Ética, essa palavra

Ética: conjunto de questões e preceitos que se relacionam aos valores morais e à conduta humana. Esta é a definição básica do termo pelo dicionário Caldas Aulete, um conceito às vezes esquecido por alguns empresários do ambiente comercial. O livre mercado permite com que as empresas sejam competidoras, concorrentes, contudo, infere a necessidade do bom senso e da ética profissional, no respeito a alguns limites no processo de conquista de clientes e aumento de seus dividendos.
Entre os problemas morais descritos por empresários do setor de locações de automóveis, o aliciamento de funcionários é o mais incômodo. Saulo Froes, do Grupo Lokamig, sofreu as consequências desse problema recentemente e conta que o aliciamento é uma prática antiga, frequente e que necessita da colaboração de todo o setor para ser inibida. “É preciso discuti-la em conjunto, pois quem a pratica ou aceita, muitas vezes, não tem ideia da dimensão de suas consequências”, comenta.
O caso basicamente obedece a um padrão. Uma empresa nova, ainda sem experiência, sem funcionários preparados e buscando aparecer no mercado, oferece salários mais altos, bonificações, entre outras vantagens, para um empregado já experiente de uma empresa consolidada. O empresário aliciador aposta no fato de que trazer um bom funcionário de outra empresa trará por consequência os clientes e o know how da empresa concorrente, e que também gastará menos por não precisar de realizar sua capacitação. Para isso, oferece vantagens financeiras bem acima dos valores de mercado. A empresa na qual trabalha o funcionário perde, porque terá de contratar um novo trabalhador e ensiná-lo todos os processos e procedimentos. E, assim, cede, sem nenhum custo ou escolha, um profissional preparado e íntimo da empresa a um concorrente.
Entretanto, nos lembra Saulo, “uma negociação fora da realidade é prejuízo na certa” e esse empresário usualmente não consegue manter o valor para o funcionário. Este, então, que costuma abrir mão do seguro desemprego, sofre para conseguir outro trabalho. Ou seja, trocou a segurança e experiência de uma empresa pelas promessas de outra. Saulo ainda atenta que “no mercado, as grandes e até as médias empresas, por hábito, não contratam funcionários que tenham trabalhado em concorrentes. Um dos motivos são os “vícios” que são difíceis de reverter”, explica. Assim, funcionário e empresa aliciadora perdem a credibilidade e a confiança das outras empresas, fecham portas e parcerias que lhe poderiam ser frutíferas. “Uma empresa sem ética não tem sucesso duradouro, está fadada a não se manter no negócio. Os números e estatísticas do setor indicam isso, as empresas que pensam ser ‘mais espertas’ acabam desaparecendo”, conclui o diretor da Lokamig. E salienta que a melhor, mais lucrativa e ética opção é desenvolver planejamento estratégico que treine e capacite os próprios funcionários. De forma que este entenda as especificidades, crie identidade junto à empresa e entenda as possibilidades de crescimento que ela proporciona.
Isa Marotta, da Intercities Turismo e Rent a Car, lembra de ter passado várias vezes pelo mesmo problema de perder funcionários para outras empresas. No caso dela, por causa das oportunidades de promoções que as grandes empresas oferecem. “Competir com grandes corporações é muito difícil. Mesmo as pequenas empresas oferecendo incentivos e bônus, perdem para as grandes empresas, que tem maiores possibilidades de carreira”, lembra.
O empresário André Alvim, da Conexão Rent a Car, lembra que nesse jogo de contratação, os profissionais também são responsáveis. “Recebemos com certa frequência currículos de funcionários de outras locadoras, ainda empregados, buscando oportunidades”, conta. O que evidencia que a culpa nem sempre é do empresário que contrata, mas do professional que se encontra insatisfeito com a empresa onde atua.
Ricardo Moreira, da Executivo Service Motoristas, viu a sua empresa servir de fachada para um dos seus funcionários montar um concorrência. “Tive um funcionário de altíssima competência certa vez, mas que com o passar do tempo, formou uma empresa dentro da minha, com diversos clientes nossos, com o uso das nossas máquina, do nosso escritório, telefones e e-mail´s. Ele montou uma concorrência dentro da minha própria empresa! Isso causou muitos transtornos e enorme baixa de faturamento, além das perdas significativas de alguns importantes clientes”, relata Ricardo.
O advogado e assessor jurídico do SINDLOC-MG, Adriano Castro, também defende que as empresas podem desenvolver estratégias no âmbito interno para evitar tal problema, “a melhor defesa é adotar boa política de pessoal, e o melhor ataque é oferecer boas oportunidades de crescimento e reconhecimento para funcionários talentosos”, acredita. Adriano nos lembra também que em alguns casos o aliciamento de concorrentes pode ser considerado crime de concorrência desleal. Que, em linhas gerais, caracteriza-se principalmente quando o funcionário divulga informações ou dados confidenciais da empresa na qual trabalhava ou quando recebe vantagens para beneficiar concorrente ou fornecedor. “São comuns problemas principalmente no setor de compras e contratação das empresas, nas quais os funcionários recebem ‘comissões’, ou seja, propina, para dar preferência a determinados fornecedores”, observa o advogado.
União, força e representação
Para Leonardo Soares, o sindicato é um meio para inibir essas ações e evitar tais problemas. “Os empresários associados tem acesso aos cursos, treinamentos, palestras oferecidos pelo SINDLOC-MG, e, com isso, a possibilidade de desenvolver as capacidades necessárias ao meio e criar o espírito de conjunto. Até porque não adianta ter um funcionário que não esteja conectado com a empresa, de acordo com sua visão, missão e valores. E isso cada empresa irá desenvolver de acordo com suas buscas”, comenta.
Ricardo acredita que o caminho para um concorrência leal é a união. “Aqui na Executivo Service primamos pela ética e lutamos por parcerias limpas e transparentes. Unidos somos muito mais”, diz ele. Para Isa, talvez seja preciso criar um código de ética do setor, instituindo penalidades.
Para Saulo, as empresas locadoras precisam se conscientizar do que suas entidades podem fazer pelo seu negócio. Muito mais do que concorrentes, os associados do sindicato são parceiras. A representação que busca pensar os princípios e reger forças coletivas ao contrário do pensamento unitário. Talvez esse seja um dos princípios maiores da ética.
BOX I
Lei 9278/1996, art. 195.
Comete crime de concorrência desleal quem: […] IX – dá ou promete dinheiro ou outra utilidade a empregado de concorrente, para que o empregado, faltando ao dever do emprego, lhe proporcione vantagem;
X – recebe dinheiro ou outra utilidade, ou aceita promessa de paga ou recompensa, para, faltando ao dever de empregado, proporcionar vantagem a concorrente do empregador;
XI – divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos, informações ou dados confidenciais, utilizáveis na indústria, comércio ou prestação de serviços, excluídos aqueles que sejam de conhecimento público ou que sejam evidentes para um técnico no assunto, a que teve acesso mediante relação contratual ou empregatícia, mesmo após o término do contrato;
XII – divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos ou informações a que se refere o inciso anterior, obtidos por meios ilícitos ou a que teve acesso mediante fraude; ou […] Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
Da Revista SINDLOC-MG.

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