Locadoras faturam com carros usados e Uber
As maiores locadoras de veículos do país vêm tentando driblar o impacto da recessão sobre a demanda, aumentando a receita com a revenda de carros usados e explorando novos nichos, como o de motoristas que trabalham para o Uber.
A Localiza, líder do setor com frota de 110 mil carros, ampliou em 14,8% a receita entre julho e setembro na comparação anual, para R$ 1,1 bilhão. Mas o lucro avançou apenas 1%, a R$ 103 milhões, e a margem de lucro antes de juros e impostos (margem Ebit) caiu de 41% para 35,4%.
O diretor de finanças e relações com investidores da Localiza, Roberto Mendes, diz que o ambiente econômico adverso este ano tem tornado mais desafiador para a empresa preservar patamares de rentabilidade históricos, mesmo com incrementos de produtividade conseguidos pela empresa.
O analista da Ágora Corretora, do Bradesco, Ricardo França, diz que a Localiza conseguiu ampliar a locação de carros graças à demanda de motoristas de Uber. Segundo ele, esse nicho contratou 7,5 mil carros no terceiro trimestre. Mas esse maior volume veio acompanhado de margens menores – o preço médio da diária nesse segmento é cerca de 10% menor que o valor de balcão, estima o analista.
Renato Franklin, diretor presidente da Movida, segunda maior do país, com 57,6 mil carros, disse que esse novo tipo de demanda é mais um sinal de que “é possível crescer por meio de novos consumidores, sem necessariamente tirar clientes de concorrentes”.
Mas para entrar nesse jogo, a Movida também pagou um preço, com investimentos que afetaram a margem de lucro.
A Movida é a marca que mais cresce desde que o grupo JSL adquiriu a operação, em dezembro 2013. Desde então, a companhia elevou a receita líquida de R$ 92,6 milhões a R$ 1,8 bilhão, abriu 233 lojas e ampliou a frota de 2,4 mil para 57,6 mil carros.
“Ainda temos ganhos de eficiência em custos e em receitas que vão melhorar nossas margens nos próximos trimestre”, disse o diretor financeiro administrativo e de relações com investidores da Movida, Edmar Lopes. “O mercado brasileiro ainda é muito pulverizado. As maiores empresas têm menos de um terço do mercado” apontou.
Entre julho e setembro, a Movida ampliou o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida) em 5,7%, a R$ 70,1 milhões. Mas a margem recuou de 39,2% para 31,8%, justamente por causa dos esforços para ganhar musculatura e enfrentar as concorrentes.
As locadoras também conseguiram manter receita crescente na recessão graças à revenda de carros usados. Na Locamerica, quarta maior do país, com quase 30 mil veículos, o faturamento com a venda de seminovos cresceu 22,5%, para R$ 99,7 milhões. Bem mais que o faturamento com aluguel de carros, que melhorou apenas 5,1%.
Houve migração da demanda do carro zero quilômetro para o seminovo, disse o presidente da Locamerica, Luis Fernando Porto. A rede vendeu 9,3% mais unidades e capturou ganho de 12,1% no preço médio por veículo vendido.
Mas a Locamerica sofreu com o ritmo mais lento da demanda por gestão de frotas – principal área em que atua. As novas contratações assinadas pelos clientes corporativos caiu a 918 acordos entre julho e setembro deste ano, ante 2 mil um ano antes.
No balanço trimestral, a empresa teve lucro líquido de R$ 8 milhões, 84% mais em relação ao período de julho a setembro do ano passado. A receita subiu 13%, a R$ 201,7 milhões.
O presidente da Unidas, Pedro de Almeida, classifica o momento da economia brasileira como “desafiador”. Uma conjuntura que demanda ganhos de eficiência e novos canais de venda. “A parceria com a Nissan nos Jogos Olímpicos ajudou as vendas no terceiro trimestre”, disse o executivo, sobre o acordo por meio do qual a montadora e a locadora forneceram a frota para o evento esportivo no Rio de Janeiro. A Unidas é terceira maior do país com frota de 46 mil carros.
No terceiro trimestre, a Unidas teve lucro líquido de R$ 14,2 milhões, crescimento de 18,1% sobre 2015. A receita líquida consolidada cresceu 18,5% em igual comparação, a R$ 334,5 milhões. No período, a rede teve avanço de 29,1% no número de diárias, mas queda na tarifa média em 9,8%.
Fonte: Valor Econômico – Impresso