Mottu levanta R$ 250mi
A locadora de motos Mottu acaba de fechar uma captação de US$ 50 milhões (cerca de R$ 250 milhões). A rodada foi liderada pela americana QED, que já investiu em brasileiras como Nubank, Creditas e QuintoAndar, e pela Bicycle, marcando o primeiro aporte da gestora criada por Marcelo Claure, ex-Softbank, em sociedade com o fundo árabe Mubadala.
Ambas são novatas no cap table da startup, que atua também como marketplace de logística de última milha para delivery.
Endeavor Catalyst e a Caravela acompanharam, num valuation acima da rodada anterior, feita em junho do ano passado – quando houve também uma tranche de dívida.
O capital de 2022 deu combustível para a Mottu chegar às atuais 48 mil motos alugadas no Brasil e México e os novos recursos vão ajudar a levar as motos verde e preta para outras geografias, aumentar o investimento em eficiência operacional e atrair um novo perfil de cliente.
A companhia também começou a atrair quem quer trocar o transporte público pela moto alugada para ir e voltar do trabalho. Até agora a companhia era voltada para o cliente que tem a moto como ofício – aquele que roda até 200 km por dia em entregas de aplicativo em municípios como São Paulo, Rio ou Cidade do México, ou como moto táxi em cidades menores.
Para isso, faz planos diferentes de uso, conforme a intensidade de uso do veículo, que impacta diretamente no custo de manutenção.
Também trabalha com um formato de leasing, em que o usuário vira dono da moto em dois anos.
Rubens Zanelatto criou a Mottu em 2020, e desde então a empresa se concentra na base da pirâmide, abrindo espaço para a geração de renda por meio do serviço de delivery. Isso é feito por meio da locação do veículo, que pode ser prestado na própria plataforma da Mottu ou por terceiros, à escolha do motoboy. Essa oferta era escassa mesmo em grandes metrópoles e nula em cidades menores devido à dificuldade de comprovação de renda e histórico de crédito, além do risco de dano e roubo de moto, que encarece o seguro.
Na Mottu, graças à tecnologia e cultura de austeridade, fazem essa gestão de custos na casa decimal.
No galpão do Butantã, em São Paulo, onde funciona uma das 38 centrais de manutenção da companhia e o administrativo, não tem ar-condicionado, refeitório separado ou cadeira estofada para a turma de escritório, que também participa das estações de trabalho na oficina, em rodízio. “Qualquer luxo significa mais custos, o que iria para a tarifa do cliente”, diz Gustavo Kowalski, sócio da Mottu.
O locatário pré-paga por semana, o que casa com seu fluxo de receita e elimina o risco de crédito para a locadora.
A Mottu demanda uma caução, que pode cobrir despesa extra que o usuário não arcar, como uma multa de trânsito ou uma entrega extraviada. A revisão é mensal, o que aumenta a vida útil do veículo e a segurança do usuário. Para que o motoboy não perca hora trabalhada, fazem o atendimento em até 1h30.
Num mapa em tempo real, as telas do time de operação da Mottu visualizam onde está cada uma das quase 50 mil motos em tempo real, com histórico de deslocamento, dados do motorista, trajetos, histórico de multas, consertos e até se o pneu furou. São quase 100 desenvolvedores na equipe para a tecnologia própria e os sistemas também ganharam reforço com a fábrica própria da Mottu, o que permitiu à empresa instalar rastreadores e sensores de violação em compartimentos inacessíveis.
Na origem, a ideia da Mottu para evitar roubos era pintar as motos de rosa. Assim seriam menos atrativas (ou discretas) para roubo. Mas também ficavam menos atrativas para locação. Afinal a solução teve que ser bem mais tecnológica do que a tinta. A taxa de roubos é baixa, garantem os sócios, uma vez que a companhia consegue travar a moto. Além de identificar a localização para buscá-la e bloqueia o usuário como cliente. Que, como consequência, perde a fonte de renda legal.
A montagem é em Manaus, mas eles ainda importam parte das peças, especialmente da Índia.
A companhia está abrindo uma segunda linha, o que deve destravar a fila de quase 40 dias por uma moto. A Mottu também vem testando a moto elétrica, com a ajuda dos chineses. Considerando que o custo é cinco vezes maior, subsidiam as que circulam hoje na ponta.
O sonho grande é chegar a um milhão de motos – uma geração de renda que impactaria cerca de 4,2 milhões de pessoas, nas contas da empresa. “Acreditamos que vamos transformar o mundo”, diz o manifesto de Zanelatto.