Escassez global de chips começa a afetar outras indústrias, além da automobilística e de tecnologia
As locadoras de automóveis também estão sentindo os efeitos, já que não podem adquirir os modelos que desejam. A Hertz e a Enterprise já teriam, inclusive, recorrido à compra de carros usados de baixa quilometragem em leilão.
As montadoras e as empresas de tecnologia não são mais as únicas afetadas pela escassez global de chips. Como a demanda por esses dispositivos continua a superar a oferta, mais setores começam a ser atingidos, com impacto na vida de milhões de pessoas ao redor do mundo.
Segundo Alan Priestley, analista da consultoria americana Gartner, os consumidores invariavelmente sofrerão com a crise. “Ou eles não conseguirão encontrar algum produto ou os preços estarão mais altos”, disse ele, em entrevista à CNBC.
Na semana passada, a falta de componentes chegou à produção de aparelhos de televisão e eletrodomésticos da Samsung. “Estamos discutindo com varejistas e grandes canais sobre planos de abastecimento para que possamos alocar os componentes aos produtos que têm mais urgência ou maior prioridade em termos de abastecimento”, indicou Ben Suh, chefe de relações com investidores da multinacional sul-coreana..
Koh Dong-jin, co-presidente-executivo e chefe móvel da Samsung comentou, em uma reunião com acionistas em março, que havia um sério desequilíbrio na oferta e na demanda de chips no setor de TI. Na época, chegou-se a cogitar adiar o lançamento do próximo smartphone Galaxy Note.
Na LG, por sua vez, conforme reportagem no The Financial Times, os executivos estão monitorando a situação de perto, “já que nenhum fabricante pode ficar livre do problema, caso a escassez se prolongue”.
Aparelhos de uso diário em risco
Segundo a CNBC, a produção de processadores de baixa margem, como os usados em máquinas de lavar e torradeiras inteligentes, também foi atingida e, embora a maioria dos varejistas ainda tenha acesso a esses produtos no momento, eles podem enfrentar complicações nos próximos meses.
Até mesmo as empresas do ramo da veterinária estão sofrendo. Uma reportagem do The Washington Post destacou que a CCSI, fabricante americana de cabines eletrônicas de lavagem de cães, foi informada recentemente por seu fornecedor de placas de circuito que os chips usuais não estavam disponíveis.
Para lidar com a situação, muitas companhias –principalmente as da China que foram atingidas por sanções– estão aumentando seus estoques dos dispositivos para tentar sobreviver à tempestade. Mas isso só está agravando ainda mais a crise global.
A indústria automobilística, que usa chips para tudo, desde o gerenciamento de motores até os sistemas de assistência ao motorista, ainda é a mais atingida. Montadoras como Ford, Volkswagen e Jaguar Land Rover fecharam fábricas, demitiram trabalhadores e reduziram a produção de veículos.
Outras, de acordo com a Bloomberg, estão deixando de fora os recursos de ponta. A Nissan, por exemplo, retirou os sistemas de navegação dos carros que normalmente os teriam. A Ram Trucks parou de equipar certos modelos com um espelho retrovisor “inteligente” padrão que monitora os pontos cegos. E a Renault optou por não instalar uma tela digital de grandes dimensões atrás do volante de alguns veículos.
As locadoras de automóveis também estão sentindo os efeitos, já que não podem adquirir os modelos que desejam. A Hertz e a Enterprise já teriam, inclusive, recorrido à compra de carros usados de baixa quilometragem em leilão.
Problema complexo
Pelos cálculos dos técnicos da maior fabricante de chips do mundo, a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company), há material para atender à demanda automotiva até junho.
No entanto, Patrick Armstrong, CIO da Plurimi Investment Managers, acredita que este cronograma é altamente ambicioso e que a escassez deve durar 18 meses ainda. “Se você ouvir Ford, BMW, Volkswagen, todos eles destacaram que há gargalos de capacidade e não podem obter os chips de que precisam para fabricar os novos carros”, diz.
O problema na indústria automotiva é mais grave porque as fabricantes não utilizam os dispositivos mais avançados. “Elas tendem a usar chips feitos em processos de manufatura mais antigos e as empresas de chips estão obviamente se movendo em direção ao uso de produtos de ponta de alta receita e não estão investindo em sua capacidade nos processos mais antigos”, completa Priestley, do Gartner.
Mas por que a indústria não aumenta a produção dos dispositivos? Pode parecer simples, mas fazer esse tipo de alteração não se faz de uma hora para outra. “Você não pode ir de repente a um fornecedor de chips e dizer ‘me dê um milhão a mais de chips’…. É preciso um tempo de processamento’’, diz o analista. “Se eu fizer um pedido hoje e houver capacidade disponível, posso levar três meses ou mais para obter o produto.”
Fonte:Época Negócios