Com maior oferta de carro, locadoras retomam compras, com preço alto e baixo desconto
No terceiro trimestre, a Localiza – que concluiu a combinação de negócios com a Unidas no período – comprou 97,7 mil carros, ante 38,6 mil um ano antes. Já a Movida adquiriu 27 mil veículos de julho a setembro, ante 25 mil em igual intervalo de 2021. Executivos afirmam que a oferta das montadoras, especialmente de modelos de entrada, está crescendo.
Eles admitem, porém, que os preços dos carros ainda estão elevados e não há perspectiva de arrefecimento, apesar da retração no varejo – o que historicamente favorece as chamadas vendas diretas (para frotistas).
“As entregas pelas montadoras estão avançando, porém ainda existe uma escassez de peças na cadeia automotiva. A previsão é que esse quadro melhore até o final do primeiro semestre de 2023, até lá, ainda teremos problemas com fornecimento”, afirma o conselheiro gestor da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), Paulo Miguel Jr.
O CEO da Movida, Renato Franklin, afirmou ao Broadcast na semana passada que o cenário é positivo para as negociações com montadoras no ano que vem. “Vemos a indústria com mais oferta para 2023, isso significa que vamos comprar com um pouco mais de descontos”, disse o executivo, acrescentando, contudo, que os descontos nas vendas também devem ser “um pouco maiores”.
O CFO da Localiza, Rodrigo Tavares, afirmou nesta quarta-feira a investidores que a oferta de carros de entrada aumentou no terceiro trimestre e, com a nova escala da companhia, a Localiza já está colhendo condições favoráveis nas negociações com as montadoras. “Vamos conseguir renovar nossa frota num momento de aumento da oferta e menor apetite dos nossos competidores.”
O dirigente da Abla afirma, entretanto, que o setor não deve conseguir renovar todo o volume de frota necessário em 2022 para manter a idade média ideal, diante da falta de carros e também pelas condições comerciais desfavoráveis.
“Os descontos para as locadoras ainda não retornaram, os carros continuam caros também para as empresas de locação, ainda mais com as atuais taxas de juros”, diz Miguel Jr.
O analista da Eleven Financial, Pedro Pimenta, aponta que os juros elevados seguem pressionando os resultados das locadoras. “O preço do carro zero continua subindo e os juros altos impactam o poder de compra das empresas”, avalia.
Maior valor agregado
No ano passado, as montadoras optaram por produzir carros de maior valor agregado, em meio à crise na cadeia de suprimentos. Com isso, as locadoras foram obrigadas a comprar veículos bem mais caros, mas também venderam a frota antiga por preços mais altos, elevando de forma significativa a receita de seminovos.
Agora, há uma tendência no mercado de acomodação dos preços dos seminovos, o que deve reduzir a receita das locadoras no segmento. Mas as empresas não vão pagar o mesmo patamar de preços pelos veículos de entrada: um carro “popular” pode chegar a custar cerca de R$ 80 mil.
“Hoje, não temos mais carro básico de R$ 40 mil no mercado, essa é uma incerteza para a redução do preço médio de compra das locadoras, principalmente no caso da Localiza, que tem uma frota muito grande”, diz o analista da Eleven.
Por outro lado, ele pondera que a demanda de locação continua forte e as empresas do setor respondem por cerca de 30% das vendas das montadoras, atualmente.
Com maior oferta de carro, locadoras retomam compras.
“Se os preços dos carros permanecerem elevados, isso fortalece a locação”, acredita. Para o CEO da Movida, a tendência é de aumento de tarifas em todas as linhas de negócios da companhia, do aluguel de curto prazo (RAC) à gestão de frotas (GTF). “O RAC vai continuar subindo preços, GTF também”, afirmou Franklin.
A diretora de RI da Localiza, Nora Lanari, disse a investidores que a companhia está conseguindo repassar preços. “O aumento da tarifa vem acontecendo gradualmente e busca recompor as margens em meio aos custos mais altos dos carros, da manutenção e dos juros elevados.”
No entanto, Tavares admitiu que o espaço para reajustes é limitado. “É claro que existe limite para aumento de preços, não somos imunes ao cenário macroeconômico. Por isso estamos buscando eficiência para manter as margens”, disse.
A esse cenário, o dirigente da Abla acrescenta os custos de manutenção ainda elevados. “Os custos com manutenção continuam altos devido à falta de alguns componentes e insumos no mercado. Diante do cenário de volatilidade do câmbio e de guerra, essa tendência permanece”, afirma Miguel Jr.
Fonte: broadcast.com.br