Movida é a ação mais alugada
Movida é a ação mais alugada do Ibovespa em relação ao float. A dinâmica com ações da Movida tem chamado atenção de alguns analistas e gestoras.
A empresa, que praticamente dobrou de valor em bolsa nos últimos seis meses e tem se concentrado na melhora de rentabilidade, que figura desde o início de agosto no posto de ação mais alugada do Ibovespa, considerando a relação percentual em relação ao free float.
Na quarta, chegou 27,9%, avançando 1,3 ponto percentual em uma semana e 2,3 pontos em um mês. O limite da posição alugada em relação ao free float para a ação da Movida estabelecido pela B3 é de 35% atualmente, aponta Matheus Amaral, analista do Inter.
Em geral, um investidor aluga um papel para montar uma posição vendida em uma empresa, ou seja, apostando na queda da ação.
Mas a alta recente do papel da Movida tornaria, na prática, menos atrativa esse tipo de aposta – uma vez que, para encerrar essas posições, os investidores teriam que comprar o papel à vista para devolver a quem emprestou.
Analistas ouvidos pelo Pipeline veem uma relação mais direta com a liquidez do papel e destacam melhoras recentes da gestão.
O número de ações em circulação da Movida é menor do que concorrentes como a Localiza; consequentemente, isso explica, em parte, o percentual alto de ações alugadas. A Movida tem um float de 34,4% e a Localiza, de 59,96%. A Localiza tinha 34,9 milhões de ações alugadas em 24 de agosto, volume semelhante ao da Movida, mas o percentual em relação ao free float era bem mais baixo e estava em 3,8%, compara Yves Salomão, operador de aluguel e opções da Genial Investimentos.
O pico de aluguel da Movida foi em 28 de fevereiro.
Nessa ocasião foi quando bateu 39,7 milhões de papéis emprestados e o preço da ação estava perto das mínimas no ano, em R$ 6,58, aponta Salomão. A companhia vinha, ali, de um ciclo de expansão da frota de automóveis, que atingiu 224 mil veículos no fim de 2022, dobrando o tamanho em dois anos.
Para se consolidar como o segundo maior player do Brasil em aluguel de veículos, a Movida comprometeu a eficiência operacional e rentabilidade, avalia Marcelo Arruda, analista da Mantaro Capital. A gestora vinha com uma posição vendida na ação desde o ano passado, que foi encerrada no início deste ano, após o preço do papel ter atingido a mínima no ano. “Achamos, naquele momento, que boa parte dos problemas já estava materializada no preço da ação”, diz Arruda.
Desde então, houve a troca da gestão, com Gustavo Moscatelli, que estava desde janeiro como CFO da Movida assumindo como CEO.
A empresa também trocou dívidas mais caras, com o pré-pagamento de debêntures, recompra do bond com vencimento em 2031 e captações com custo menor, assim como uma redução da frota.
“A nova gestão está comprometida em melhorar a eficiência operacional e a rentabilidade”. Aponta a Genial Investimentos em relatório escrito nesta semana, após participar de um non-deal road show com o time de relações com investidores da Movida. A corretora tem recomendação de compra para o papel, com preço-alvo de R$ 21 – hoje, vale R$ 12,97.
A Genial destaca que a redução do custo de capital ainda deve ter um alívio com o ciclo de queda de juros.
Na parte relacionada à frota, a empresa realizou ajustes no estoque, resultando em um total de 204 mil carros no segundo trimestre. Isso representa uma redução de 8,9 mil veículos em comparação com o primeiro trimestre. E uma diminuição acumulada de 20 mil carros ao longo do semestre.
Apesar disso, a empresa teve prejuízo de R$ 18 milhões no segundo trimestre. Esse valor contra um lucro de R$ 187 milhões no mesmo período do ano passado. Isso, portanto, ocorre em função do aumento das despesas financeiras. “Já vemos mudança significativa na forma de gestão. Mas os ajustes que eles se propõem a fazer exigem nível complexo de execução. E, por esse motivo, não temos posição comprada na ação”, diz Arruda.
Contudo, apesar da posição elevada de papéis alugados em relação ao free float, a taxa média do papel da Movida não subiu muito.
E estava em 0,6% em 23 de agosto, alta de 0,3 ponto percentual em uma semana. E, em seguida, de 0,4 ponto em um mês, aponta Amaral, do Inter.
Um dos fatores que explicam isso é que a maior parte dos papéis colocados para locação são de investidores pessoas físicas. São os que costumam pressionar menos a taxa de aluguel para cima que os institucionais, diz Salomão, da Genial. Ele diz que a posição alugada do papel deve estar concentrada na mão de poucos players. Assim, reduz a pressão de alta da taxa como aconteceu com o IRB, cuja taxa média de aluguel do papel disparou no ano passado. E chegou a atingir quase 500% com o aumento de posições short.
Os dois fundos com maior posição vendida em Movida em abril: a última posição disponível na CVM, eram o Ibiuna Long Short Master FIM e Capstone Macro Master FIM. Esses dados segundo Trademap.
Procurada, a Movida não comentou o assunto.