Marca Unidas terá que ser vendida após negociação com a Localiza, decide Cade

Parte da frota das duas empresas também terá que ser vendida, para assegurar concorrência, determina órgão antitruste

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou com restrições o acordo de fusão entre Unidas e Localiza nesta quarta-feira. Uma das medidas acordadas entre as empresas e o órgão para mitigar o impacto na concorrência do mercado foi a venda da marca Unidas.

A notícia foi bem recebida pelo mercado. As ações da Unidas (LCAM3) subiram 4,43%, e as da Localiza (RENT3) avançaram 3,13%.

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Na avaliação dos conselheiros do Cade, a aprovação sem restrições seria impossível pelo impacto negativo que a operação poderia acarretar para o mercado de locação de veículos e de gerenciamento de frotas.

Com isso, o Cade negociou com a Localiza e a Unidas para que elas se comprometessem com algumas restrições, como um desinvestimento “significativo” na frota de veículos, como classificou a relatora do caso, conselheira Lenisa Prado.

Esses compromissos são ainda maiores dos negociados pela Superintendência-Geral (SG) do Cade em parecer de setembro. Naquela época, as empresas já haviam concordado na diminuição da frota e agências e municípios em algumas cidades cidades e aeroportos que tem sobreposição de atuação das duas empresas.

— Entendemos após a instrução que realmente os remédios negociados com a SG não atendem à finalidade proposta e chegando aqui no tribunal passamos a uma nova rodada de negociação. Principalmente identificamos que mesmo após os remédios isso sugeridos ainda haveria um HHI (nível de concentração) muito preocupante em alguns municípios — disse a relatora.

Com isso, a proposta final do Ato de Controle de Concentrações (ACC) é mais dura com a operação.

Além da venda da marca Unidas e da venda de frotas, a Localiza se comprometeu a não comprar ou participar de outras operações no mercado de aluguéis de carros pelos próximos três anos e de avisar ao Cade em caso de novas operações pelo prazo de dois anos após esse triênio.

Sócia da MB Associados e especialista no segmento automotivo, Tereza Fernandez ressalta que com a fusão a Localiza passa a ter 50% do mercado do qual já era líder. A principal concorrente da companhia passa a ser a Movida, que segundo a analista tem uma participação consideravelmente menor no mercado.

Por volta das 16h30, as ações da Movida (MOVI3) caíam 0,38%.

A Localiza tem uma frota total de 273 mil veículos, segundo o balanço da companhia do terceiro trimestre deste ano, além de 620 agências espalhadas pelo país. Já a Movida tem uma frota de 168 mil carros e 171 lojas.

— Se a operação se concretizar, a Localiza terá um poder enorme nessa área de locação. Por ser a maior empresa do setor, ela poderá definir o ritmo do mercado, subindo ou baixando os preços dependendo da região. Além disso, por ser muito maior que as concorrentes, terá mais condições de captar dinheiro — avalia Tereza.

Mesmo com as medidas para reduzir o impacto na concorrência, a especialista acredita que em três anos a companhia pode deter uma fatia maior que 50% do mercado de locação de veículos.

— Mas é preciso esperar para ver para onde o mercado anda, porque tem algumas montadoras entrando no segmento de aluguel, todo mundo está se mexendo — ressalta.

Localiza não pode criar obstáculos

A Localiza também não deverá criar obstáculos para o comprador da Unidas em seu relacionamento com as montadoras de veículos.

— O remédio que foi negociado aqui é mais do que o suficiente para criar um concorrente efetivo nesse mercado — afirmou a relatora.

A relatora foi acompanhada pelo conselheiro Luiz Hoffmann e pelo presidente do órgão, Alexandre Cordeiro Macedo. Divergiram a conselheira Paula Azevedo e o conselheiro Sérgio Ravagnani.

A conselheira Paula Azevedo abriu a divergência em voto contra a aprovação da operação. Segundo ela, os remédios não eram suficientes para mitigar os impactos negativos para a concorrência no mercado e se caracterizaria como uma operação “merge to monopoly” ou “fusão em direção ao monopólio”.

Poder de mercado

Segundo ela, a possível entrada de novas empresas no mercado não seria suficiente para substituir a competitividade entre as duas maiores empresas. Por conta do poder de mercado que elas teriam.

— A opção pela reprovação é necessária neste caso e eventual obstrução ao negócio objetivado pelas requerentes é solidamente justificável. Para assegurar o ambiente econômico competitivo — afirmou.

Em fato relevante publicado pelas empresas ao mercado, elas ressaltaram que o fechamento da operação ainda não aconteceu. E depende ainda da aprovação pelo Cade do comprador dos ativos que deverão ser vendidos pelo acordo.

“As Companhias informam que estão em processo de negociação com potenciais interessados e que permanecerão operando com autonomia e independência até o fechamento da operação”, apontam.

Em nota, a Localiza informou que a empresa “nascerá” em um cenário de alta demanda no setor e ressaltou que estará pronta para continuar crescendo.

“A operação resultará na criação de uma plataforma de mobilidade. Irá oferecer soluções inovadoras que garantam maior acesso à locação de carros à população e a empresas. Além de proporcionar melhor experiência, comodidade e conveniência aos clientes”, apontou.

Marca Unidas

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