Peugeot e Embraer desenvolvem carro com material sustentável
Um laboratório voltado para o desenvolvimento de materiais sustentáveis para interiores de aeronaves foi o pontapé inicial para a construção do 208 natural, carro conceito resultante de uma parceria entre a Embraer e a PSA Peugeot Citroën. O resultado será apresentado no Salão Internacional do Automóvel de São Paulo 2014, que acontece entre 30 de outubro e 4 de novembro.
O carro foi concebido pelo Centro de Estilo da PSA na América Latina, e contou com a participação de mais de 200 profissionais multidisciplinares de 20 empresas instaladas no Brasil. “Este carro é uma homenagem ao Brasil. Seu conceito é 100% brasileiro, pois utiliza fontes sustentáveis trabalhadas localmente”, diz o gerente de Estilo de Cores e Materiais da PSA para América Latina, responsável por todas as fase de desenvolvimento e produção, Fabien Darche.
Com cerca de 68 quilos de material sustentável, o 208 Natural possui rodas de alumínio de 17 polegadas que receberam um tratamento de superfície conhecido como “anodine”, aplicado nas partes externas das aeronaves. O banho de anodine, segundo Darche, além de deixar o material mais resistente, torna o alumínio menos permeável ao ar, garantindo melhora no consumo de combustível.
O monograma aplicado na parte traseira do carro tem desenho inspirado no pau-brasil, árvore que é parte do projeto de reflorestamento promovido pela Peugeot na Fazenda São Nicolau. A peça, segundo a montadora, foi produzida na base de uma chapa laminada de bambu e recortada com tecnologia a laser.
No interior do carro, um dos destaques é o para-sol em jornal reciclado transformado em um material parecido com madeira. Darche ressalta que o trabalho foi desenvolvido em parceria com um grupo de artesãos do projeto social Rede Asta, do Rio de Janeiro. A peça recebeu uma selagem transparente para garantir mais proteção ao produto final.
O couro de Pirarucu, um dos maiores peixes de água-doce do mundo, originário da Amazônia, deixou de ser privilégio do mundo da moda no país. O material, na cor marrom, foi aplicado de maneira decorativa nos bancos do carro, além de revestir detalhes do painel de instrumentos e os apoios dos braços das portas. O couro de salmão foi utilizado no freio de mão e na alavanca de câmbio.
A parte interna do teto foi revestida em cortiça tingida na cor salin. Por suas propriedades térmicas e acústicas, a cortiça foi utilizada por ser excelente isolante. Os tapetes do carro usam um misto de elementos, como silicone, cortiça, couro bovino natural e o laminado de bambu tingido.
O carro impressionou a matriz da Peugeot e a parceira com a Embraer deve prosseguir. “Já temos discussões sobre a continuidade da parceria, pois o objetivo é juntar forças que possam ser aplicadas em soluções globais para a indústria automotiva e aeronáutica”, ressaltou Frederico Battaglia, diretor de marketing da Peugeot no Brasil.
Para a Embraer, o benefício da parceria, segundo o vice-presidente de Relações Institucionais e Sustentabilidade, Nelson Salgado, é o complemento das pesquisas desenvolvidas pela empresa, através da utilização prática dos materiais no carro conceito. O intercâmbio de conhecimentos e de profissionais entre a indústria aeroespacial e automobilística, de acordo com o executivo, sempre existiu, mas é a primeira vez que se faz o desenvolvimento conjunto de um carro-conceito.
A maioria dos materiais utilizados no carro saiu do laboratório de desenvolvimento de conceitos de materiais da Embraer. O laboratório tem a função de estimular a cultura de exploração de materiais de baixo impacto ambiental (metais, cerâmicas, polímeros, produtos têxteis e compósitos) ainda não disponíveis no mercado.
“Não temos conhecimento de nenhuma outra biblioteca de materiais naturais tão completa quanto a nossa”, disse. As pesquisas da empresa com materiais sustentáveis para interiores de avião começaram em 2007, como oportunidade para usar elementos nacionais no interior dos jatos executivos. Os materiais utilizados no 208 Natural ainda não foram aplicados nos aviões, mas podem ser empregados nas futuras gerações de aeronaves.
Por Virgínia Silveira, do Valor Econômico.