Motoristas de aplicativos são vítimas de golpe de caução de aluguel de carros no Rio
Motoristas de aplicativos são vítimas de golpe. Um novo crime tem chamado atenção: o golpe do caução do aluguel de carro para motoristas de aplicativo.
Recente casos foram relatados para o G1. Neste caso específico o golpista se passou por um polícia militar para conquistar a confiança da vítima e aplicar o golpe.
Motoristas de aplicativos estão sendo vítimas de um novo golpe praça, o da caução de aluguel de veículos. Os criminosos prometem um carro, pedem dinheiro antecipado e a vítima acaba ficando sem o carro e sem o dinheiro.
Segundo uma vítima, que preferiu não se identificar, o anúncio de aluguel de carro num grande site de classificados parecia uma boa oportunidade para voltar ao trabalho de corrida por aplicativo. Ele ficou convencido pelas mensagens de áudio enviadas pelo anunciante:
“Manutenção do carro é por minha conta, todos os carros são revisados, tem uma vistoria uma vez. Gosto de pessoas comprometidas com o trabalho, pessoas sérias, pessoas que gostam realmente de trabalhar, que não querem brincadeira, entendeu?”, disse o golpista.
A vítima conta que não teve contato físico com o anunciante. Somente pelo site de compra e venda de mercadorias.
“Se apresentou como Roberto, policial civil, trabalhando 12 horas, casado, num condomínio na Praça Seca. Ele entra em contato com a gente, ele passa o telefone dele, para a gente poder conversar através das redes sociais, né? E ai, a gente entra em contato com ele. Ele tem uma foto, ele coloca no perfil de terno, gravata, tudo bonitinho”, contou a vítima.
Golpista diz que é policial
O golpista diz que o cliente poderia ver o carro antes de fechar o negócio, mas só teria que conciliar com uma agenda apertada.
“Depende da minha escala de trabalho, porque eu sou policial civil, hoje eu estou de serviço. Se quiser primeiro ver o carro tem que tentar marcar, ver se vai ter carro disponível. Esse áudio eu mando para todos explicando direitinho que eu não guardo carro sem pagamento”, disse o golpista.
O valor antecipado é de R$ 800. “Minha caução, na realidade, é um valor de R$ 450 referente a uma semana, mais um valor de R$ 350 que é o valor referente a uma taxa de seguro”, explicou o golpista.
Segundo a vítima, ele dá uma condição que todos os proprietários de carro dão. Essa caução, geralmente, chega a variar entre R$ 500 e R$ 1.800 de antecipação.
“Então, como o valor que ele me cobrou é um valor que daria para a gente tentar resolver, então, eu achei mais chamativo”, disse a vítima.
Bandido mandou mensagem
O motorista confiou, pediu dinheiro emprestado para conseguir fazer o pagamento e horas depois recebeu a seguinte mensagem do anunciante:
“Meu amigo, nunca mais faça isso na sua vida. Nunca deposite dinheiro na conta de ninguém sem antes ver o carro. Estou preso em Bangu I. Infelizmente, você caiu num golpe”.
Motoristas de aplicativos estão sendo vítimas do golpe da caução do aluguel de veículos, no Rio — Foto: Reprodução/TV Globo
A vítima, que teve grande dificuldade para conseguir o dinheiro emprestado para a caução do veículo, passou mal ao receber a mensagem.
“Na hora da mensagem, meu lado esquerdo ficou todo paralisado, eu não enxergava mais nada. Tive um desmaio. Tive de deitar, deitei até no chão para poder respirar um pouco”, contou a vítima.
Criminosos usaram nome de empresa
Os golpistas também lesaram uma pessoa jurídica. Na cobrança do seguro, os criminosos usavam o nome, a logomarca e até o mesmo modelo de contrato e relatório de uma empresa de proteção veicular que está no mercado: a Totalben, com sede na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. A empresa foi surpreendida pela notícia, como explica Carlos Sendra, diretor e fundador da Totalben.
“Entraram em contato dizendo: “Olha, eu fui vítima de uma fraude”. Elas, para nossa surpresa, entenderam que a gente não tinha nada a ver com isso, queriam a nossa ajuda de saber como fazer. Não sabíamos também. Entramos em contato com o jurídico da empresa, porque depois de 13 anos isso nunca aconteceu com a gente. E eles nos aconselharam a entrar em contato com a Delegacia de Crimes de Informática, e assim fizemos”, disse Sendra.
Segundo a empresa de proteção de veículos, que teve o nome vinculado ao golpe, dez pessoas entraram em contato na semana passada dizendo que foram abordadas pelos golpistas. Sete delas chegaram a depositar o dinheiro. E três descobriram antes de fazer o pagamento e conseguiram evitar o prejuízo.
O empresário cita alguns procedimentos desse golpe que são estranhos às práticas de mercado e deveriam levantar a desconfiança de clientes interessados.
“O fato da pessoa fazer o contato através de um número particular. receber o valor através de uma conta também física, particular, e dispensar a necessidade de vistoria”, disse Sendra.
Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que, de janeiro a junho deste ano, o número de crimes de estelionato virtual no Rio aumentou 62% em relação ao mesmo período do ano passado. Passaram de 4.900 para 8.100 casos.
Crimes de estelionato virtual
De janeiro a junho
- 2020: 4.951 casos
- 2021: 8.176 casos
- Aumento de: 62%
A vítima do golpe caução do aluguel diz que o golpista se aproveita das fragilidades do interessado.
“Desespero. A palavra é essa: desespero. Ainda mais como a gente estava numa situação muito difícil, onde todas as portas estão fechadas. A gente acaba sempre tomando decisões precipitadas mediante ao desespero que a gente vive. Então, a gente tenta ver o que é mais fácil para a gente poder trabalhar e colocar dinheiro dentro de casa. Fica esse alerta para todo mundo”, disse a vítima.