Jorge Rebelo lista 10 medidas para reforçar Turismo
O presidente do grupo português Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida, escreveu um artigo de opinião com dez propostas para fortalecer o Turismo brasileiro. Ao longo do texto, Rebelo faz críticas à gestão do setor no País, que acolhe apenas seis milhões de estrangeiros por ano enquanto a França – com área próxima a da Bahia – recebe 70 milhões de turistas no mesmo intervalo.
Confira as medidas sugeridas pelo executivo lendo o artigo na íntegra.
A relevância do Turismo como motor de recuperação econômica:
10 medidas para reforçar o Turismo
O Turismo é hoje a nível mundial uma das grandes apostas dos países para o seu desenvolvimento econômico. O Brasil reúne um impressionante acervo de atrativos turísticos, entre tantos outros:
– Povo afável e hospitaleiro
– Diversidade cultural e paisagística
– Imensos territórios para desbravar
– Música
– Gastronomia
– História
O País parece não querer valorizar esta sua grande riqueza e o número de turistas estrangeiros não ultrapassa os seis milhões. Com uma população de 200 Milhões de pessoas, o Brasil tem um enorme turismo interno com um gigantesco potencial de crescimento. Mas a grande aposta é a captação de turismo externo que corresponde à exportação de bens e serviços e à obtenção de divisas (Euros/Dólar e etc.) tão necessárias para o Brasil hoje.
Sendo certo que a França (com a área da Bahia) recebe 70 milhões de turistas, a Espanha 50 milhões, a Turquia 25 milhões, o México 20 milhões e o pequeno Portugal mais de 15 milhões, não pode o Brasil deixar de ter como meta a curto/médio prazo ter pelo menos 10 milhões de turistas estrangeiros.
O Turismo tem um enorme potencial para absorver mão de obra; para gerar riqueza de uma forma transversal na economia e para promover a evolução cultural da população, sendo ainda a indústria da paz e amizade.
Muitas das ações para aumentar a atratividade turística são antes de mais do interesse da população local, como é o caso da melhoria das infraestruturas públicas, da segurança, da formação, da requalificação urbana e tantas outras, Mas nada cai do céu e é preciso tomar medidas.
Para que uma aposta séria no Turismo possa surtir efeito não bastam medidas soltas e desgarradas como tem acontecido. É indispensável um plano de ações coordenadas e complementares a nível nacional, estadual e municipal, com reforço de meios e ações de um Ministério do Turismo e de uma Embratur fortes e bem estruturadas.
Para além de se assumir com convicção, o turismo como atividade estratégica para o desenvolvimento económico, o que apesar de óbvio é frequentemente esquecido, sugerimos 10 medidas para serem implementadas a nível nacional:
1. Acessibilidades, transporte aéreo e incentivos
Sem acessibilidades não há turismo! Para além de fomentar os transportes rodoviários e ferroviários o grande desafio do Brasil é o transporte aéreo. Dado que os aeroportos têm beneficiado de grandes melhorias é tempo de captar mais voos, e sobretudo, de voos low cost.
Uma das principais justificativas para a falta de turistas estrangeiros é a ineficiente malha aérea internacional e os preços elevados da malha interna. Uma ligação aérea da Europa para as Caraíbas tem um custo incomparavelmente menor do que para o Brasil.
É indispensável definir uma política de transporte aéreo para captar voos “charters”, “low cost” e voos regulares com incentivos à semelhança do que acontece noutros destinos com sucesso e êxito.
2. Segurança
Este é um delicado problema que não se resolve com magia, mas com mais trabalho, criação de emprego, ações sociais, etc. É importante criar a consciência dos “media” [jornalistas e formadores de opinião] para não “exagerarem”””””””” sobre insegurança, sendo certo que prejudicam a imagem do País.
Como a questão não se resolve de imediato em todo o País é preciso criar pólos turísticos para que a segurança seja reforçada para assegurar tranquilidade aos turistas.
3. Infraestrutura
Esta uma das graves carências no Brasil que, na minha opinião, poderá ser melhorada com parcerias público-privadas e concessões de serviços públicos a empresas privadas.Uma vez mais terá de existir um plano que dê prioridade às áreas turísticas para melhorar a imagem de marca do Brasil.
