Uber movimenta o mercado de aluguel de carros
Para rodar pela Uber, o motorista não precisa ter carro próprio. A possibilidade tem chamado a atenção de algumas locadoras de automóveis e até de pessoas físicas com carros disponíveis.
Algumas empresas até fecharam parceria com a plataforma para dar descontos aos motoristas. Duas delas, a Localiza e a Movida, relataram aumento na demanda por carros em Salvador para a prestação do serviço.
Na Localiza, o aluguel mensal é de R$ 1.599 para um carro de modelo mais econômico 1.0 com ar-condicionado e direção hidráulica. Com as mesmas especificações, o HB20 hatch (Hyundai) tem aluguel de R$ 1.560 na Movida.
E não são só empresas que têm se beneficiado. A funcionária pública Cristiane Rosa, 43 anos, alugou o próprio veículo por R$ 1.500 por mês para um amigo rodar pela Uber. “É uma renda extra. O carro não faz falta porque temos outro carro na residência e me desloco muito com a Uber”.
A proibição em Salvador tem impedido um movimento maior no mercado de locação de automóveis. As locadoras Avic Rent a Car e Speed Way, por exemplo, se negam a alugar para motoristas da Uber. “A gente não sabe no que vai dar. Nosso carro pode ser apreendido ou até apedrejado por taxistas”, diz Caíque Matos, dono da Avic.
Diferentemente de Sinho e Erivan, a veterinária Gabriela Aquilino, 30, não está satisfeita com o que ganha pelo aplicativo. Ela estuda para concurso e usa o período da manhã para rodar como motorista. “Cheguei a tirar quase R$ 2.500 no primeiro mês, mas agora só consigo até R$ 200 por semana”. A queda foi pela retirada do incentivo da Uber para motoristas em Salvador. Quando chegou à cidade, a plataforma pagava taxa maior que a padrão para atrair profissionais.
Ainda assim, a Uber segue conquistando novos motoristas na cidade, o que tem aumentado a competição por passageiros. “A frequência de chamadas está muito ruim. Antes, não conseguia parar para beber água”, diz Gabriela, que já pensa em deixar a plataforma. “Para mim é muito puxado. Meu foco não é ser motorista da Uber”.
O empresário Eduardo Trindade, 38, também não enxerga o aplicativo como um trabalho fixo. Dono de uma loja de aluguel de máquinas, ele tem sofrido com a crise, por isso migrou para a Uber. “Se a crise passar, vou ficar apenas no aluguel de máquinas”. Até lá, ele segue trabalhando como motorista cerca de 10 horas por dia para tirar R$ 4 mil por mês. Segundo ele, essa quantia tem melhorado desde que a Uber liberou clientes para pagar em dinheiro em Salvador, no início do mês.
Com receio
Um medo comum aos motoristas baianos da Uber é a proibição do serviço na cidade. No início de junho, o prefeito ACM Neto sancionou lei que determina multa de R$ 2,5 mil para motoristas clandestinos e de R$ 5 mil a partir da segunda notificação, além de apreensão do veículo. Questionada por A TARDE sobre essa insegurança dos usuários do aplicativo, a Uber afirma que não concorda com as apreensões e que “a Justiça brasileira já confirmou diversas vezes que a atividade da Uber é legal no Brasil”.
Erivan acredita na ajuda da empresa. “A Uber cobre o prejuízo e está apta a nos socorrer”, afirma o analista de sistemas. Já Eduardo segue com receio: “O medo sempre vai existir. O carro é um patrimônio meu que a prefeitura pode vir e apreender”. Ele ainda tem medo da ofensiva dos taxistas. Motoristas baianos têm relatado emboscadas como forma de amedrontá-los. Em nota, a Uber afirma que orienta os motoristas a registar boletim de ocorrência nesses casos.
Na contramão do movimento dos colegas, um taxista de 54 anos que não quis se identificar relatou que para cada dia que sai com o táxi, sai um com outro carro para rodar pela Uber. “Fazia em média 100 viagens por mês com o táxi. Agora, são cerca de 70. Hoje em dia, está bem melhor na Uber”. Ele diz tirar em média R$ 1 mil por semana pelo aplicativo, trabalhando três dias.
Por Renato Alban, do Jornal A Tarde.