Dólar é luz no fim do túnel para economia
O economista e consultor Luiz Carlos Bresser Pereira acha que a fase mais aguda da crise política passou e que, talvez em 2016, “graças ao câmbio”, pode haver alguma recuperação da economia. Porém, ele critica com veemência as sucessivas altas dos juros.
Como o senhor está vendo a recessão da economia? Estávamos numa recessão em outubro do ano passado, na época das eleições, e não sabíamos. Essa crise aconteceu por causa da violenta queda do preço das commodities exportadas pelo Brasil. Em cima disso, os empresários, desde 2013, tinham ficado extremamente insatisfeitos com o governo e perderam a confiança, com pouca disposição para investir. Essas duas coisas fizeram com que a economia brasileira, que é cíclica como qualquer outra economia, entrasse em crise. Isso se agravou porque naquele momento a Dilma estava cometendo seu grande erro.
Houve erros na economia?
Hoje se culpa a Dilma por todos os males do Brasil. Isso é falso, mas a Dilma cometeu um grande erro, quando viu que as duas políticas fundamentais adotadas para retomar o crescimento, a depreciação cambial, que ela conseguiu fazer em 20%, e a baixa dos juros, não funcionaram. Ela acreditou que a política industrial resolveria. E por política industrial ela entendeu as desonerações de diversos setores. Isso custou uma quantidade enorme de dinheiro. Não teve efeito. As empresas não estavam investindo desde o começo do governo, e a crise piorou. Quando surgiu a notícia de que o superávit primário tinha caído de 1,6% ou 1,7% (do PIB) em 2013 para -0,6% em 2014, configurou-se uma crise fiscal e a situação tornou-se pior do ponto de vista de perda de confiança do governo e de aprofundamento da recessão.
Os erros na economia não estão por trás da recessão, então?
Todos os países da América Latina, todos os países exportadores de commodities, sempre foram isso. E o Brasil voltou a ser isso. Destruiu sua indústria e hoje é um exportador de commodities. O crescimento dos países latino-americanos caiu de quase 5%, em 2010, para 1% em 2014. Com a subida do preço das commodities, a “doença holandesa” em todos os países, se agravou. A sua gravidade depende das commodities: quando o preço cai muito, ela pode até desaparecer; quando sobe bastante, fica altíssima. A “doença holandesa” é a apreciação forte da taxa de câmbio causada pelos recursos naturais abundantes e baratos.
Com o dólar a R$ 3,50, o câmbio pode ajudar a economia?
Ajuda muito. Como sou economista, acredito no mercado. A grande maioria das empresas, com o câmbio a R$ 3,50, está competitiva. Prefiro R$ 3,60, mas se elas acharem que esse câmbio vai continuar mais ou menos nesse nível, vão investir para exportar ou vão substituir importações, de forma sadia. Volta a tornar as empresas competentes a serem competitivas.
O que explica uma recessão tão grande em 2015?
Já estávamos com a economia muito frágil, semiestagnada, desde 1990, por causa do câmbio. Em cima disso, vieram a queda das commodities, a perda de confiança na presidente, o superávit primário que desapareceu e os juros que vinham aumentando. O BC vinha desde 2013 aumentando os juros, com a economia desaquecida. E continuou. Depois que ficou claro que estávamos em recessão, eles continuaram a aumentar, o que é uma loucura completa, é um escândalo. O BC aproveitou-se da fraqueza do governo para se resgatar do erro que acha que cometeu em 2011, o que é absurdo.
Do O Tempo.