Fim do parcelamento sem juros

Fim do parcelamento sem juros: turismo precisa acompanhar o desfecho. Da hotelaria às agências de turismo, passando por empresas aéreas e locadoras de automóveis, toda a indústria funciona com esse modelo de pagamento.

 

Um assunto anda pipocando na grande imprensa, mas parece ainda passar ao largo da atenção dos hoteleiros – e também da indústria de viagens como um todo. Muito embora tudo ainda esteja em estágio inicial de discussão pelo sistema financeiro, o possível fim do chamado PSJ (Parcelamento Sem Juros) no cartão de crédito certamente traria reflexos negativos e importantes na demanda do setor, visto que limitaria o consumo de viagens, uma vez que o poder de compras dos consumidores seria afetado.

Olhe para o lado e, de fato, talvez não se encontre players do turismo que não usem o PSJ.

Na área de turismo, todas as empresas operam com esse modelo de pagamento. Isso é, da hotelaria às agências de turismo, das empresas aéreas às locadoras de automóveis. Dados da Abranet (Associação Brasileira de Internet), que congrega fintechs e afirma ter 70 milhões de clientes de serviços financeiros digitais, apontam que as compras parceladas representariam metade das transações com cartões de crédito no país.

Mesmo sem citarem a fonte da informação, várias matérias publicadas recentemente na imprensa falam que as compras parceladas movimentam R$ 1 trilhão por ano, ou 10% do PIB (Produto Interno Bruto). Ok, parte expressiva desse volume de recursos não deságua no turismo, mas com certeza seria muito dinheiro deixado na mesa pelo setor, caso a proposta de fim do PSJ avance.

Várias entidades de classe ligadas ao setor de comércio, além do Sebrae, prontamente se manifestaram contra a medida, que está atualmente em estudo por um grupo formado por BC (Banco Central), representantes dos maiores bancos do país e Ministério da Fazenda.

Assinaram o Manifesto pelo direito de continuar fazendo compras parceladas sem juros:

A Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag), Associação Brasileira de Internet (Abranet), Associação Brasileira de Academias (Acad Brasil), Associação de Lojistas do Brás (Alobrás), Conecta, Parcele na Hora, Proteste, Euroconsumers Brasil, União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco), além do Sebrae.

O documento é uma resposta à possibilidade de limitar essa forma de pagamento, sugerida por Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, aponta a Jovem Pan. Segundo as entidades, o parcelamento sem juros não pode ser associado a uma ideia de irresponsabilidade financeira dos consumidores. “Restringir o PSJ é restringir a competição e privar a população, o varejo e a economia como um todo de uma ferramenta essencial”. De acordo com o Sebrae, o alto valor cobrado nos juros do rotativo pode prejudicar o funcionamento das empresas e impedir o consumo das famílias.

Visão do turismo

Procuradas pela reportagem do Hotelier News, várias entidades ligadas à indústria de viagens se posicionaram sobre o tema.

Manoel Linhares, presidente da ABIH Nacional, ressalta que um possível avanço da medida apreensão ao setor hoteleiro. Ele ainda ressaltou que, segundo dados da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), o parcelamento sem juros representa cerca de metade das operações via cartões de crédito no Brasil.

Fim do parcelamento

“Diante desses números, é fácil perceber a importância dessa modalidade para diversos setores da economia, entre eles a hotelaria, setor que também concentra micro e pequenas empresas que se utilizam muito dessa forma de pagamento para atrair clientes. Restringir esse mecanismo irá reduzir o consumo, afetar inúmeros negócios e aumentar ainda mais a inadimplência entre os consumidores”, acrescenta Linhares.

Ana Biselli, presidente executiva da Resorts Brasil, disse que ainda é preciso entender e aprofundar melhor como a medida vai se dar. “Agora, de imediato e numa avaliação superficial, acho que podemos ter um efeito negativo, especialmente no curto prazo. Isso porque muitos brasileiros acabam consumindo por meio dessa solução parcelada e o tempo vai dizer o impacto da medida na percepção dos clientes”, acrescenta.

Já o FOHB destacou que a compra parcelada é uma realidade no Brasil e o turismo, enquanto segmento que trabalha com aspirações, sonhos e desejos, é um serviço muito adquirido por parcelamento.

“Dependendo das medidas que se pensam ser tomadas, é preciso cautela, para que não seja uma interferência negativa para o setor. É preciso serenidade e um distanciamento, para termos a certeza de como novas medidas afetarão o segmento de fato”, comentou a entidade.

Alfredo Lopes, presidente do HotéisRIO (Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro), afirma que o primeiro impacto da medida seria uma redução drástica no consumo. “As compras parceladas são 60% ou mais da cadeia produtiva da cadeia de viagens e turismo. O brasileiro tem essa cultura do parcelado. Estimular os descontos nas compras à vista é o melhor  que pode ser feito. Isso sim poderia ser interessante e precisa ser mais defendido. Porque o consumidor terá total consciência de que, no parcelado, vai acabar pagando ainda mais sobre o valor de um produto ou serviço”, pontua.

Procuradas, a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) e a Abav-SP (Associação Brasileira de Agências de Viagens de São Paulo) preferiram não se manifestar. Assim também como a CVC Corp, que trabalha com o parcelamento sem juros.

Entenda mais

Nas última semanas, declarações do Banco Central e do governo federal colocaram em pauta essa forma de pagamento tão comum entre os brasileiros. Afinal, há um risco, de fato, de o parcelamento no cartão de crédito acabar? A discussão sobre o tema começou após uma declaração de Roberto Campos Neto, presidente do BC, no Senado. Ele citou um incômodo por parte do órgão com o sistema atual de financiamento. O que permite os correntistas dividirem as compras em até 13 vezes sem juros. De acordo com ele, a entidade estuda uma espécie de “tarifa” para controlar a compra no crédito em muitas parcelas. Isso é o que pode levar o consumidor a perder o controle da fatura.

“Não é proibir o parcelamento sem juros, é simplesmente tentar fazer com que eles fiquem um pouco mais disciplinados, numa forma bem faseada, para não afetar o consumo”, destacou o presidente do BC na ocasião.

Ele ressaltou que, atualmente, o cartão de crédito responde por 40% do consumo no Brasil. Para ele, uma das situações que fazem os juros serem tão altos é a grande utilização do parcelamento de compras por prazos mais longos. Isso aumenta o risco de crédito para instituições financeiras e, consequentemente, os juros.

Na mesma ocasião, o BC também sinalizou a possibilidade do fim do crédito rotativo.

Essa modalidade entra em vigor quando o consumidor não paga o valor integral da fatura e o restante está incluído no crédito rotativo do cartão. No entanto, os juros sobre o crédito rotativo são os mais altos do mercado, podendo atingir uma taxa de 454% ao ano. Conforme Campos Neto, a proposta ainda está em estudo e não foi fechada. Deve ser apresentada pelo BC uma solução para o que é considerado um dos “grandes problemas” do endividamento brasileiro. Em um prazo de até 90 dias. O Tribuna de Minas revela que a inadimplência no rotativo atinge a marca de 52%.

Fonte: hoteliernews.com.br

Fim do parcelamento sem juros: turismo precisa acompanhar o desfecho.

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