4. Incentivos fiscais
Atrair novos investimentos sustentáveis e estruturantes com impostos a taxas reduzidas, criação de desconto para as empresas que reinvestem os lucros e as mais valias em novos projetos geradores de riqueza.
5. Incentivos financeiros
– Financiamento de projetos de interesse municipal, bonificadas (linhas de crédito).
– Criação de bolsas de terrenos com infraestrutura de qualidade para vender a novos investidores a custos controlados para projetos turísticos.
– Criação do conceito de projetos estruturantes do turismo (PET).
Estes projetos poderão ser financiados pela bancada privada com a maior capacidade de avaliação e eficácia, sendo o custo da bonificação do juro suportado pelo Estado.
6. Formação
Esta é uma questão fundamental num plano estratégico para o Turismo, tendo em vista a valorização da oferta turística. As instalações hoteleiras de qualidade são vitais para a atração turística do País, mas sem pessoal capacitado, o insucesso é muito provável.
Também não adianta fazer ações de formação desligadas da realidade empresarial. É aconselhável que estas ações sejam resultantes de parcerias público-privadas, com envolvimento das empresas e dos governos a todos os níveis. É igualmente recomendável a criação de Escolas de Gestão Hoteleira no Nordeste.
7. Simplificação do licenciamento dos projetos turísticos
Para atrair novos investimentos, é urgente a criação de um regime “simplex” de licenciamento destes projetos. É muito importante garantir rigor e exigência em matérias de qualidade arquitetônica e de integração ambiental para o futuro do Brasil, mas torna-se necessário que as regras sejam claras e transparentes e que as decisões sejam rápidas e fundamentadas.
8. Promoção turística
Este é um tema crucial no plano estratégico global. A primeira reflexão é a de que a promoção não é um ato isolado e abstrato. Só faz sentido falar em ações de promoção do Brasil em mercados onde estejam já criadas condições de ligação aérea ao Brasil ou em que existam propostas concretas para garantir essa acessibilidade.
Em rigor as ações de promoção devem ser feitas para terem utilidade e eficácia em conjunto com as companhias de transporte aéreo e com os demais agentes do setor do Turismo (hotéis, agentes de viagens, operadores turísticos, locadoras, empresas de eventos, empresas de animação turística e outros).
Ou seja, o que se deve promover e vender não é um produto em abstrato, mas um pacote integral e concreto, com intervenções conjuntas dos vários agentes para que se possa fechar o negócio. Não adianta realizar ações de promoção sem criar condições para que se faça a venda efetiva do destino. Não adianta fazer promoção em 50 mercados sem condições para ter impacto.
Os meios são escassos e, por isso, é preferível eleger alguns mercados preferenciais e aí apostar em força com visibilidade e, sobretudo, com retorno. Mais do que grandes campanhas, importante é fazer contatos de proximidade com propostas globais concretas, com imaginação e inovação. E mais do que nunca apostar nos canais on-line.
9. Requalificação e revitalização dos centros históricos
Este é um tema que me é muito querido. Uma cidade que não cuida do seu centro histórico perde a sua alma.
Para os residentes, para os turistas, para os jovens e para todos em geral, é urgente recuperar os centros das cidades e não se trata aqui de meras ações estéticas. É preciso restaurar os edifícios para perpetuar a sua memória histórica, mas é fundamental dar-lhes vida e sentido econômico. Por isso, têm de se criar condições para habitação para jovens, ateliês, escritórios, espaços de cultura para que os centros possam reviver.
A procura turística internacional tem focado muito neste tipo de oferta nos últimos anos e com tendência crescente.
10. Saúde e Educação
São duas áreas muito relevantes para o bem-estar dos povos e também para atratividade turística em duas vertentes:
– Povos educados, felizes e saudáveis recebem melhor quem nos visita, apresentando uma energia positiva.
– Para os turistas é fundamental que o país ofereça serviços de saúde com qualidade para os atender em qualquer emergência.
Há também um turismo de saúde a fomentar e promover. Está é uma área das que o Brasil também poderia apostar com uma oferta de serviços de saúde da cirurgia plástica à cardiologia, com perspectivas de êxito e sucesso.
Estas algumas simples sugestões para implementar um plano estratégico de turismo.
Do Panrotas.