Uber diz que lucro virá em 2020: “era do crescimento a todo custo acabou”
São Paulo — A empresa de transporte compartilhado Uber fechou 2019 com mais um prejuízo, mas também com uma pitada de otimismo para os investidores. A companhia americana afirmou em conferência com investidores que tem projeção de finalmente alcançar o lucro já no último trimestre deste ano. A previsão anterior era atingir essa marca somente em 2021. “Reconhecemos que a era do crescimento a todo custo acabou”, disse o presidente Dara Khosrowshahi.
Por ora, a realidade é mais dura. A empresa fechou com prejuízo de 1 bilhão de dólares no quarto trimestre, 24% maior do que as perdas em 2018. O faturamento subiu 37%, chegando a 4,7 bilhões de dólares.
No acumulado do ano, o prejuízo da Uber foi de 8,5 bilhões de dólares, incluindo compensações pagas aos acionistas pela abertura de capital na bolsa (IPO) em maio. O faturamento anual foi de 14,1 bilhões de dólares, alta de 28%.
O lucro anunciado por Khosrowshahi ainda não seria um lucro líquido, mas um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado positivo. Em apresentação sobre as perspectivas de 2020, a empresa aponta que, no ano passado, o Ebitda ajustado ficou maior trimestre após trimestre, embora ainda negativo. A projeção é, no longo prazo (para além de 2021), ter um Ebitda ajustado positivo e que responda por 25% da chamada receita líquida ajustada.
A grande aposta para o futuro é em uma combinação entre o já comum crescimento com uma operação mais enxuta. No último trimestre, por exemplo, a empresa gastou menos dinheiro em marketing e promoções oferecidos aos clientes. A Uber também começa a sair de operações pouco lucrativas: a companhia retirou o Uber Eats da Coreia do Sul e vendeu a operação do braço de refeições na Índia.
Após terem caído mais de 30% após o IPO em maio, as ações passaram a subir no último trimestre e estão quase de volta ao patamar da estreia na bolsa — o papel fechou o pregão de quinta-feira a 37,09 dólares, ante 40,41 dólares no IPO.
A empresa acredita que conseguirá chegar ao lucro mesmo em cenários difíceis e com alta competição, diz Khosrowshahi. “Planejamos atingir nossa meta de lucratividade assumindo que haverão apenas melhorias modestas no ambiente atual de competitividade e sem nenhuma mudança significativa em nosso portfólio de negócios”, disse o presidente.
No Brasil, a Uber concorre em seu segmento de corridas com nomes como a brasileira 99, comprada pela chinesa Didi em 2018, e a espanhola Cabify. Em alimentação, a empresa acredita que a concorrência deve continuar extremamente alta mundo afora. O mesmo vale para o Brasil, com o Uber Eats tendo fortes competidores locais: o iFood, do grupo brasileiro Movile, e o colombiano Rappi. A 99 anunciou no ano passado que também começará a operar um braço de alimentação, o 99 Foods.
Problemas regulatórios
Apesar das boas perspectivas, 2020 deve trazer também uma imensidão de desafios para a empresa. Desde novembro passado, a Uber foi banida em Londres, capital inglesa, em novembro, na Alemanha, em dezembro, e na Colômbia. A empresa ainda luta na justiça para reverter os vetos, mas a dúvida é se os impedimentos interromperão o otimismo da companhia, que batalha para diminuir os prejuízos.
O caso mais recente de banimento aconteceu na última sexta-feira 31, na Colômbia. Tal como na Alemanha, um tribunal decidiu que a empresa viola as regras de concorrência locais. Antes de sua partida, a Uber tinha 2,3 milhões de usuários e 88.000 motoristas na quarta maior economia da América Latina. O gerente geral da empresa para a América Latina, George Gordondisse, disse que a Uber que está considerando levar sua disputa com o governo colombiano para a arbitragem internacional. Cálculos iniciais da companhia sugerem que os danos pela suspensão de seus serviços apenas na Colômbia excederão 250 milhões de dólares.
No Brasil, a boa notícia da semana para a empresa foi uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho nesta quarta-feira, que apontou que os motoristas que se conectam a passageiros pelo aplicativo da Uber não têm vínculo empregatício com a empresa. Também neste mês, uma vara trabalhista de São Paulo emitiu conclusão parecida sobre os entregadores do iFood, que atuam em modelo parecido aos motoristas da Uber e que não foram considerados empregados da empresa pela juíza responsável. Novas contestações trabalhistas devem seguir aparecendo, mas a decisão do TST, por ser o maior tribunal trabalhista do país, cria um bom precedente judicial para a Uber.
Entre regulações e concorrência somados, a vida da Uber não deve ficar mais fácil. Mas investidores parecem acreditar que os números do balanço trarão uma perspectiva melhor em breve. Nas negociações após o fechamento do mercado e depois da divulgação dos resultados, a ação subiu 6,12%.
Fonte: Exame