Assinatura de carro cresceu mais do que locação

Assinatura de carro cresceu quase dez vezes mais do que locação, diz Abla. Números da associação das locadoras de automóveis revelam que assinatura subiu 31,2%, em 2023, ante alta de 3,83% no aluguel tradicional.

Atualmente a assinatura representa 10,45% da frota das associadas à Abla, mas os números têm aumentado.

O segmento de assinatura cresceu quase dez vezes mais do que o de locação tradicional, neste ano, em relação ao ano passado. De acordo com Marco Aurélio Nazaré, presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), enquanto a locação de curto prazo (que envolve cobranças de diárias) cresceu 3,83% e os contratos de terceirização de frota tiveram elevação de 3,78% no número de carros, a modalidade de assinaturas deu um salto de 31,2% de 2022 para este ano.

Números divulgados pela associação revelam que, dos 80 mil contratos celebrados, em 2020, pelas associadas à Abla, o volume dobrou em três anos.

Estimativas da entidade de classe projetam 160 mil contratos de assinatura para este ano. Segundo o presidente da associação, a assinatura é uma tendência que deve continuar em ascensão.

Fórum das Locadoras 2023. Locadoras fecharão 2023 com 1,56 milhão de veículos. Projeção foi divulgada na abertura do 18° do Fórum...“Quando cresce a base, manter o percentual de crescimento é complicado, mas vamos passar dos 200
mil carros em 2024”, afirma. “Posso garantir que vamos continuar crescendo na mesma velocidade que temos crescido nos anos anteriores.” Aurélio Nazaré diz que a adoção da assinatura “só tende a crescer”, e a se disseminar “até chegar às pessoas que ainda não pensam assim”.

 

Pelos cálculos do executivo, atualmente a assinatura representa 10,45% da frota das associadas à Abla, número que pode chegar a cerca de 12%, no curto prazo – a depender das condições da economia e de uma mudança cultural do público. “Culturalmente, o brasileiro considerava carro um investimento. Mas, se você paga R$ 100 mil por um carro e após três anos ele vale R$ 60 mil, isso não é investimento”, diz.

Ele sustenta o argumento mesmo diante da forte valorização dos carros usados durante a pandemia,
motivada pela falta de veículos novos.

Com a escassez de componentes, a produção mundial caiu drasticamente, o que resultou em elevação nos preços, agravada pela inflação. “Com inflação alta, as pessoas compravam por R$ 100 mil e vendiam por R$ 120 mil, mas se esqueciam de que, para comprar o novo, tinham de pagar R$ 200 mil. Achavam que estavam ganhando dinheiro, mas não estavam”, garante.

A conclusão, em sua análise, é a de que as pessoas “passaram a ver o carro não mais como investimento, mas como despesa”. A assinatura, segundo ele, “é tendência mundial, e não tem volta”. Uma das razões que explicam o grande salto de 110 mil contratos de assinatura em 2022 para 160 mil neste ano, de acordo com ele, é o fato de que, em 2023, as locadoras passaram a ter maior disponibilidade de carros por parte das montadoras, que, aos poucos, normalizaram a produção, após a grave crise de componentes (especialmente semicondutores), que paralisou fábricas do mundo todo em 2022.

Outro ponto que tem favorecido a adoção da assinatura, em sua opinião, é o “custo do dinheiro”, que tem encarecido ou até mesmo inviabilizado o financiamento, por causa dos juros altos.

“As pessoas começaram a fazer as contas”, diz. O executivo ressalta, no entanto, que a alta de preços também afeta e limita o crescimento da assinatura. “Para crescer, a assinatura depende do poder aquisitivo [do cliente].”

De acordo com o presidente da Abla, em 2021 os carros de entrada custavam entre 50% e 60% do que custam hoje. Por isso, quando chegava o momento de renovar o contrato, “a mensalidade não se enquadrava mais na capacidade de orçamento [do cliente]”, o que motivou muita gente a desistir, ao menos momentaneamente, da modalidade.

Ainda assim, por outro lado, Aurélio Nazaré diz que as montadoras entraram no negócio “de forma
bem agressiva”. Atualmente, a maioria das marcas oferece o programa. “Ao cliente que vai à concessionária, se não se enquadra na aprovação do crédito ou nas condições do financiamento, a concessionária acaba oferecendo o contrato por assinatura.”

Segundo ciclo

Segundo Aurélio Nazaré, quando a assinatura foi criada, o objetivo era o de entregar carro zero-km. Porém, com a necessidade de “ajustes” na modalidade, as empresas passaram a adotar contratos que ele chama de “segundo ciclo”, ou seja, de um segundo ou até mesmo terceiro contrato de assinatura, com o veículo seminovo. “Nessa fase, o carro já teve depreciação, já rendeu boa receita no primeiro período. Em vez de vendê-lo, ele pode ser utilizado em um segundo ciclo pelo cliente de menor poder aquisitivo”, afirma.

Isso é possível, em sua avaliação, pelo fato de que, em geral, carro por assinatura roda pouco. Além de atender o público de menor poder aquisitivo, a assinatura de segundo ciclo pode ser uma solução para veículos de nicho, como os elétricos. Na Movida, por exemplo, um Fiat 500e seminovo tem mensalidade de R$ 6.569,40, no plano de 48 meses, e com franquia de 1.000 quilômetros por mês.

Para aumentar a atratividade para a modalidade, o executivo diz que a tendência é de as empresas
passarem a incorporar benefícios aos contratos de assinatura, incluindo serviços como assistência
residencial, por exemplo.

 

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