Embraer e EDP anunciam parceria para criar soluções focadas em ‘carros voadores’
A Eve Urban Air Mobility Solutions, subsidiária do grupo Embraer, e a EDP anunciam nesta quinta-feira (15) a assinatura de um Memorando de Entendimento para colaborar na pesquisa de soluções de Mobilidade Aérea Urbana.
O objetivo da parceria entre as empresas é criar projetos de infraestrutura para a aplicação comercial de aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical (eVTOL), veículos muitas vezes chamados de “carros voadores”.
Presente em todos os segmentos do setor elétrico brasileiro e com mais de 1.500 estações elétricas pelo mundo, a EDP vai ajudar a Eve principalmente no desenvolvimento dos pontos de recarga elétrica nos “vertiportos”, aeroportos que serão construídos em centros urbanos para abrigar as operações dos eVTOLs.
Essa parceria será desenvolvida por meio da equipe de Inovação da Eve e da EDP, em conjunto com sua unidade de investimento no Brasil, a EDP Ventures Brasil. As soluções a serem desenvolvidas incluem a tecnologia e equipamentos para carregamento de eVTOLs, baterias elétricas mais eficientes, formatos de negócios, gestão e fornecimento de energia, logística de operação e integração com o sistema de gerenciamento e controle de voo.
“Quando falamos em desenvolver a Mobilidade Aérea Urbana, não estamos falando apenas em projetar um veículo. Tem muito mais a ser feito e todas essas frentes devem avançar juntas, como indústria. Por isso é importante encontrar os parceiros certos, como a EDP. Não dá pra cada um fazer todo trabalho sozinho ou ficar esperando as coisas acontecerem. Juntas, a Eve e a EDP estão construindo esse futuro”, disse André Stein, presidente e CEO da Eve, em entrevista exclusiva ao CNN Brasil Business.
Em contato com a reportagem, Andrea Salinas, diretora de Inovação e Ventures da EDP no Brasil, acredita que a parceria com a Eve é uma oportunidade para a empresa transferir sua experiência na área de mobilidade elétrica para a aviação.
“Já temos experiência no modal terrestre, agora com a Eve vamos transferir nossa expertise em abastecimento de energia elétrica para a mobilidade aérea. Sabemos que hoje grandes centros urbanos carecem de soluções de transporte que não utilizem combustível fóssil e os eVTOLs chegam exatamente para atender essa vertente”, afirmou. A multinacional portuguesa também trabalha com a Embraer no demonstrator de um avião elétrico.
“Os vertiportos de eVTOLs provavelmente contarão com energia limpa para a recarga dos eVTOLs, por geração eólica ou solar. Já temos soluções assim em nossos eletropostos de veículos terrestres. Alguns desses pontos produzem a própria energia elétrica, com painéis solares. Obter energia limpa é um pré-requisito em nosso estudo com a Eve”, acrescentou Andrea.
Próximo grande negócio da Embraer
A Eve é o empreendimento mais recente da Embraer. A subsidiária foi criada em 2020 pela EmbraerX, divisão da fabricante brasileira focada em “negócios disruptivos”, como a própria empresa define. “A EmbraerX é uma incubadora de novas ideias, como é o caso dos eVTOLs”, explicou Stein.
O primeiro vislumbre do eVTOL da Embraer se deu em maio de 2018 durante uma conferência de mobilidade aérea promovida pela Uber, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Em março deste ano, com o projeto já sob a tutela da Eve, a aeronave em tamanho reduzido e sem piloto completou seu primeiro voo, na sede da companhia em Gavião Peixoto (SP).
Questionado sobre quais avanços tecnológicos ainda são necessários para a introdução comercial dos eVTOLs, o CEO da Eve foi enfático: “Não falta nada. As tecnologias estão evoluindo e cada vez mais teremos uma utilização potencial melhor. A evolução das baterias também está ocorrendo de forma constante. Isso não significa que as baterias precisam alcançar a mesma eficiência energética dos combustíveis fósseis. Se isso acontecer, será ótimo. O que precisamos é de uma solução que funcione de acordo com a missão proposta para os eVTOLs.”
Em anúncios recentes sobre pedidos de eVTOLs, a Eve aposta que a entrada em serviço desses veículos será em 2026. “Entregar um projeto de avião no prazo ou dentro do orçamento é algo raro da aviação, mesmo na indústria tradicional. A Embraer, porém, tem conseguido atingir esses marcos. Até pouco tempo, ainda não falávamos sobre datas de lançamento, mas agora estamos confiantes com esse prazo”, ressaltou Stein.
O CEO da Eve prevê que o mercado global de mobilidade aérea urbana pode absorver 50 mil eVTOLs em 15 anos. “Isso significa que teremos um volume de entregas nunca visto na aviação. Há um potencial para venda de algumas unidades de milhar por ano. Só em São Paulo serão necessários pelo menos uns 400 eVTOLs.”
Carro voador ou eVTOL?
O segmento de Mobilidade Aérea Urbana ainda está sendo definido. O nome dos veículos, por exemplo, é um dos pontos que deixam dúvidas. Como chamá-los? Carro voador ou eVTOL?
Stein admitiu que o termo eVTOL pode não ser o mais adequado, sobretudo em português. “Mesmo em inglês não é tão simples. É um segmento que está nascendo e isso ainda não está totalmente definido. Uns chamam de carro voador, mas não é um carro, é uma aeronave. O eVTOL é algo que se aproxima mais de um avião comercial. Outro termo que surgiu recentemente, e particularmente achei mais fácil de pronunciar em português, foi EVA, de Eletric Vertical Aircraft. Apesar da semelhança, a sigla EVA não tem nenhuma relação com a Eve. Eu gostei, por motivos óbvios.”
“Os eVTOLs vão chegar ao mercado mais cedo do que muitos podem imaginar. O legal na parte de inovação disruptiva é justamente isso, você acelera o desenvolvimento de novas tecnologias. O volume de investimento nesse segmento tem sido massivo no mundo todo. Não é algo para a próxima década, já é uma realidade”, concluiu Stein.
Fonte: CNN