Máquinas e equipamentos agrícolas: retomada das vendas

Máquinas e equipamentos agrícolas. A Unidas registrou crescimento expressivo na operação de aluguel de equipamentos para o agronegócio, devido as dificuldades de financiamento para compra direta de máquinas agrícolas 

 

Aumento de área plantada, preços de commodities em patamares recordes e juros baixos. Esses foram os quesitos que responderam pela escalada de crescimento da venda de máquinas e equipamentos agrícolas no país nos últimos quatro anos. Essa trajetória de alta, no entanto, foi bruscamente interrompida. A partir de outubro de 2022 devido ao aumento da taxa de juros Selic. Como também com o consequente esgotamento das linhas de crédito e queda de preços das mercadorias agrícolas. De janeiro a maio, as receitas com vendas de máquinas agrícolas caíram 19,5%.

Mas a expectativa do setor é que o movimento seja revertido, ao menos em parte.

“Com o lançamento do Plano Safra 2023/24, que consideramos adequado, a tendência é que as vendas melhorem, embora não consigamos recuperar a queda do primeiro semestre, e deveremos fechar o ano negativo entre 5% e 10%”, avalia Pedro Estevão Bastos de Oliveira, presidente da câmara setorial de máquinas e implementos agrícolas da Associação Brasileira de Máquinas (Abimaq).

“Há boas expectativas com a alta de 28% nos recursos do Plano Safra 2023/24”, concorda Alexandre Bernardes, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). “Indústria e produtores agrícolas estão animados com a possibilidade de voltarem a ter juros baixos para a compra de equipamentos. E também com o apoio ao desenvolvimento de tratores de baixa potência, fabricados no país, permeando todos os segmentos do agro, grandes e pequenos agricultores.”

Para Rafael Miotto, presidente da CNH Industrial para a América Latina, multinacional italiana que atua na fabricação de equipamentos agrícolas (colheitadeiras e tratores), o plano safra, num primeiro momento, traz previsibilidade para a oferta de financiamento ao agronegócio. Algo muito positivo, depois de um período desafiador e algumas incertezas. “A taxa de juros restringe um pouco os investimentos”, diz ele. “Em linhas gerais, para investir, o agricultor precisa de previsibilidade, que passa segurança, e acesso favorável ao crédito, com juros mais atrativos”, afirma.

A Jacto, multinacional brasileira de máquinas, soluções e serviços agrícolas, também espera um ano bom em 2023.

“Embora menor do que nos dois últimos anos, que foram excelentes em termos de rentabilidade para o produtor rural”, destaca Wanderson Tosta, diretor de marketing. “O Plano Safra trouxe avanços do ponto de vista de valores e tende a estimular os agricultores a fazer uma boa safra”, diz. “No entanto, a taxa de juros, que se mantém alta, somada à queda no preço das commodities, ainda tem deixado os produtores receosos em investir em novos equipamentos”, destaca.

Apesar dos fatores inibidores, os fabricantes apostam nos novos atrativos tecnológicos de seus equipamentos.

Segundo a Abimaq, a demanda por novidades tecnológicas se concentra muito nas chamadas culturas de exportação – soja, milho, cana, algodão, café e celulose –. Em especial soja, milho e cana, que representam 60% do mercado de máquinas agrícolas.

“As inovações tecnológicas estão indo na direção da chamada agricultura digital, mais especificamente em máquinas para automação das operações agrícolas”, diz Oliveira. “As máquinas têm sensores com capacidade de ler o meio ambiente, ou um banco de dados, e tomar decisões autônomas para condições específicas no momento da operação”, explica.

A nova fronteira do agronegócio mundial passa pela intensificação do uso de automação, visão computacional e inteligência artificial, diz Alfredo Miguel Neto, diretor de assuntos corporativos da John Deere para a América Latina.

Segundo ele, a empresa investe no desenvolvimento do setor, trazendo inovações em equipamentos e soluções tecnológicas. São cada vez mais importantes para que o agricultor consiga obter a máxima produtividade de sua lavoura. Consequentemente com redução de custos e sustentabilidade. “Com um investimento diário US$ 13,7 milhões em pesquisa e desenvolvimento ao redor do mundo, a John Deere oferece um ecossistema conectado entre todas as soluções já presentes nos produtos e em utilização no campo, visando potencializar a capacidade humana”, afirma.

Os resultados desses investimentos aparecem no campo, diz Miguel Neto.

