Vale a pena comprar carro no Brasil? Especialistas respondem
Ontem, o governo federal anunciou medidas para reduzir o preço dos carros populares por meio de descontos em impostos federais, com planos para diminuir o valor dos veículos de entrada em ao menos 1,5% e no máximo em 10,96%.
Mesmo com a adoção da medida, prevista para os próximos quinze dias, Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos automotivos na Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que o consumidor deve sempre pensar no quanto o carro deve depreciar ao longo dos anos.
Veículo foi fabricado nos últimos 42 anos e foi o mais vendido em 27 deles
— Há marcas de carros que depreciam menos, enquanto outras depreciam mais. Qual será a diferença entre o valor de compra e o valor de revenda? O consumidor deve considerar isso. É preciso amortizar o investimento — lembrou o especialista.
Além disso, existem diversas despesas que se somam ao custo final da compra de um automóvel, mas não existem na locação ou em serviços de carros por assinatura. É o caso de gastos com emplacamento e licença, que subiram 22,13% nos últimos doze meses, segundo o Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA).
Preço dos carros em alta
O Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) também encareceu neste ano por ter seu pagamento calculado com base no preço dos veículos, que tiveram aumento significativo depois da pandemia.
A crise sanitária paralisou grande parte das montadoras e o choque na oferta pressionou os custos de automóveis zero quilômetro. Com as despesas repassadas ao consumidor, a inflação entre carros novos chegou a 5,19% nos últimos doze meses.
Isso tornou o mercado de segunda mão mais atrativo, levando o preço do usado a subir. Mesmo assim, no acumulado em doze meses, a variação ainda é negativa em um ponto percentual.
Ao mesmo tempo, os custos de mão de obra para manutenção aumentaram. Em grande parte, dizem especialistas, porque os brasileiros deixaram de vender carros usados para comprar modelos novos, diante de um cenário de juros mais altos.
— Quanto mais você segura esse bem durável, mais aumenta sua necessidade de manutenção. Por mais que o preço do combustível tenha caído, os serviços de manutenção não estão em tendência de queda — disse Matheus Peçanha, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Outro ponto foi o aumento das apólices de seguro para automóveis. A inflação acumulada em doze meses ficou em 11,65%, segundo os dados do IBGE. Para Roberto Lima Filho, professor de Engenharia de produção da Coppe/UFRJ, o aumento no valor pode estar relacionado ao fim da pandemia, quando o volume de carros nas ruas voltou a subir.
Mais uma consequência da pandemia foi o aumento da demanda por serviços de aluguel de veículos, que tiveram um encarecimento da ordem de 6,48% nos últimos doze meses.
Entre 2020 e 2022, o tamanho da frota de alugados no Brasil subiu de 80 mil veículos para 110 mil, segundo a Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla).
Mas André Campos, sócio fundador e CEO da empresa de aluguel de veículos For You Fleet, diz que o consumidor brasileiro ainda tem dificuldade de comparar os custos entre manter um carro e alugar um veículo de acordo com as suas necessidades.
— Não se considera o preço alto que se paga no carro, fora que é um bem que se desvaloriza com o tempo. Considerando também custos como seguro e financiamento, o gasto é ainda maior. Fora a falta de comodidade. Se você bater com o carro, o trabalho de levar para a seguradora é seu e você ainda fica sem carro — disse.