Autopeças consolidam fase de recuperação
Desempenho do setor volta a ficar positivo após três anos
“Após três anos de crise aguda, 2017 foi um ano de recuperação para o setor de autopeças, que deixa boas perspectivas de novo crescimento em 2018”, definiu Dan Ioschpe, presidente do Sindipeças, ao fazer o balanço do ano e traçar projeções para o próximo. A entidade, que reúne cerca de 400 fabricantes de componentes, calcula expressivo crescimento de 22% sobre 2016 no faturamento das empresas associadas, que deve atingir quase 77 bilhões, o melhor resultado desde 2014 (R$ 80 bilhões), mas ainda distante do recorde de R$ 91,2 bilhões registrado no início da década, em 2011. Ioschpe aponta que o importante é a tendência de continuação do ritmo positivo. A expectativa é de nova expansão de 7,4% das vendas domésticas e externas, somando R$ 82,6 bilhões ao fim de 2018.
–Veja os dados completos do balanço e projeções do Sindipeças aqui
–Veja mais dados do Sindipeças aqui
–Veja outros estudos e estatísticas em AB Inteligência
O maior crescimento no faturamento, de 33,5% em 2017 sobre 2016, foi observado nas vendas diretas às linhas de montagem, responsáveis por 63% das compras de autopeças, impulsionadas pelo avanço superior a 20% na produção de veículos no País este ano. Para 2018 o Sindipeças projeta nova expansão de 9% nos negócios com as montadoras.
“De 2014 a 2016 vivemos a maior crise que se tem notícia no setor, não voltamos aos níveis de 2013, mas 2017 já apresenta recuperação bastante razoável e acima das nossas expectativas. É preciso lembrar que no início do ano esperávamos crescimento bem mais tímido do faturamento, em torno de 6%, para R$ 69 bilhões”, comparou Ioschpe. Segundo ele, para 2018 o Sindipeças prefere manter uma projeção que classificou como “conservadora”, devido a fatores como o esperado crescimento das importações de peças e veículos completos.
MERCADO EXTERNO
As exportações de autopeças, majoritariamente destinadas ao mercado de reposição ou para empresas multinacionais de um mesmo grupo, também apontam para cima, devem somar US$ 7,4 bilhões em 2017, valor quase 13% superior ao de 2016, e para 2018 é esperada nova alta de 6,5%, para US$ 7,9 bilhões. “Aumentamos nossa competitividade e partimos em busca de clientes”, afirma Ioschpe, citando a participação do Sindipeças e seus associados em quatro feiras internacionais este ano, além de duas missões comerciais ao exterior e dois eventos para compradores estrangeiros realizados no Brasil.
O dirigente lembra ainda que as vendas de veículos brasileiros no exterior crescem acima de 50% este ano, para nível recorde de 750 mil unidades, e no ano que vem os fabricantes falam em exportar 1 milhão. “Isso com certeza nos ajuda a vender mais fora do País”, afirma Ioschpe. “O importante é que aprendemos com a crise a não depender excessivamente do mercado doméstico, colocamos foco em exportar e isso deve continuar pelos próximos anos”, avalia.
No sentido contrário, as importações também estão crescendo com valores acima do das exportações. As peças estrangeiras devem somar US$ 12,8 bilhões este ano, em avanço de 8,4% sobre 2016, o que resulta em expansão de 2,6% no déficit da balança comercial do setor, para US$ 5,4 bilhões. Conforme prevê o Sindipeças, essa tendência deve se aprofundar em 2018: as compras externas de componentes estão projetadas em US$ 15,5 bilhões, alta de 21%, fazendo o saldo negativo da balança subir 41%, a US$ 7,6 bilhões.
“De fato as importações estão acelerando mais rápido do que as exportações. O principal fator para isso são os lançamentos de vários novos modelos que, de início, são fabricados com maior número de componentes importados”, explica Ioschpe. “O que temos de fazer é continuar com o trabalho de acelerar as exportações com a busca de novos mercados, principalmente fora da América do Sul, como já estamos fazendo. Estamos melhores do que antes, mas ainda somos tímidos em mercados externos na comparação com outros países”, diz.
CAPACIDADE E INVESTIMENTOS
Com o crescimento na produção de veículos no País e nas exportações de autopeças, a ociosidade das fábricas vem sendo reduzida mês a mês este ano. A média de ocupação chegou a 68% em outubro passado, resultado ainda abaixo dos 75% de 2013, mas já bastante superior aos 51% observados um ano antes. Com isso, investimentos e empregos também estão voltando a crescer no setor.
O conjunto de cerca de 250 empresas que reportam dados ao Sindipeças, que agregam 90%$ do faturamento dos associados, informam expressivo aumento porcentual de 19% nos investimentos deste ano, somando em torno de R$ 1,9 bilhão, mas é esperada expansão bem maior para 2018, de 35%, para 2,5 bilhões. “A maior parte desses aportes é para o desenvolvimento de novos produtos e melhorias na produção para aumentar a competitividade, pois no momento não há necessidade de aumento de capacidade”, explica Ioschpe.
O avanço do número de postos de trabalho se dá em ritmo bem mais lento. O setor deve fechar o ano com 164,6 mil empregados, em ligeira alta de 1,5% sobre 2016, e para 2018 é esperado aumento de 5% no contingente, para 172,8 mil pessoas. “Como não há necessidade de expansão da capacidade, também não houve grande número de contratações, mas a volta daqueles que estavam afastados em layoff”, pontua o dirigente.
FUTURO
Para os próximos anos, o Sindipeças trabalha com a expectativa de que a economia siga em crescimento moderado, descolada das influências da política. “É difícil dizer o que vai acontecer depois das eleições do ano que vem, mas o que se espera é a continuação de uma construção macroeconômica responsável, com lições aprendidas”, avalia Ioschpe. “O fato é que as perspectivas estão melhores, seguimos conservadores, mas até pouco tempo não víamos no horizonte a produção de 3 milhões de carros no País em 2020”, completa. A entidade projeta produção de 2,8 milhões em 2018, de 2,9 milhões em 2019 e 3 milhões em 2020, chegando a 3,3 milhões em 2022.
Sobre as discussões em torno do Rota 2030, o novo programa de desenvolvimento do setor automotivo que se encontra empacado em divergências com a Fazenda sobre incentivos fiscais, Ioschpe diz que “não é importante se o plano vai ser este ano ou se fica para depois, o importante é que saia o mais rápido possível com regras claras e preocupação com o desenvolvimento da cadeia de fornecedores, com visão de curto, médio e longo prazos”, diz. Para ele, é razoável o incentivo à pesquisa e inovação direcionado também ao setor de autopeças: “É preciso aumentar o alcance dos programas já existentes para incentivar a própria industrialização do País”, defende.