Tecnologia inteligente pode melhorar o trânsito
Unindo softwares e o conceito de processamento de borda, é possível promover uma revolução na engenharia de tráfego.
Com o trânsito pesado das grandes cidades brasileiras e as deficiências do transporte público (especialmente a falta de mais linhas de metrô) é natural que o motorista sonhe em poder usufruir de avanços na mobilidade urbana observada em várias partes do mundo. Em geral há um sentimento de ser este um sonho inalcançável, os investimentos exigirem muito recursos financeiros, a nossa engenharia de tráfego estar atrasada, a infraestrutura não suportaria e outras desculpas.
No entanto, algumas sérias deficiências em metrópoles gigantescas como São Paulo, estão longe de encontrar justificativas. Um exemplo é o programa de semáforos coordenados (Semco) iniciado no final de 1996. Ele permite a criação da “onda verde”, ou seja, os sinais vão mudando de vermelho para verde desde que todos os veículos se mantenham dentro da velocidade média permitida. O Semco não teve as ampliações necessárias, nem manutenção regular, causando grande frustração.
Uma das maiores causas de estresse é o motorista arrancar e encontrar o próximo semáforo mudando de verde para vermelho, mesmo sem nenhum pedestre para atravessar na faixa ou trânsito vindo da rua transversal. Ele para, espera, acelera e encontra a mesma situação 100 metros adiante. O Semco nas cidades brasileiras poderia lidar melhor com essa situação, porém faltam decisões. Até mesmo sinais convencionais não são bem cuidados. Há pelo menos uma pane, em média, a cada 50 minutos na cidade de São Paulo. Se chover muito, piora.
Novas tecnologias, contudo, entregam soluções eficientes e mais baratas, dispensando, por exemplo, o corte do asfalto para instalação de laços indutivos que exigem manutenção periódica. Em vez disso, câmeras modernas podem fazer a detecção de veículos e extração das informações apenas pela imagem. Unindo softwares e o conceito de processamento de borda (dando mais poder aos equipamentos e utilizando de forma eficiente os meios de comunicação), é possível promover uma pequena revolução na engenharia de tráfego.
Essa é a opinião de Ian Robinson, engenheiro eletricista e gerente de marketing na Pumatronix, empresa brasileira de alta tecnologia que fabrica e desenvolve soluções para ITS (sigla em inglês para Sistemas de Transporte Inteligentes). Ele complementa:
“O que se observa diante de um congestionamento? Para muitas pessoas, são apenas veículos. Mas, ITS permite conhecer mais sobre o tráfego e os próprios carros. Algoritmos especializados podem “ler” quantos veículos estão presentes na imagem, qual a categoria (moto, ônibus, caminhão, carro), quais eram suas velocidades estimadas no momento do registro, por quanto tempo estiveram ocupando a via e obter a assinatura digital, entre outras informações.
“Captar todos esses dados só é possível graças a algoritmos que estão cada vez mais inteligentes e eficazes. Fazem diversos cálculos e análises comparativas em frações de segundos. Podem até mesmo ser ensinados e têm capacidade de aprender tudo o que pode ser identificado nas imagens, por meio de métodos de desenvolvimento baseados em inteligência artificial e machine learning (aprendizado de máquinas).”
Robinson finaliza, lembrando que esses sistemas permitem que controladores alterem em tempo real a sincronização dos semáforos, reprogramando o tempo de verde e vermelho em cruzamentos específicos. O uso de câmeras permite, ainda, acessar esporadicamente uma imagem do cruzamento e verificar possíveis incidentes de trânsito. Assim, a onda verde pode avançar conforme o entendimento do fluxo dos veículos.
Por que até hoje algo assim não foi implantado em larga escala é o que frustra o cidadão motorizado. Ele paga impostos pesadíssimos não só na hora da compra, como “pinga” todo ano nada menos de 4% do valor do seu veículo a título de imposto de propriedade durante até 20 anos. Em outros países há apenas taxa anual de circulação bem mais módica. E ITS, lá fora, é uma realidade.
FONTE: iCarros