Aumenta a disputa por desenvolvedores no país

 

No  “Localiza Labs”, que reúne 700 profissionais (o triplo do que era há dois anos), de desenvolvedores a cientistas de dados, saíram iniciativas na pandemia como um serviço de carro por assinatura.

 

 

“Já havia uma escassez grande desses profissionais antes da pandemia, mas no último ano, com a ampliação do trabalho remoto, a transformação digital das empresas e, diante da alta do dólar, tornando mais barato para empresas de fora contratarem brasileiros, os desenvolvedores estão ainda mais procurados”, avalia Anderson Nielson, diretor de talentos da Resultados Digitais. Esse cenário reforçou a percepção de que atrair e reter esses profissionais é uma “via de mão dupla”, segundo André Petenussi, CTO da Localiza. “Além da empresa escolher os desenvolvedores certos que precisa para sua estratégia, eles também têm que escolher a empresa”.

Os desenvolvedores podem utilizar várias linguagens de programação, e de modo geral são os responsáveis pelos códigos por trás de todos os sistemas eletrônicos de uma empresa – quem garante que os sistemas vão funcionar do jeito que deveriam. Um levantamento realizado pela startup de recrutamento digital, Intera, indica o que essa categoria de profissionais ambiciona – em termos de remuneração, benefícios e carreira. Realizado no início deste ano em âmbito nacional, a Intera ouviu 5.332 mil engenheiros de softwares, desenvolvedores e tech leads – com especialidade back-end (atividades de bastidores em um software, site ou app), de nível júnior, pleno e sênior, além de 50 empresas.

A primeira constatação que chama atenção, segundo Paula Morais, cofundadora da Intera, é a de que há uma diferença entre a expectativa salarial média que os profissionais têm versus quanto ganham dependendo do nível de senioridade. “As faixas júnior e pleno esperam receber menos do que o mercado oferece em média, mas no nível sênior a expectativa salarial está superior ao que o mercado vem oferecendo”. Para vagas de back-end juniores, as empresas oferecem uma média de R$ 4,5 mil a R$ 5,5 mil, enquanto os profissionais possuem uma expectativa de ganhar até R$ 3,6 mil (ver tabela).

No entanto, no âmbito dos profissionais sêniores, enquanto as empresas oferecem salários entre R$ 7,6 mil e R$ 10,8 mil, eles estão buscando valores acima de R$ 12 mil. O maior salário registrado para sênior back-end engineer ficou em R$ 18 mil – sendo que a linguagem técnica exigida para ocupar a vaga era a Java. “Houve um encarecimento da expectativa salarial dos profissionais seniores pelo descompasso entre demanda e oferta. É uma escassez porque formar experientes leva tempo e há uma dança das cadeiras”, afirma Paula.

Embora esta régua salarial não esteja ajustada, a remuneração não é o principal fator que leva os desenvolvedores a mudarem de emprego. “Eles são ambiciosos no quesito de desenvolvimento profissional”, diz Michele Tosta, gerente de recrutamento do iFood, empresa que tem cerca de 300 desenvolvedores. Quase 40% dos profissionais apontaram ter desafios como motivação de troca de emprego e 24% a falta de oportunidades no emprego atual, segundo a pesquisa. “Fazer algo que seja repetitivo e manual não faz sentido para mim. Estou sempre me questionando se o meu trabalho agrega na carreira, qual tipo de problema estou resolvendo”, diz Richard Santana, que em dez anos de carreira passou pelo UOL, Netshoes e ThoughtWorks e hoje trabalha na função sênior em uma fintech. Paula, da Intera, diz que a principal dificuldade das organizações para atrair esses profissionais é “tangibilizar como entregarão esses desafios no dia a dia”.

A Localiza diz que mudou seu jeito de trabalhar há dois anos e um dos principais fatores que a ajudaram a atrair e reter esses profissionais foi o novo modelo operacional. “Até dois anos atrás, éramos organizados por projeto, com times cuidando do sistema A, B e C. Hoje, os times estão em 80 squads e são orientados, não pela tecnologia utilizada, mas pelos desafios do negócio”, diz Petenussi. Do Localiza Labs, que reúne 700 profissionais (o triplo do que era há dois anos), de desenvolvedores a cientistas de dados, saíram iniciativas na pandemia como um serviço de carro por assinatura. O modelo permitiu não só maior agilidade e colaboração, mas que as pessoas acompanhassem a criação de um produto do começo ao fim, percebessem o impacto do trabalho e tivessem a oportunidade de trabalhar com novidades.

“A área de tecnologia evolui muito rápido, se o desenvolvedor não está trabalhando em algo que é a crista da onda, sente que ficará desafado e diminui a empregabilidade. É preciso oferecemos uma combinação de: propósito como emprega, impacto positivo que o trabalho dele gera e o desafio intelectual”, diz Nielson, da Resultados Digitais. O executivo diz isso com a experiência de um gestor, mas também de quem começou como desenvolvedor aos 16 anos. Além de estimular a participação dos desenvolvedores em fóruns e de iniciativas de código aberto, Nielson diz que um dos grandes acertos da RD foi a criação há 18 meses de um programa de mentoria estruturado. “A existência de um ambiente de troca de conhecimentos e experiência é muito valorizada por eles e há muito desenvolver sênior que não quer ser gestor, mas quer ensinar os outros”.

O iFood também fala em um ambiente de autonomia e que reúnam referências técnicas e de pessoas com as quais vão trabalhar. As empresas também ressaltam a necessidade de criar trilhas de carreiras em Y, onde o desenvolvedor que não deseja gerenciar times possa ter claro para onde consegue subir -sem diferença salarial. Do lado dos desenvolvedores, há um pedido por uma estrutura de gestão que tenha metas transparentes, factíveis e que zele pelo bom clima organizacional.

Em termos de benefícios, a pesquisa da Intera indica que os profissionais consideram a assistência médica como um dos três benefícios mais importantes, mas apenas (79%) recebem esse amparo de saúde, 25% apontaram a importância do auxílio educação, porém apenas (18%) podem ter e, por fim, (62%) dos talentos gostariam de receber assistência odontológica.

Paula, da Intera, também lembra que a carreira de desenvolvedor já tinha maior vivência com o home office antes da pandemia, mas que, a partir de agora, a flexibilidade do local de trabalho virou fator para os candidatos. “Vemos nas entrevistas que eles já estão esperando trabalho remoto como pré-condição”. Do lado das empresas, a pesquisa indica que os conhecimentos mais buscados por elas hoje abrangem experiência com a plataforma de nuvem da Amazon (AWS), abordagem arquitetônica no desenvolvimento de software e “Spring Boot”, que facilita o processo de configuração e publicação de aplicações.

 

Fonte: Valor Econômico

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