2018, o ano em que a CES ofuscou totalmente o Salão de Detroit
Exposição de Las Vegas mostrou o futuro da mobilidade, mais do que qualquer outro Salão do Automóvel
Reprodução/Newspress – Consumer Electronics Show 2018 mostra que eventos podem ser algo além de um showroom convencional
Apenas uma semana separou no tempo a CES Intenational (sigla para Consumer Electronics Show) e o NAIAS (Salão do Automóvel de Detroit). O primeiro ocorreu na primeira semana do ano em Las Vegas. O segundo está aberto ao público a partir de hoje (17/1). Mas parece que a diferença entre ambos é de décadas. A CES vislumbrou o futuro do automóvel e da mobilidade. O Salão de Detroit, na decadente (embora charmosa) capital americana do automóvel, ecoa um passado que não volta mais. Quer um exemplo? O que mais chamou a atenção da imprensa foi o Ford Mustang Bullitt, homenagem ao modelo eternizado há 50 anos pelo ator Steve McQuenn, no fime Bullitt.
A comparação entre as duas exposições mostra que a CES já se firma como o maior evento automotivo do ano, pelo menos em termos de visão estratégica do negócio. E ela nem é uma feira de carros, e sim de eletrônica. Eventos como o Salão de Detroit , cada vez mais são um mero showroom da linha atual de cada marca, no máximo com alguns lançamentos do ano seguinte. A inquietação criativa ficou quase toda para a exposição hi-tech anual de Las Vegas. Mas já não foi assim nos anos anteriores? Em termos. Neste ano, pela primeira vez, a comparação chega a ser covardia em termos de repercussão.
Divulgação – Toyota e-Pallete mostra o que a marca japonesa imagina para o futuro quando falamos de food trucks durante o CES 2018
Quer soluções que tragam à mente episódios da série futurista Black Mirror? Na CES havia o Toyota e-Pallete, conceito de um food-truck que faz entregas em domicílio de forma autônoma, e que também pode servir como escritório móvel ou até hotel. A Ford rebateu com um carro autônomo para entrega de pizza, em parceria com a rede Domino’s Pizza. Havia a moto elétrica da Yamaha que vai sozinha até seu dono, a curtas distâncias e baixa velocidade. E até o conceito de um táxi-voador da Uber, em parceria com a Bell Helicopter. Ou ainda o pequenino Smart futurista, da Mercedes-Benz, que na próxima geração será um minicarro elétrico e compartilhável nas grandes cidades, acessível por aplicativo no celular. Sem falar do perturbador Brain-to-Vehicle, da Nissan, sistema autônomo que aprende com o jeito de pensar e dirigir de cada motorista. Do lado de fora do pavilhão, o táxi autônomo da Navya, com tecnologia da Valeo, fazia demonstrações no estacionamento.
Quer lançamentos de carros com um pé no futuro? As coreanas Kia e Hyundai escolheram Las Vegas, e não Detroit, para fazer isso. A primeira com o Niro EV, um crossover 100% elétrico. A segunda com o Nexo, um SUV com motor alimentado por pilhas de hidrogênio, muito próximo de ser lançado comercialmente. Ele promete 600 km de autonomia e condução semi-autônoma. A chinesa Byton, que quer rivalizar com a americana Tesla, apresentou seu primeiro conceito: elétrico, autônomo e compartilhável. Já a marca californiana Fisker revelou o esportivo elétrico Emotion, de 780 cv e com 640 km de autonomia.
Divulgação – Niro EV: a Kia dispensou Detroit para apresentar seu novo conceito no CES 2018. Para o Salão, apenas a nova geração do Cerato
Quer parcerias das montadoras com as gigantes do mundo digital? Teve a Ford revelando que o Waze, já com o novo recurso Talk to Waze, será integrado à sua linha 2018 com central multimídia Sync 3, entre eles o Focus. A Volkswagen equipará sua próxima linha de carros elétricos com um chip de Inteligência Artificial da Nvidia para condução autônoma. A Toyota anunciou que a Alexa (assistente pessoal da Amazon, equivalente à Siri da Apple) estará presente em seus carros equipados com o sistema multimídia Entune 3.0. A Alexa será capaz de tomar notas, enviar lembretes e até controlar remotamente eletrodomésticos. Parceria semelhante foi formada entre Kia e Google para ações remotas via smartphone.
Quer soluções inovadoras dos maiores fornecedores do planeta? Pois Bosch, ZF, Continental, Valeo, Sony e Intel, entre outros, deram um show mostrando as novas gerações de seus sistemas para carros autônomos, envolvendo Inteligência Artificial, Internet das Coisas e Banda 5G. A Bosch, em especial, é que mais aposta em tecnologias para as Cidades Inteligentes, incluindo um dispositivo para que os carros localizem automaticamente vagas de estacionamento na rua.
Grandes executivos preferiram a CES
Quer altos executivos discursando de forma impactante? O brasileiro Carlos Ghosn, CEO da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, anunciou investimento de US$ 1 bilhão para financiar empresas de mobilidade pelos próximos cinco anos. Batizado de “Alliance Ventures”, o fundo financiará startups nas áreas de autonomia, eletrificação, conectividade e Inteligência Artificial. O novo chefão global da Ford, Jim Hackett, também esteve em Las Vegas criticando o esgotamento do velho modelo de negócio das montadoras, focado no transporte individual. Ele reafirmou que a Ford pretende ser, cada vez mais, uma empresa de soluções de mobilidade. As apresentações da VW e da Toyota também foram feitas por seus CEOs, Herbert Diess e Akio Toyoda, respectivamente.
Divulgação – Confirmado para o Brasil, o Volkswagen Jetta é a grande atração da marca para o Salão de Detroit
Enquanto isso, no gelado Salão de Detroit, as novidades se resumem a novas gerações de modelos conhecidos, como VW Jetta, Ford Ranger, Ram 1500 e Hyundai Veloster, só para citar alguns mais conhecidos do público brasileiro. A maior novidade por lá é o crossover BMW X2, um modelo de nicho. Não deixa de ser sintomático. Um Salão centenário mostrando o que ainda se pode esperar da indústria automobilística, dentro da velha fórmula que funcionou muito bem por mais de um século, mas que já dá sinais de cansaço. Chegará o dia em que os salões automotivos sobreviventes serão todos uma espécie de CES. Sem os eletrodomésticos, é claro.
Fonte: IG Carros | Por |