10 passos para o dinheiro render em 2014
O ano de 2014 poderá ser sensacional para você, mas dificilmente será bom para a economia brasileira. Chegamos a dezembro com inflação alta, juros elevados e pouco crescimento, sem nenhum sinal de que esse quadro melhorará nos meses à frente. O cenário poderá piorar, por vários motivos: o mercado financeiro facilmente fica agitado e pessimista durante eleições, as contas públicas estão piorando, o país talvez perca o status de destino seguro para investimentos estrangeiros, a inflação poderá acelerar em vez de ficar onde está, protestos e desorganização ameaçam a Copa do Mundo. Nenhum desses riscos é desprezível. Juntos, incomodam bastante. E têm poder para derrubar tanto os preços de ações quanto a disposição das empresas em geral para comprar, investir, contratar e promover. Por isso, a maioria dos brasileiros deve considerar 2014 um ano para jogar na defesa. Em vez de correr riscos em investimentos e jogadas mirabolantes, é o momento de proteger cada real ganho e de fazê-lo render o máximo possível. Siga os passos indicados, responda honestamente e confira se sua vida financeira está em ordem para enfrentar eventuais turbulências. Você…
…espera sobrar para poder poupar?
É tentador organizar o dinheiro de acordo com a conta R-G=P (a renda menos o gasto é igual ao que sobra para poupar). Para a maioria das famílias, a conta dá errado. Os gastos, determinados pelo padrão de vida, costumam se expandir com a renda – ou, pior, mais rapidamente que a renda, por causa das ofertas de crédito fácil que se multiplicam à medida que o sujeito prospera. É mais provável que não sobre o suficiente, ou que sobre apenas um valor inexpressivo. Se essa foi sua tática até agora, experimente inverter a conta para R-P=G. A renda menos a meta de poupança define o que sobra para gastar, e não o contrário. A partir de suas metas e prazos, defina quanto guardará. Gaste o resto. Com uma vantagem adicional: o gasto será feito sem culpa.
…economiza de verdade?
ou só se priva do cafezinho? Um sujeito extremamente disciplinado e apreciador de um cafezinho após o almoço pode superar essa vontade. Basta que, todos os dias, ele se concentre e contente-se em cheirar o café de quem está ao redor. Ou deixe de participar da roda de conversa ao redor da tentadora bebida quente. Um café economizado por dia de trabalho, ao longo de dez anos, significa… nada. Deixar de tomar o cafezinho, assim como privar-se de qualquer outro pequeno prazer, só tem sentido se fizer parte de uma estratégia de poupança – se o valor dos cafezinhos não bebidos se somar a outros valores economizados, e o bolo resultante for aplicado com método e objetivo. Caso contrário, o pretenso poupador, por mais disciplinado e bem-intencionado que seja, apenas dispensará prazeres simples necessários a uma vida boa. O consultor financeiro Raul Shalders, da Winston & Shalders, considera 10% da renda mensal como um tipo de piso para a poupança. Economia relevante é feita a partir desse nível.
…só poupa, em vez de investir?
Conter os gastos e guardar ao menos 10% do que se ganha são passos importantes para uma vida financeira saudável. Mas só se o dinheiro for investido com atenção. A tendência de longo prazo é os juros caírem. De março de 2003 a março de 2013, a taxa básica despencou de 26,5% para 7,25% ao ano. Não se deve contar apenas com juros para fazer multiplicar o dinheiro a usar no futuro distante, como a aposentadoria. Mas ninguém pode se dar ao luxo de dispensar ganhos que surgem nos momentos de alta, como o atual – desde março, a taxa subiu para 10%, e não parece que ela cairá tão cedo. As instituições do mercado financeiro, segundo uma consulta periódica feita pelo Banco Central, acreditam que a taxa ficará ao menos nesse nível até o fim de 2014. Pode-se aproveitar a alta por meio de investimentos seguros e simples como títulos públicos comprados pelo Tesouro Direto, fundos de renda fixa e CDBs atrelados aos juros básicos (CDI). Pelas regras atuais, a poupança se torna bem competitiva diante de fundos de renda fixa quando a taxa básica de juros está só um pouco acima de 8,5% ao ano (nível ultrapassado em maio de 2013, no atual ciclo de alta). Agora, a taxa básica de juros está de volta aos 10% e a poupança volta a perder grande parte dos fundos (procure taxas de administração inferiores a 1,5%).
…mexe demais em seus investimentos?
