Carros populares passam a ter garantia mais longa na linha 2014
A forte queda na participação de mercado dos modelos populares e a política de garantias longas praticadas por marcas menos tradicionais fizeram com que as líderes Fiat e Volkswagen revisassem o período de cobertura de seus modelos de entrada.
A linha 2014 de Uno, Palio, Gol e Fox, por exemplo, passam a ter garantia de três anos -dois a mais do que antes. Com isso, o tempo médio de cobertura do segmento saltou de 26 para 35 meses.
Bárbara Menezes, 29, e Ricardo Barreiros, 32, compraram seu primeiro carro recentemente. O casal pensou em adquirir um usado, mas o longo prazo de garantia oferecido no mercado de veículos novos pesou na escolha.
“Estamos acostumados a ter garantia em todos bens duráveis que compramos, por que com o automóvel seria diferente?”, diz Bárbara, que é tradutora.
Eles optaram por um Renault Clio, que vem com três anos de cobertura de fábrica.
BOM PARA A OFICINA
De acordo com o engenheiro Francisco Satkunas, diretor da SAE Brasil, prazos entre dois e três anos devem virar o padrão de mercado, pois passam uma boa imagem da marca -e também ajudam a manter o cliente mais tempo frequentando a rede de concessionárias.
O especialista em operações Rodrigo Pereira, 30, afirma que já precisou apelar para a garantia quando seu antigo veículo sofreu uma pane.
“Tive problemas com a suspensão do meu Chevrolet Onix, e a garantia fez com que o carro fosse arrumado rapidamente e sem custo. Isso causou uma boa impressão sobre o pós-venda.”
Mas falta esclarecimento sobre como o benefício funciona e o que ele contempla, acredita o engenheiro da SAE.
DIREITOS E DEVERES
Toda garantia está vinculada à realização das revisões de fábrica na rede autorizada. Algumas montadoras oferecem pacotes com preço fixo de revisão, que incluem os principais serviços de acordo com a quilometragem.
Em vários casos, as oficinas das concessionárias oferecem serviços adicionais, como limpeza de bicos injetores ou do motor.
De acordo com os fabricantes consultados, tais serviços não estão previstos nos planos de manutenção básica. Portanto, recusá-los não irá comprometer a cobertura original de fábrica.
Há marcas que dão ao cliente a possibilidade de optar pela extensão da garantia mediante pagamento.
Ampliar o tempo de cobertura de um Corolla por mais dois anos, por exemplo, custa R$ 1.400 na rede Toyota.
Mas, de acordo com consultores do setor, essa oferta de serviço tende a desaparecer com a disputa por clientes entre as marcas. Empresas que cobrarem pelo prazo extra estarão em desvantagem na comparação com as marcas que já oferecem cobertura mais longa.
O profissional de TI Raphael Siqueira, 31, conta que, por receio de ter de arcar com algum reparo caro não programado, preferiu adquirir um automóvel com três anos de garantia para motor e câmbio, componentes que costumam ser mais onerosos.
USADOS
Modelos usados vendidos com “sobra” de garantia de fábrica tendem a valorizar de 5% a 10%, segundo a Assovesp (Associação dos Revendedores de Veículos de São Paulo).
“Na revenda, será possível conseguir um cliente mais exigente e que não se importa em pagar mais por essa segurança”, diz George Assad Chahade, presidente da entidade.
A garantia segue válida porque está vinculada ao carro, e não ao proprietário dele. Assim, a revenda do modelo é facilitada.
“O custo de manutenção é um dos grandes receios de quem está comprando um veículo usado. Se o carro ainda está na garantia de fábrica, o consumidor fica mais tranquilo”, diz Cristiano dos Santos, da área de automóveis seminovos da Caltabiano.
Contudo, um seminovo que poderia ter cobertura de fábrica, mas que por algum motivo a perdeu, será depreciado. Não fazer as revisões previstas no manual, por exemplo, anula o benefício.
A forma mais segura de saber se um veículo está ainda com a garantia vigente é consultando diretamente o fabricante.
Para usados fora do prazo da montadora, a lei obriga a loja a dar garantia de três meses após a venda.
“Vale para todo o veículo, não apenas para motor e câmbio, como boa parte dos comerciantes prefere propagar”, atenta Patrícia Álvares Dias, assessora técnica do Procon-SP.
Já o comércio entre particulares tem regras parecidas, mas elas não são regidas pelo Código de Defesa do Consumidor.
Por Rodrigo Lara, da Folha.