso (dormir, inclusive), mas o aluguel de um carro tem caído de preço no país e representam uma alternativa mais confortável e menos barulhenta, o que propicia também a tomada de aulas de conversação em inglês, canto e até rap. A ideia é fazer isso sozinho e em um local silencioso, de forma a não incomodar outras pessoas que morem na mesma casa, após o horário de expediente.
Outras situações corriqueiras encontradas pela Orix em sua pesquisa envolvem o almoço ou o jantar, com o carro servindo como um local reservado para fazer isso, o retoque de maquiagem, troca de roupas (alguns clientes citaram, inclusive, a intenção de locar um carro no Halloween para trocar o uniforme de trabalho pela fantasia) ou a realização de tratamentos estéticos. O espelho retrovisor, inclusive, seria muito útil para isso.
A baixa nos preços do aluguel de veículos e a mudança nos modelos de negócios das empresas do setor explicam esse movimento. Ao contrário do que acontece no Brasil, os japoneses podem locar carros por períodos curtos e apenas com a intenção de realizar uma única viagem, com os valores variando em torno dos ¥ 400, aproximadamente R$ 14, por 30 minutos de utilização.
A expectativa é que o atual total de 15% aumente ainda mais na medida em que os preços se mantém nessa média ou até mesmo baixem, com a adição de períodos mais curtos. Além disso, a publicação na imprensa das pesquisas realizadas pelos nomes do setor também deve levar mais gente a ter a mesma ideia, aumentando a busca de veículos por qualquer coisa que não seja, efetivamente, dirigir.