Empresas lançam aluguel de automóvel compartilhado
Ainda este ano, as duas empresas que criaram sites para permitir a transação direta vão chegar ao Rio. A primeira é a Fleety, que começou em 2014, a partir de Curitiba, a montar esse tipo de plataforma no Brasil. Ela chega ao Rio no mês que vem para oferecer o serviço que funciona assim: quem tem carro se cadastra no site, põe o seu preço para aluguel por hora, dia e semana e espera as solicitações, que podem ser aceitas ou não. Há um seguro custeado pelo site de compartilhamento e uma parcela do aluguel vai para os administradores da plataforma.
A franquia do seguro é informada juntamente com outros dados do carro. Os proprietários demonstram seu amor e bom humor ao tentar atrair o locatário. Desde simples descrições a apelos para conquistar o freguês e sensibilizá-los para zelar pelo bom trato dos carros que passarão para mãos alheias temporariamente, como o dono do Polo fala do seu automóvel:
“Polota, para os íntimos, este carro é o suprassumo da beleza e funcionalidade. É bom para viajar, andar na cidade, ir pro rolê, estacionar, transportar algo grande ou pesado, fazer compras, tudo, tudo, tudo. O carro em si está tinindo trincando. Tem um som maneiro. Pra você que quer acumular histórias, esta é a opção ideal.” Nos sites, é flagrante que se está alugando um carro com uma história. Ele é de alguém. Nas avaliações, é possível ver que até amizades se formam com os aluguéis repetidos. Como os sistemas são georreferenciados, pode-se tentar encontrar um perto de casa ou do trabalho.
E vale quase tudo para atrair interessados. Um anúncio de Nissan Tiida tentava cativar o internauta pela seleção musical: “carro não apresenta falhas e tem vários CDs nostálgicos que você pode ouvir”.
Para quem quer impressionar, o aluguel de um carro chique por duas ou quatro horas é acessível, segundo André Marin, presidente da Fleety:
– Numa locadora normal, não se conseguiria alugar uma BMW. Um utilitário pode custar a metade do preço, a R$ 150 por dia.
Mas a oferta desses objetos de desejo é limitada na Pegcar:
– Nosso seguro só cobre carros até R$ 70 mil. Mas pode-se encontrar alguma Mercedez 2007, 2008 – diz Conrado Ramires, um dos sócios da Pegcar.
Ramires e Bruno Hacad, o outro sócio, lançaram a plataforma recentemente em São Paulo, em outubro do ano passado. Tem cem veículos para alugar. Começaram com os próprios carros e R$ 20 mil de cada um.
– Meu carro, de longe, é o mais compartilhado do site. Os familiares também emprestaram seus carros.
O advogado Guilherme Sanchez Pinheiro, de 28 anos, diz que chega a ganhar mil reais com a renda extra, usada para reformar o apartamento. O carro está sempre disponível, e o advogado vai para trabalho de ônibus em São Paulo. Nunca teve problemas, mas o conforto do carro traz saudades:
– Quando terminar de pagar a reforma do apartamento, vou deixar de alugar. Levo o dobro do tempo para chegar ao trabalho, suado.
Segundo Hélio Mattar, do Instituto Akatu, apesar de não tirar os automóveis da rua, a iniciativa do carro compartilhado diminui o impacto das emissões da produção de veículos. Segundo ele, em média, o carro é usado apenas 5% do dia pelo proprietário. O ideal, segundo ele, é associar o veículo compartilhado à carona solidária, citando outra estatística: em média, a ocupação nos automóveis é de 1,2 pessoa:
– Os carros ficam parados nas garagens do trabalho ou das casas.
Marin destaca como vantagens do serviço a liberdade de escolher o tipo do carro, por qualquer período e o preço, que pode chegar à metade do valor cobrado pelas locadoras tradicionais.
A dificuldade de Ramires e Hacad para lançar a empresa foi achar uma seguradora. O compartilhamento de carros alugados exigia um serviço novo: o seguro por poucas horas e de diferentes tipos de carro e valor.
– Procuramos dez seguradoras até encontrar a Mapfre, que aceitou fazer o seguro – diz Sanches.
Marin, da Fleety, diz que as locadoras tradicionais já começam a ficar de olho no novo serviço. Ele já foi procurado por algumas delas para entender como funciona o compartilhamento de carros alugados. Certamente, nas locadoras tradicionais, não há o “veículo maneiro”, que tem vários CDs interessantes, de Spice Girls a Carlinhos Brown, que é um “bicho na lama”, como define o dono de um utilitário.