Crescem dúvidas sobre fusão Localiza e Unidas diante de ‘remédios amargos’ do Cade

A análise da fusão entre Localiza e Unidas no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pode ganhar, em breve, novo capítulo.

 

A Superintendência-Geral (SG) da autarquia deve emitir opinião sobre o caso, por meio de nota técnica, nas próximas semanas, apurou o Broadcast. Enquanto isso, nos bastidores surgem divergências sobre prováveis exigências do Cade para aprovar a operação – os chamados remédios – que, segundo fontes, podem acabar sendo “amargos demais”. Paralelamente, a recomendação de reprovação não está descartada, diante da complexidade do caso.

Parte interessada no processo, a Movida apresentou nota técnica para a SG no domingo, afirmando que “mesmo antes da aprovação do Cade, parece estar se materializando o efeito que se espera com a fusão, com prejuízos relevantes para o consumidor”. No documento, representantes da Movida relatam que “é a primeira vez em cinco anos que se observa uma reversão da tendência de queda de preços nesse mercado, escancarando o dano que a operação pode causar à livre concorrência” no mercado de aluguel (rent a car, ou RAC).

A nota técnica alega que a tendência no setor resulta de medidas adotadas por Localiza e Unidas, notadamente na dinâmica de compra e venda de veículos, que acabam impactando tarifas e até preços de contratos na gestão de frotas (GTF). O documento sugere ainda que as duas empresas reduziram a rivalidade entre si nas práticas de mercado, o que também contribui para o quadro de aumento de preços ao consumidor.

Concentração

No dia 19 de maio, em despacho, a SG afirmou que a instrução realizada até o momento apontava que a operação “resulta em concentrações elevadas nos mercados de aluguel de veículos e de gestão de frotas no âmbito nacional” e que haveria “redução no número de concorrentes com atuação nacional de três para apenas dois, que deteriam conjuntamente, no mínimo, 60% a 70% de participação de mercado“.

A expectativa é que a aprovação da fusão só aconteça mediante remédios, e isso estaria causando divergências na cúpula das empresas. Uma das hipóteses prováveis é que o Cade exija a venda do negócio de RAC pela Unidas ou mesmo a venda da marca, o que gerou bastante desconforto na companhia, conforme apurou a reportagem. Neste cenário, já há interessados, porém, para alguns membros da diretoria da Unidas – incluindo o CEO, Luis Fernando Porto, – a solução não faria sentido.

Do lado da Localiza, há também descontentamento no avanço agressivo da Unidas na terceirização de frotas no setor público, negócio que a Localiza prefere ter pouca atuação. Com a fusão, provavelmente a estratégia no segmento deve ser rediscutida – ainda mais em um cenário hipotético de maior dependência do GTF, se houver a necessidade de venda do negócio de rent a car da Unidas.

Fusão tem potencial de criar gigante do setor

A combinação dos negócios da Localiza e da Unidas, no fim do ano passado, previa uma nova gigante da locação de veículos, com valor de mercado aproximado de R$ 50 bilhões. De lá para cá, a expectativa sobre a união foi incorporada aos preços dos papéis, que também foram impulsionados pelos resultados excepcionais das três maiores locadoras do País no primeiro semestre. A Localiza já vale, sozinha, mais de R$ 46 bilhões (conforme fechamento do mercado de terça-feira). Na sexta, após divulgação de balanço, a companhia ultrapassou R$ 50 bilhões em valor de mercado. Unidas vale atualmente cerca de R$ 14 bilhões.

Caso a união não vá para frente, os papéis das empresas podem sofrer forte impacto. “O mercado está precificando na Unidas o mesmo nível de eficiência financeira da Localiza. Se a fusão for reprovada, as ações da Unidas vão derreter, porque boa parte da fusão já foi incorporada aos papéis”, afirma um analista de banco que cobre o setor.

Conforme apurou o Broadcast, a operação tem sido avaliada com extrema cautela pelo Cade, por se tratar de um caso de grande relevância.

O momento também é de transição no órgão. Em julho, tomou posse o novo presidente da autarquia, Alexandre Cordeiro, que já foi conselheiro e superintendente-geral do Cade. A vaga de conselheiro deixada por ele segue em aberto.

O futuro integrante do órgão pode fazer a diferença no julgamento do caso, uma vez que o colegiado tem se mostrado “dividido” nas decisões. Em todos os cenários, porém, espera-se no mínimo que o Cade exija remédios “duros” para a fusão. “A recomendação da SG para reprovar a operação não está descartada e arrisco dizer que é até esperada”, afirma uma pessoa que acompanha o processo.

Procurada, a Localiza disse, por meio de nota, que a “companhia, seguindo suas reconhecidas práticas de governança corporativa e transparência, informa que apresentou ao Cade informações sobre o negócio e estudos sobre a dinâmica do setor. Eventuais esclarecimentos sobre a operação estão sendo discutidos com a autarquia”. A Unidas informou que não se manifestará sobre os temas. A Movida não irá comentar sobre a nota técnica.

Fonte: Estadão – Blogs

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