“Enxergo uma desarticulação da cadeia produtiva”
Lucas Pêgo é diretor executivo da Abrasel-MG, Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, cuja sede nacional é em Belo Horizonte. A Abrasel foi a responsável pela criação da campanha “Simplifica, Brasil”, sobre a qual Pêgo conversou em entrevista à equipe do SINDLOC-MG.
O que é o “Simplifica, Brasil”?
O “Simplifica, Brasil” é uma campanha que a Abrasel adotou este ano no sentido de simplificar o empreender no Brasil, e a plataforma que nós utilizamos para isso é a rua. Nós acreditamos em uma cidade onde as pessoas possam ter uma maior qualidade de vida, podendo morar mais próximas ao local de trabalho, ter próximas às suas casas atividades de lazer, bares e restaurantes, tudo conciliado em um único espaço. É uma campanha um pouco complexa, que abarca todos os impasses que a Abrasel já encontrou até hoje, e que são comuns à maioria dos comércios no Brasil. Resolver o empreendedorismo no Brasil é resolver muitos problemas.
E quais são as bandeiras da campanha?
A campanha fala de muitas coisas. Reduzir a burocracia, facilitar a abertura de empresas, diminuir leis. Só no setor de alimentação fora do lar são tantas leis que não sabemos nem contar, algumas são redundantes, com diferenças entre legislação federal, estadual e municipal. A gente acredita que burocracia = custo. Tanto para o país, para a máquina pública, quanto para o empresário e para o consumidor. Então a gente passa pela desburocratização, pelas regras de convivência, pela oportunidade de emprego para o jovem.
Como entra a oportunidade de emprego para o jovem?
Aí eu destaco que a Abrasel sempre foi a favor de uma atualização na nossa CLT [Consolidação das Leis de Trabalho]. Nossa CLT é muito antiga, foi feita para a indústria, e não reflete o que as empresas da atualidade precisam em termos de legislação. Só o setor de bares e restaurantes soma 1 milhão de negócios, mais empresas de eventos, que tem que trabalhar de certa forma de maneira ilegal do ponto de vista trabalhista. Se você não consegue se planejar para um determinado número de pessoas, por exemplo. Vou dar o exemplo das montadoras de estandes: um dia elas podem ter um evento no Expominas, para montar o Expominas todo, e no resto do mês podem ter só três estandes pequenos. É muito difícil para uma empresa que trabalha com essa demanda pontual fazer uma equipe fixa, com folha de pagamento fixa. O que seria ideal tanto para o setor da alimentação fora do lar e para esses outros setores seria o trabalho eventual, o trabalho intermitente, como a Abrasel chama. É muito simples, é o que os Estados Unidos adotam atualmente, a pessoa ganha por horas trabalhadas, não precisa cumprir uma carga horária fixa. Todos os direitos trabalhistas são mantidos, férias, décimo terceiro. Tem muitas pessoas que poderiam estar trabalhando, mães, estudantes, donas de casa, que tem que disponibilizar seu tempo para outras coisas, mas talvez teriam três ou quatro horas para dedicar por dia ao trabalho. Hoje no Brasil o jovem estuda até os pais poderem sustentá-lo, depois ele larga o estudo pelo trabalho, porque são oito horas seguidas de trabalho.
O “Simplifica, Brasil” tem algum objetivo legal ou judiciário, ou é mais uma conscientização sobre o tema?
Nosso objetivo é atingir diversos públicos, tanto a sociedade como um todo, quanto os setores organizados da sociedade. Mas nós também visamos atingir nossos governantes, e para isso estamos fazendo reuniões com eles, e nossos legisladores, para quem estamos apresentando a campanha. A desburocratização não passa por um projeto de lei, mas por várias leis, por uma mudança de pensamento.
Quais são os maiores entraves que você enxerga no turismo em Minas?
Eu enxergo uma certa desarticulação entre os diversos entes da cadeia produtiva. Institucionalmente até somos articulados, por exemplo, as representações dos setores de agências de viagens, de bares, de turismo em geral. Mas quando chega no âmbito das empresas, falta muita articulação. Os bares e restaurantes que fazem promoções poderiam divulgar isso melhor com as empresas de locadoras de automóveis, por exemplo. Para beneficiar o turista, para ele sentir que o destino é competitivo em relação aos outros, tanto em BH quanto em Minas Gerais. Acredito que apesar de termos muitos atrativos, quando falamos de produto pronto para ser comprado na prateleira, deixamos muito a desejar. Um pacote turístico gastronômico, por exemplo, poderia ser comprado com a hospedagem, com as passagens, tudo junto. Um bom exemplo de sucesso nisso é Bonito, no Mato Grosso de Sul. Eles conseguiram fazer um pacote com todos os atrativos, você tem que comprar um único voucher e aí tem acesso a todos os serviços relativos ao turismo. Aí ninguém fica de fora.
O que Minas Gerais tem de mais forte para o turismo?
Algo de muito competitivo que temos em Minas Gerais é a gastronomia. Competitivo porque é um produto que nós só temos aqui, que é valorizado fora de Minas e fora do Brasil, que tem raízes históricas e que tem identidade com o público mineiro. Você já ouviu falar em gastronomia paulista, carioca? Não tem. Nós temos tanto ingredientes, quanto pratos, formas de preparo, receitas e até utensílios, como colher de pau, tacho de cobre, panela de pedra, são utensílios autênticos da comida mineira.
De acordo com a Abrasel, qual seria o cenário ideal para os bares e restaurantes?
O cenário ideal para nós é esse das cidades compactas, que conciliam várias atividades num mesmo espaço, as ruas multifuncionais, com as ruas vivas, com as pessoas mais na rua, convivendo mais umas com as outras do que dentro de casa. Nós temos um exemplo aqui em Belo Horizonte, o bairro Mangabeiras, que é um bairro rico, de casas luxuosas, mas as pessoas não transitam, só passam de carro. É um bairro morto, porque não tem comércio. A gente quer que as pessoas que não têm dentro de casa opções de lazer como os moradores do bairro Mangabeiras têm, tenham bares e restaurantes por perto como uma opção de lazer, que é democrática e acessível.
De que modo as associações, os sindicatos, as entidades representativas de um modo geral podem se unir para melhorar e profissionalizar mais o setor de turismo de Minas Gerais?
Participando mais ativamente dos órgãos colegiados, como o Conselho Estadual de Turismo, o Conselho Municipal de Turismo. Tem o Fórum Mineiro das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. Participar mais das atividades e discussões sobre urbanismo, como o Conselho Municipal de Política Urbana. A sociedade tem participado pouco desses diálogos, tanto a sociedade organizada quanto a não organizada.
Por Camila Bahia Braga, da Revista SINDLOC-MG.