Otimismo com a economia empurra a bolsa para cima

Em relação às empresas ligadas à atividade doméstica, Ricardo Perretti,  estrategista da Santander Corretora, chama a atenção para setores como distribuição de combustíveis, transporte e locação de veículos, bancos e varejo.

Com a melhora da perspectiva de reabertura da economia, analistas voltam a calibrar suas projeções para o Ibovespa e esperam novos recordes da bolsa ainda neste ano. De acordo com a mediana das estimativas de 12 casas ouvidas pelo Valor, o índice deve atingir a marca de 137 mil pontos até o fim de 2021, com algumas vislumbrando um patamar superior a 140 mil pontos no período.

A pesquisa mostra que seis casas consultadas revisaram recentemente suas estimativas para cima, enquanto uma instituição iniciou esta cobertura em maio e as outras cinco mantiveram os alvos para este ano. Além desses casos, três instituições informaram que estão revisando seus números e, por isso, os dados não foram colocados na conta para evitar uma distorção com estimativas que devem ser atualizadas em breve. Já olhando um pouco mais à frente, o Morgan Stanley tem preço-alvo de 137 mil pontos até meados de 2022.

Dentre as novas leituras, o Bradesco BBI elevou o alvo para o Ibovespa, em meados de maio, de 130 mil para 135 mil pontos, com uma visão positiva sobre o lucro das empresas e um impulso mais forte para a atividade econômica no país. “Mais PIB significará mais lucro das empresas e menor risco macroeconômico”, diz André Carvalho, chefe de pesquisa na casa.

Inclusive, o Bradesco BBI trabalha com uma projeção de 150 mil pontos para o Ibovespa no fim de 2022.

E, setorialmente, mostra otimismo adicional com ações mais sensíveis ao ciclo doméstico neste momento. Entre os destaques positivos estão setores de vestuário, distribuição de combustíveis e concessionárias de rodovias. Por outro lado, setores defensivos domésticos devem ficar para trás, diz o analista, ao citar eletricidade e telecomunicações.

Na segunda, o Ibovespa voltou a flertar com marca de 131 mil pontos, ajudado por papéis mais sensíveis ao ciclo econômico, após o governo do Estado de São Paulo antecipar o cronograma de vacinação contra a covid-19 na região. Ontem, o índice teve leve queda de 0,09%, aos 130.091 pontos, à espera das decisões de política monetária hoje no Brasil e nos EUA.

A XP e o Banco Inter são as mais otimistas da pesquisa, com projeções de 142 mil e 145 mil pontos, respectivamente.

A estrategista de ações da XP, Jennie Li, explica que o otimismo deve-se a duas razões principais: o forte aumento na expectativa de lucro das empresas e uma leve acomodação nas taxas de juros reais no Brasil.

“Além disso, vale ressaltar que a redução dos riscos fiscais nos últimos dois meses, a vacinação contra a covid-19 em andamento e dados econômicos melhores do que o esperado finalmente têm permitido aos investidores focar menos nas preocupações macro e mais nos fundamentos das empresas”, explica Jennie. Ela ressalta que, levando-se em conta essa mudança recente no cenário da economia brasileira, empresas dos setores de varejo, shoppings e do setor financeiro devem ser beneficiadas com a retomada da atividade.

Já o Bank of America (BofA) tem um cenário mais conservador e mantém a estimativa de 130 mil pontos no fim do ano.

O chefe de economia e estratégia do banco no Brasil, David Beker, explica que, apesar de uma mudança positiva de humor no cenário local, ainda existem riscos vindos lá de fora, como uma possível correção do S&P 500. Ele vê um desempenho relativo melhor do Brasil ante os pares da América Latina e mais destaque para ações ligadas ao ciclo doméstico, mas manteve a projeção para o fim do ano.

O Goldman Sachs, por sua vez, segue com o alvo de 135 mil pontos para o Ibovespa em um período de 12 meses.

“Não mudamos nossa visão, mas recentemente destacamos que os ativos brasileiros geralmente exibem volatilidade significativa, muitas vezes ultrapassando os alvos e, em seguida, voltando ao valor justo”, afirma Caesar Maasry, chefe de estratégia de mercados emergentes do grupo de pesquisas do banco.

Para ele, há uma visão positiva sobre o setor de bancos no mundo emergente, o que inclui o Brasil. “Provavelmente será a área que vai liderar o mercado a partir daqui, consistente com nossas opiniões sobre a reabertura e ações orientadas para o mercado interno contra exportadores de commodities”, explica.

Atentos a esse processo de reabertura da economia e surpresas recentes em dados de atividade, Itaú BBA, Santander Corretora e J.P. Morgan estão revisando suas projeções para o Ibovespa.

“Temos uma visão de que o rali de reflação e reabertura que tivemos nos Estados Unidos consolidou-se e está migrando para Europa e com maior força em mercados emergentes na segunda metade do ano, com o avanço da vacina e fim da pandemia”, diz Emy Shayo, estrategista de ações do J.P. Morgan para Brasil e América Latina. Enquanto revisa as projeções para o Ibovespa – antes em 134 mil pontos –, ela acredita que setores de energia e financeiro devem se beneficiar do novo quadro.

Para o estrategista da Santander Corretora, Ricardo Peretti, o “trade” de reabertura será o “maior diferencial de retorno” nos próximos meses, quando comparado com o potencial de valorização das ações cíclicas globais, o que levou ao processo de revisão da estimativa atual de 135 mil pontos.

Mesmo assim, Peretti observa que as empresas produtoras e exportadoras de commodities ainda se apoiarão em um bom momento operacional, por causa do alto preço das commodities. Já em relação às empresas ligadas à atividade doméstica, o estrategista chama a atenção para setores como distribuição de combustíveis, transporte e locação de veículos, bancos e varejo.

De acordo com o Itaú BBA, a atualização do preço-alvo para o Ibovespa, está atualmente em 135 mil pontos para este ano.

Mas deve levar em conta as surpresas positivas com a atividade econômica doméstica no primeiro trimestre, expectativa de revisão altista das projeções de lucro das empresas brasileiras e um ambiente externo ainda favorável. Por outro lado, tudo isso tende a vir também com visão de juros mais altos e pressão inflacionária.

“Nosso time macro revisou recentemente mais uma vez o PIB para cima, esperando um crescimento de 5,5% para esse ano. Do lado negativo, revisamos a expectativa de Selic para 6% no fim de 2021, dada a pressão inflacionária. Vemos um cenário positivo para bolsa em 2021, com evolução no processo de vacinação e reabertura da economia”, diz o estrategista-chefe do Itaú BBA, Marcelo Sá.

Setorialmente, ele avalia que as empresas mais diretamente ligadas à reabertura da atividade, como varejistas de vestuário, shoppings e distribuição de combustíveis, devem ter um bom desempenho, apesar de parte do rali já ter acontecido. Ainda assim, o estrategista ressalta que mantém uma visão positiva para as ações ligadas a commodities, dada a expectativa de que os preços devem continuar elevados em 2021.

Além disso, o Itaú BBA tem leitura positiva para o setor de tecnologia e mantém uma visão positiva para bancos, dado o “valuation” atrativo e a forte entrada de capital estrangeiro na bolsa. Por outro lado, “estamos mais cautelosos com as ‘bond proxys’, como serviços públicos, rodovias, além do setor de construção civil, dada a expectativa de alta na taxa de juros”, diz Sá.

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