Locadoras devem amargar mais um ano de oferta instável de veículos e alta de custos

Diante da crise persistente nas montadoras, as locadoras dificilmente verão a estabilização na entrega de veículos ainda este ano.

 

O preço médio dos carros permanece alto e a capacidade das empresas de locação repassarem aumentos nas tarifas permanece uma incógnita, num cenário de inflação preocupante. E uma crise persistente nas montadoras.

“Prevíamos que a oferta se estabilizaria no segundo semestre. Mas em vez de melhorar, houve piora na produção de alguns modelos. Podemos até começar a pensar na ