Irmãos criam startup especializada no transporte dos 60+
Aplicativo Eu Vô, que opera na capital paulista e em São Calos (SP), tem motoristas que acompanham as pessoas nas compras, em consultas e outros compromissos
Foi a partir de uma necessidade de família que os irmãos Victoria e Gabriel Barboza, respectivamente com 27 e 30 anos, idealizaram um negócio pioneiro no mercado: um aplicativo de transporte dedicado aos 60+, ou pessoas a partir de 60 anos de idade. “Nossa mãe tem esclerose múltipla, uma condição que tem diminuído sua autonomia ao longo dos anos. Quando percebemos que ela estava cada vez mais isolada e triste, por não conseguir sair de casa, pensamos que seria muito bom se existisse um serviço que além de transportá-la oferecesse apoio e companhia para compromissos diversos”, explica Victoria Barboza, sócia-fundadora do Eu Vô, serviço que acabou sendo muito procurado também por pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
Vivenciando essa dificuldade, Victoria conta que em 2017, quando começou uma pós-graduação em Administração de Empresas e passou a entender melhor o envelhecimento da população brasileira, percebeu que a necessidade de sua mãe será também a de uma parcela cada vez maior da nossa população. “Estamos envelhecendo de forma acelerada e quando tive acesso às projeções de aumento da expectativa de vida enxerguei uma excelente oportunidade de negócio, algo que ninguém tinha feito ainda”, explica.
Economia prateada
Com base nisso, no final de 2017, sem investimento e ainda sem apoio da tecnologia, Victoria e o irmão se transformaram em motoristas e começaram a atender pessoas com esse perfil que precisavam de transporte em São Carlos, interior do Estado de São Paulo. “Foi muito rico para entender o mercado e, principalmente, para vivenciar o contato com essas pessoas”, conta ela.
Segundo ela, essa experiência também mostrou que, além dos idosos, pessoas com deficiência e mobilidade reduzida passam pela mesma dificuldade para contratar transporte. “Entendemos como deveríamos nos comportar, o que falar, como fazer, ou seja, como oferecer o melhor atendimento”, conta a sócia-fundadora. “Em seis meses a demanda cresceu, conseguimos nesse período estruturar um treinamento completo para motoristas em parceria com um profissional especializado, o médico Egidio Dorea, e recebemos o prêmio Aging 2.0, um valor em dinheiro que nos deu o fôlego necessário para escalar nosso negócio”, conta Victoria.
Modelo de negócios diferenciado
Em setembro do ano passado, o aplicativo foi regulamentado para poder operar também na capital paulista. De maneira geral, trata-se de um serviço de transporte de porta a porta, em que os clientes optam, no momento da contratação, se querem que o motorista também os acompanhe em seus compromissos. “Muitos clientes precisam de ajuda para fazer compras, ou mesmo companhia para consultas médicas. Mas alguns só optam pelo transporte mesmo. Tudo isso é combinado no momento da contratação”, explica Victoria. O diferencial do Eu Vô em relação a outros serviços do tipo é exatamente o acompanhamento e todo o cuidado com os clientes. “Por conta disso, o tíquete médio da corrida é um pouco mais alto que o oferecido no mercado, assim como a remuneração do motorista, que também recebe pelas horas como acompanhante”, explica a sócia-fundadora.
Para contratar o serviço, é preciso fazer o pedido com no mínimo três horas de antecedência, o que pode ser realizado por meio do aplicativo, do site, via WhatsApp ou mesmo por telefone. “Somos omnichannel porque sentimos que algumas pessoas têm dificuldade com tecnologia”, diz a sócia fundadora. Além de fechar uma corrida individualmente, os usuários também podem contratar pacotes.
Treinamento presencial
Todos os motoristas – atualmente a empresa conta com 80 condutores capacitados e há uma fila de espera de 3.200 interessados – passam inicialmente por uma avaliação psicológica, que define se têm perfil para atender esse público. Depois, participam de um treinamento presencial com duração de quatro horas. Maurício Aparecido Scarassatti Bailão, 54 anos, trabalha como motorista no Eu Vô desde outubro do ano passado. “O treinamento foi muito importante porque aprendemos a lidar com idosos e deficientes da melhor forma, levando em conta as características e fragilidades dessas pessoas”, conta Bailão.
Ele explica que muitos pedem, além do transporte, o serviço de acompanhamento. “Normalmente os idosos pedem ajuda para compras como mercado e papelaria, e os deficientes, para acompanhá-los ao médico. Os acompanhamentos levam, em média, 60 a 120 minutos”, explica. E completa: “Os clientes se afeiçoam e nos solicitam novamente no próximo compromisso”, finaliza Bailão.
FONTE: Estadão