Locadoras terminam o ano com ocupação acima de 80%
Consumidor optou por transporte individual na pandemia e crescimento do comércio eletrônico ajudou segmento de terceirização de frotas
Recorde foi uma palavra frequente nos balanços das principais locadoras de automóveis em 2020. Localiza, Unidas e Movida, as maiores do setor, se recuperaram do impacto inicial da pandemia no segundo trimestre, com o aumento na demanda pela locação de veículos. Consumidores em busca de uma opção mais segura ao transporte coletivo ou que fizeram viagens curtas de lazer, evitando o transporte aéreo, colaboraram para taxas de ocupação acima de 84% no aluguel no fim do ano.
“Boa parte dos recordes se deve à grande taxa de utilização da frota e aos valores de diárias, que aumentaram no passado”, disse Paulo Miguel Jr., presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla).
No quarto trimestre, a receita líquida da Localiza com aluguel de carros avançou 12,1% em relação ao mesmo período de 2019, para mais de R$ 1 bilhão. No mesmo período, a Unidas viu a receita crescer 8,1%, para R$ 284,5 milhões, enquanto na Movida o avanço foi de 9,5% para 359 R$ milhões.
O ritmo mais lento de produção das montadoras de automóveis, como reflexo da pandemia, engessou as vendas de seminovos em algumas empresas. Entretanto, o aumento dos preços de usados, refletindo a escassez do mercado, equilibrou os números. A Unidas registrou uma receita R$ 964,5 milhões em vendas de veículos no fim de 2020, 48% acima do alcançado no quarto trimestre de 2019.
Sem carros novos e com alta demanda de locação, Movida e Localiza seguraram as vendas de seminovos. “Nosso negócio é alugar carros e não vender”, disse Nora Lanari, diretora de relações com investidores da empresa em teleconferência com analistas na sexta-feira.
Mesmo com a supervalorização da categoria, que levou a um reajuste de 25% no preço médio dos carros da Movida para R$ 50,1 mil, por exemplo, a empresa registrou receita líquida de R$ 490 milhões, queda de 9,7% na comparação com os últimos três meses de 2019. A receita da Localiza caiu 10,9% no período para R$ 1,6 bilhão
As empresas disseram que poderiam ter vendido mais, não fosse a escassez de automóveis. A Abla prevê que o setor fique engessado até o fim do primeiro semestre. Já as locadoras estão mais otimistas e contam com a normalização das entregas entre abril e maio.
Miguel Jr. destaca ainda o aumento de receita na gestão e terceirização de frotas, impulsionada pelo segmento de logística para entregas de compras on-line. No quarto trimestre, a Localiza registrou alta de 7,7% na receita líquida do segmento, para 241 milhões, em relação ao mesmo período de 2019. Na mesma base comparativa, a Unidas registrou alta de 17,78% e recorde de receita líquida para R$ 366 milhões. A Movida avançou 9,9% para R$ 141 milhões.
O modelo de assinaturas de veículos também se destacou nos negócios das locadoras em 2020. Luiz Fernando Porto, presidente da Unidas, disse que o segmento “cresceu brutalmente” no ano passado e que será bastante concorrido. Entre os rivais estão as próprias montadoras como Renault, Fiat Chrysler, Toyota e Volkswagen, que já oferecem assinaturas no Brasil.
A disputa no segmento de assinaturas pode ser um ponto pode ser um ponto positivo na análise do Cade sobre a fusão da Localiza com a Unidas. Em fevereiro, as empresas, que detêm os dois primeiros lugares em participação de mercado, submeteram a proposta ao órgão antitruste, que tem até 240 dias para fazer sua análise.
Acompanhar a proposta de fusão com a Unidas continua na agenda de Eugênio Mattar, que deixa a presidência da Localiza em abril e segue à frente do conselho. O comando da empresa que ajudou a fundar em 1973 passa para Bruno Lasansky, diretor de operações. “É um processo que estava para acontecer e um projeto bem planejado, sem surpresas, bem no estilo da Localiza”, disse Mattar.
Por Daniela Braun
Fonte: Valor