Ter ou não ter sócios?
Um dos grandes dilemas dos empreendedores, principalmente aqueles de “primeira viagem”, diz respeito a sócios.
Muitas dúvidas pairam sobre o empreendedor em qualquer estágio do negócio. Pode ser no momento de iniciar a jornada ou já com o negócio em operação.
Ter ou não ter sócios? Com qual perfil? Como escolher? É melhor alguém que já conheço, de minha confiança? Ou melhor um desconhecido? Por que eu preciso de um sócio? Quais as vantagens? Desvantagens? Qual o melhor momento? Qual o objetivo do sócio entrante?
“Palpiteiros” não faltam nessa hora, afinal, não precisa procurar muito para encontrar histórias de amizades rompidas por uma sociedade que deu errado. Ou ainda pior, famílias destruídas pelo mesmo motivo, e que, para piorar, causa ainda um certo “clima de mal-estar” nas festas natalinas ou de aniversários.
Muitos inclusive comparam sociedade com um casamento. Casamento são vínculos afetivos e emocionais entre duas pessoas… sociedade não! O vinculo afetivo pode até existir, mas com o negócio e seu propósito! Contudo, confesso que muitas das relações entre sócios parecem mesmo com um casamento! Principalmente no momento do divórcio ou na ruptura societária.
Já ouvi frases como “é melhor ter 50% de um negócio de sucesso do que ter 100% de um negócio fracassado”.
Enfim, opiniões não faltam.
Ter ou não ter sócios depende de vários fatores. Não há uma resposta única. E nem uma receita ou fórmula pronta. E isso é bom!
Você pode querer um sócio para alavancar ou expandir o negócio. Para compartilhar despesas e responsabilidades. Para sair do mundo corporativo…
O importante é fugir das armadilhas que naturalmente são criadas pela empolgação de iniciar algo junto e que depois pode se tornar um grande pesadelo.
Vejo empreendedores que não gostariam de ter sócio, mas por questões financeiras acabam “abrindo mão”, só que de maneira artificial. No fundo, pensam que quando as coisas “decolarem” poderão se “livrar da outra parte” comprando suas cotas ou algo do gênero. E a partir desse pensamento, não avaliam (ou ignoram) os demais aspectos relevantes para o sucesso da sociedade, como por exemplo avaliar os reais objetivos da outra parte envolvida.
De fato, conheço diversos casos de sociedades fracassadas, mas felizmente conheço muitos casos de sociedades duradouras, com empreendedores que trabalham há décadas juntos. Uns já eram amigos antes de iniciarem o negócio, outros se tornaram grandes amigos ao longo dessa jornada.
Importante ter ciência de que existem diversos tipos de sócios. Não vou caracterizar todos, apenas vou exemplificar alguns mais emblemáticos como aquele sócio que não quer trabalhar no negócio e só quer aportar dinheiro / recursos. Esse tipo de sócio busca retorno financeiro, seja através de distribuição de lucro ou visa vender suas cotas no futuro.
Tem o sócio que aporta relacionamento. Abre portas, gera oportunidades de negócios. Muitas vezes “empresta” seu prestígio e seu nome / reputação ao negócio.
Existe também aquele sócio que vai trabalhar no negócio, ajudar na operação, cuidar de uma área específica. Ou seja, estará diretamente envolvido no dia-a-dia.
Nos exemplos citados fica fácil identificar os objetivos da outra parte e ver se são compatíveis com os seus. O problema é que muitas vezes os objetivos não são tão claros, como por exemplo aquele sócio que aporta dinheiro no negócio, mas na verdade busca criar uma atividade profissional para um filho, genro, cunhado ou qualquer outro parente próximo que por sua vez irá trabalhar na empresa. Fuja dessa armadilha, a não ser que você tenha certeza absoluta que as competências profissionais dessa pessoa irão contribuir para o negócio.
Sendo assim, o importante é ter clareza sobre quais são seus objetivos e os ganhos concretos com a entrada de um sócio. Tente responder cada uma daquelas perguntas do início do artigo e, assim, tenha a certeza que os objetivos do novo sócio são compatíveis com os seus, inclusive o estágio de vida desse sócio, pois isso muitas vezes incompatibiliza a relação no médio / longo prazo.
Tenha clareza sobre o papel e expectativas de cada parte. Aprofunde o debate sobre isso, não tenha receio de esclarecer esses pontos. Gaste o tempo que for necessário agora, pois lá na frente fica mais difícil.
Só tem mais um alerta que quero fazer. Talvez o mais relevante.
Você tem que estar preparado para ter um sócio! Sociedade requer empenho, diálogo, respeito, compartilhamento de informações, decisões, alinhamento de expectativas.
Não se trata apenas de preparar a empresa para a entrada de um novo sócio, e sim preparar a si próprio.
Se você estiver pronto para ter um sócio, tudo fluirá. Caso contrário, não há santo que ajude! E depois, você ficará buscando “culpados” para o fracasso da sociedade e do negócio.
Mas então… pra você… vale a pena ter sócios?
Por Milton Camargo, do Administradores.com.br.