“A colhedora de cana CH950, desenvolvida especificamente para o mercado brasileiro, diminui em 50% as perdas por estilhaço (cerca de 3 toneladas por hectare) e em 60% a área compactada. Além de reduzir em 28% a necessidade de tratores transbordos”, ressalta.

A CNH Industrial atua com três fábricas de máquinas agrícolas, em Curitiba (PR), Piracicaba (SP) e Sorocaba (SP), com produtos e soluções das marcas Case IH e New Holland Agriculture. Segundo Miotto, a conectividade já é uma realidade na linha de máquinas. Contam com tecnologia embarcada, ferramentas digitais, operações remotas e monitoramento em tempo real.

A empresa fabrica um dos primeiros tratores do mundo movido a biometano.

“São soluções que melhoram as diferentes etapas do cultivo, reduzem o uso de fertilizantes, diminuem os custos e impactos no meio ambiente, reduzem o custo operacional e aumentam a produtividade”, diz.

Nos últimos anos, segundo o executivo, a Case IH teve praticamente 90% do seu portfólio renovado. São máquinas conectadas em condições de antecipar manutenções e evitar que os equipamentos fiquem parados. Um dos grandes destaques é a colhedora de cana-de-açúcar da linha Austof Série 9000. É  fruto de um investimento de cerca de R$ 100 milhões, desenvolvida na planta de Piracicaba. É considerado um centro mundial de pesquisa em soluções para a colheita de cana.

Na New Holland Agriculture, a principal atração é a colheitadeira CR Intellisense, dotada de inteligência artificial.

“É uma máquina com novo conceito de colheita, que ajuda a aumentar a eficiência das lavouras”, afirma Miotto. “Com o novo equipamento, o produtor consegue escolher entre diferentes estratégias de colheita. Sempre de acordo com a condição da lavoura e o objetivo que pretende atingir. A máquina faz regulagens automáticas, o que aumenta a eficiência e a produtividade em tempo real”, assinala.

Atualmente com fábricas no Brasil, Argentina e Tailândia, a Jacto, sediada na cidade de Pompeia (SP), também investe em produtos de alta tecnologia, de acordo com Tosta. Conta ainda com centros de distribuição no México e Estados Unidos. São equipamentos para poda e pulverizadores portáteis, máquinas de grande porte para pulverização, adubação, plantio, colheita de café e cana-de-açúcar. Para aperfeiçoar a disponibilidade das máquinas em campo, a empresa trabalha com um conceito tecnológico que possibilita o acesso e diagnóstico remoto aos sistemas com eletrônica embarcada das máquinas agrícolas. “Investimos pesado em soluções e serviços para a agricultura de precisão digital e agricultura digital, propiciando uma produção cada vez mais sustentável”, comenta o diretor da Jacto. No ano passado, a empresa teve um faturamento em torno de R$ 4 bilhões.

As dificuldades de financiamento para compra direta de máquinas agrícolas abrem espaço para a aquisição de equipamentos em novas condições de negócios.

Uma das maiores locadoras de máquinas e equipamentos pesados do país, a Unidas registrou crescimento expressivo  na operação de equipamentos para aluguel no agronegócio, nos últimos anos, informa Manuel Silva, diretor-executivo comercial da empresa. “Foram mais de 500 equipamentos locados para os produtores do setor, um aumento de 40%”, indica.

A modalidade de consórcio de máquinas e equipamentos ganhou, igualmente, adesão das empresas agrícolas. Um dos motivos é que no consórcio não existe incidência de juros e Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Além de oferecer o poder de compra à vista do ativo. “No momento, pelo menos 5% de nossa receita de todas as nossas operações (cerca de R$ 7,8 bilhões em 2022) provém da modalidade de consórcio de máquinas e equipamentos agrícolas”. Afirma Luis Toscano, vice-presidente de negócios da Embracon, uma das principais empresas especializadas em consórcios de automóveis, motos e veículos pesados do país. “Nossa expectativa é um crescimento de 6% este ano, com uma estimativa de R$ 10 bilhões de faturamento total”, diz ele.

A preocupação dos produtores rurais com a proteção de seus ativos incrementa, no final de tudo, a busca por tecnologias e coberturas que contemplem o uso dos equipamentos nas lavouras. Só nos quatro primeiros meses de 2023, a japonesa Sompo Seguros, por exemplo, atingiu R$ 141 milhões em prêmios de seguros voltados ao campo. Destaca Felipe Prado Ribeiro, diretor técnico da seguradora.

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