A bolha do mercado de usados no setor automotivo brasileiro

Caros leitores, digníssimas leitoras: a cada dia que passa, fica cada vez mais complexo entender o setor automotivo.

Na verdade, vivenciamos aquele clássico momento no qual a vida imita a arte! Mauricio de Sousa representou perfeitamente o que o setor vem passando:

Agora, imagine um setor (como o automotivo) que – em geral – tem um planejamento estratégico de médio/longo prazo. Ou seja: “anos”.

Nesta semana, fomos agraciados com o Banco Central informando dados de operações de crédito no setor automotivo. E o ponto mais que positivo foi que as concessões de crédito somaram quase R$ 19 bilhões no mês de agosto!

Recorde histórico!

No acumulado do ano, estamos quase chegando na casa de R$ 130 bilhões em concessões, crescimento de 42% sobre o mesmo período do ano passado, quando tivemos R$ 92 bilhões em concessões. Ou de 28% sobre o ano de 2019 (R$ 101 bilhões), um ano “normalzão” sem pandemia.

O que é o “mais melhor de bom” é que o crédito vem crescendo de forma consciente. O prazo médio em agosto ultrapassou a barreira dos 47 meses (recorde histórico). Mesmo com o aumento contínuo e gradual da taxa base, a taxa de financiamento se encontra por volta de 1,5% a.m. Além disso, o nível de inadimplência e atraso em agosto ficou no menor patamar dos últimos seis meses.

O lado positivo é que o crédito para veículos continua firme e forte.

E as vendas de carros?

No mercado de carros novos, se o mercado projetava crescimento de até dois dígitos, hoje o conceito é: “se repetirmos o resultado de 2020, já estaremos no lucro…”

Hoje, o modelo econométrico aponta que 2021 encerrará com ligeira queda de 0,4%. Lembrando que, até o acumulado de janeiro a agosto, o resultado encontrado foi de evolução nas vendas de quase 21%. Ou seja, toda essa nossa reserva vai ser queimada agora neste último trimestre.

E qual o motivo?

Não há peças, logo não há como produzir carros…

Até o recém-lançado Commander, da Jeep, já “acabou” neste ano.

Ou seja, você pode ir até uma concessionária, comprar o carro hoje e, se bobear, só lá por abril de 2022 vai poder rodar com ele!

Tendo aquela conversa de botequim com várias montadoras, o conceito formado é que eles estão esperando uma reação dos fornecedores de componentes eletrônicos para poderem se programar para o próximo ciclo. Sem isso, 2022 será – novamente, para variar – mais um ano difícil para o setor.

Ou seja, o pessoal da indústria está mais ou menos como o Tom Hanks: “À ESPERA DE UM MILAGRE”.

E, assim como no filme (ALERTA DE SPOILER), não vai acontecer…

Se o mercado de veículos novos se encontra num limbo, o mercado de veículos usados está explodindo!

Este ano deverá ser o melhor resultado para o pessoal de usados.

Entre janeiro a agosto, foram comercializados 7,6 milhões de carros usados, crescimento de 49% sobre o mesmo período do ano passado, quando foram vendidos 5,1 milhões de veículos. Neste ano, entre carros novos e usados vendidos, já temos quase 9 milhões de unidades (recorde histórico).

E o ritmo continua acelerado!

O lado interessantíssimo é que aqui no mercado de usados podemos sempre validar aqueles conceitos que aprendemos na faculdade de Economia, como “demanda versus oferta”, “elasticidade do preço” e por aí vai.

Além do crescimento nas vendas de carros usados, outra coisa que acontece de forma assustadora é o aumento dos preços dos veículos.

Neste ano, em média, o carro usado teve valorização entre 15% a 25%. O exemplo máximo é o Fiat Marea Turbo do estagiário que, pela Fipe, em janeiro valia R$ 26,2 mil e em setembro está sendo cotado por uns R$ 30 mil.

Gente… um Fiat Marea “BOMBA” Turbo 2007 valorizou quase 15% em nove meses! Enquanto isso, o Ibovespa está ali entre zero e menos alguma coisa!

É o fim dos tempos!

O conceito geral é uma desvalorização média de 15% ao ano. Aquela regra de: saiu da concessionária já perdeu 15% era válida!

ERA!

Sabe quando a gente tinha algo parecido com isso? Sabe aquela época nos anos 1980 com a hiperinflação?

Então, né…

Sabemos que o preço do novo subiu demais este ano, e o usado é parcialmente atrelado a ele. Da mesma forma que pelo fato do seminovo ser um carro de “pronta-entrega”, você paga um prêmio adicional sobre isso. Mas não dessa maneira.

Na realidade, essa “bolha” no setor de usados não deverá durar mais do que 8-10 meses: lembremos que 2022 é um ano meio turbulento devido ao fato de ser ano eleitoral; os juros estão “aceitáveis”, mas estão subindo (ainda mais para o usado); não existirá mais auxílio emergencial ou estímulo financeiro do governo; e a perspectiva da indústria automotiva é de que, no segundo semestre do ano que vem, as montadoras venham “com sangue nos olhos” para vender os seus veículos.

Mas isso tudo é só uma elucubração… em se tratando de Brasil, tudo pode mudar do dia para a noite.

Fonte: Info Money

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