Se você saca dinheiro de seu fundo de emergência ou de fundos com renda variável a cada três meses, isso é um sinal. Não de que você seja um piloto arrojado de finanças, e sim de que sua estratégia está furada. Mexer no fundo de emergência deveria ser algo raro. Se ocorre com muita frequência, você deveria incorporar os motivos dos saques a sua lista de gastos rotineiros (mesmo que sob o rótulo vago de “imprevistos”, enquanto tenta compreendê-los melhor). Os investimentos que incluem renda variável – ações, fundos imobiliários e fundos multimercado, entre outros – deveriam resultar de decisões bem pensadas, algum dinheiro sobrando e paciência para ver resultados. Nada disso combina com fazer saques a todo momento.
…mudou de vida, mas não de investimentos?
Suas finanças estão adequadas para alguém entrando no mercado de trabalho, sem filhos e pronto para embarcar num cruzeiro para solteiros? Maravilha! Bem, nem tanto, se sua vida está mais para meio da carreira, com filho prestando vestibular e casa própria em obras. A estratégia financeira, assim como a dieta e o guarda-roupa, precisa ser atualizada a cada fase da vida. Ela precisa incluir as novas metas, necessidades e responsabilidades. Fazer esse reajuste exige alguma disposição, assim como mudar os hábitos alimentares ou começar a fazer exercício.
…se autodefine com rótulos como “arrojado”?
As perguntas e as conclusões apresentadas por alguns gerentes de banco e consultores financeiros preguiçosos induzem o poupador a um erro: achar que seus investimentos poderão ser acomodados de acordo com um de três tipos de personalidade imutáveis: “conservador”, “moderado” e “arrojado”. Assumir atitudes de acordo com esses rótulos seria tão razoável quanto organizar os investimentos de acordo com o horóscopo. “Em vez de rotular sua personalidade, rotule partes de seu patrimônio”, diz Sinara Polycarpo, superintendente de investimentos do Banco Santander. “Dependendo dos objetivos, aplique parte de seu dinheiro de forma conservadora e outra parte de forma arrojada.” Quem tem dívidas e dependentes não deve sair investindo de forma arriscada, mesmo que se considere “arrojado”. Quem tem folga de caixa e muito tempo até precisar usar o dinheiro tem de considerar diversificar os investimentos e colocar parte deles em renda variável, mesmo que se considere “conservador”. E essas condições mudarão a cada fase da vida – daí a necessidade de adequar os investimentos a essas fases.
…não sabe a diferença entre INSS e PGBL?
Outra forma de entender essa pergunta é: você pensa seriamente na aposentadoria? “Seriamente” significa não apenas juntar dinheiro, e sim dar respostas honestas a perguntas incômodas. Você tem o melhor plano de previdência possível? Planeja trabalhar até que idade? Vai parar de uma vez ou reduzir o ritmo aos poucos? Sua carreira atual oferece trabalho até que idade? Depois de encarar as respostas, defina um plano realista (ele pode incluir um plano B ou segunda carreira, para quando você estiver mais velho). Denise Hills, superintendente de educação financeira do Itaú Unibanco, afirma que esse plano deve ser sua segunda maior prioridade (a primeira é organizar um fundo para emergências, como perda de emprego).
…participa de tudo que oferece sorteio?
Uma boa meta para 2014 é ignorar as ofertas que ofereçam sorteios. Isso vale para investimentos e seguros. O sorteio não significa que o produto seja ruim. Se você gosta de sorteios, a presença de um deles significa que você terá dificuldade em avaliar a qualidade real do que é oferecido.
…confia em apenas uma fonte de renda?
A meta vale tanto para casais como para indivíduos: organize a vida de forma a multiplicar as fontes de renda. Entram aí os dois salários do casal (em vez de um só), rendimentos de investimentos, dividendos de ações, aluguéis de ações, aluguéis de imóveis, trabalhos extras nas horas vagas e participações em negócios. Num primeiro momento, o que importa nesse quesito é dar mais segurança à família, pela diversificação das fontes de renda, e experimentar possibilidades, para que você saiba, para além do emprego principal, de que fonte é possível obter o máximo de retorno (de preferência, com a melhor combinação possível entre o máximo de prazer e o mínimo de estresse).
…quer juntar muito dinheiro para um grande investimento?
A lógica de reunir mais dinheiro antes de investir funciona em alguns casos. Vale a pena juntar dinheiro na poupança antes de investir num fundo de renda fixa, se isso permitir a entrada num fundo que cobre taxa de administração mais baixa, inferior a 1,5%. Também vale a pena juntar mais dinheiro antes de comprar um imóvel, a fim de dar uma entrada maior e reduzir as prestações. Mas postergar a decisão de investir é ruim em outros casos. Há quem despreze o rendimento da caderneta de poupança ou a possibilidade de investir um pouco em ações e prefira esperar ter muito dinheiro disponível para começar. Bobagem. É melhor investir regularmente, mesmo que pouco de cada vez, do que esperar que uma quantia maior esteja disponível.
Por Marcos Coronato, da Época.