A guerra das locadoras

Localiza
Durante mais de uma década, a locadora de carros Localiza reinou, praticamente, sozinha no setor. Em 2005, foi a primeira a abrir capital na bolsa de valores e, em 2013, se tornou a maior da América Latina. Mas, nos últimos anos, o seu reinado vem sendo ameaçado por todos os lados. Aplicativos como Uber, Cabify, 99 e Easy, vêm conquistando boa parte de seus clientes. Não bastasse isso, a Movida e a Unidas, suas concorrentes diretas, anunciaram que pretendem abrir capital para ganhar musculatura em um mercado que movimentou R$ 16 bilhões no ano passado.
Previstos para este mês, os IPOs devem injetar cerca de R$ 800 milhões no caixa de cada uma delas, alimentando ainda mais a batalha entre as locadoras. “A Localiza joga pesado e não vamos deixar espaço para as concorrentes, mesmo que capitalizadas”, afirma Eugênio Mattar, CEO da Localiza, cujo faturamento foi de R$ 3,1 bilhões entre janeiro de setembro do ano passado, o último balanço consolidado disponível. A disputa promete ser acirrada. E a Localiza, com valor de mercado de R$ 8,2 bilhões, já deu mostras de que não vai ficar parada.
Em dezembro do ano passado, comprou a subsidiária brasileira da americana Hertz por R$ 337 milhões, e partiu para o ataque. Depois de saber por analistas de mercado que uma de suas concorrentes – leia-se Unidas ou Movida – estava usando informações equivocadas sobre a sua receita líquida mensal por agência no mercado, a empresa mineira reagiu. No dia 23 de janeiro, a companhia soltou uma nota ao mercado questionando os dados. Segundo a Localiza, que não citou a rival responsável, os números estavam defasados em 35%.
“Fizeram uma avaliação com pouca profundidade e preferimos esclarecer o erro”, diz Mattar. O fato é que o resultado será um processo de maior concentração em um setor muito pulverizado no País. Juntas, Localiza, Unidas e Movida respondem por apenas 38,8% do mercado, enquanto as três maiores dos EUA – Enterprise, Hertz e Avis – dominam 93,1%. “Os menores terão cada vez menos espaço, e os grandes irão buscar escala”, diz Luiz Alves, gestor do fundo Versa. O aumento do apetite por aquisições deve ser algo recorrente no setor neste ano.
Aumentar a escala será determinante para que as locadoras consigam reduzir seus custos de operação, como ter um desconto maior da montadora ao renovar sua frota, e ampliar sua rentabilidade ao vender o veículo em suas lojas de seminovos. Além disso, ganhar escala será fundamental para oferecer aos clientes preços mais baixos e novas tecnologias. Hoje já é possível contratar conexão wi-fi dentro dos carros ou mesmo realizar todo o processo de locação através de um sistema eletrônico.
A expansão dos negócios da Movida, controlada pela JSL, exemplifica esse movimento. De 2013 a 2015, após um aporte de R$ 1,8 bilhão, a empresa multiplicou por 21 sua receita, de R$ 58 milhões para R$ 1,1 bilhão. Nos nove primeiros meses de 2016, as suas vendas somaram R$ 1,4 bilhão, alta de 67,5% em comparação com o mesmo período do ano anterior. “Se não fosse a crise, estaríamos ainda melhor”, disse Renato Franklin, CEO da Movida, em entrevista à DINHEIRO, em maio de 2016.
A partir da abertura de capital, a Unidas tende a seguir um caminho semelhante. A empresa tentará recuperar a vice-liderança perdida para a Movida em 2016. De janeiro até setembro, a empresa apresentou receita de R$ 926 milhões. Controlada por fundos como Kinea e Gávea, além da americana Enterprise Holdings, uma das maiores do mundo no segmento rent a car, a Unidas divulgou que 50% do arrecadado em sua abertura de capital será focado na expansão e a outra metade para reforçar o caixa. Por estarem em período de silêncio, a Unidas e a Movida não concederam entrevista.
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A esperada injeção de recursos também pode ser perigosa para o setor. Para especialistas, uma guerra de preços deve afetar a rentabilidade do mercado. Um relatório do Citi aponta que um dos fatores de preocupação no setor é exatamente a possibilidade de um “comportamento irracional de concorrentes bem capitalizados.” O presidente da Localiza, porém, não acredita que as suas rivais serão ousadas a tal ponto e descarta entrar em uma guerra de preços. “Nós somos a única empresa das três que gera retorno sobre capital acima do custo de dívida”, diz Mattar. “Eles precisam focar no resultado, então é muito pouco provável que haja uma guerra de preço.”
Por André Jankavski, da Isto É Dinheiro.

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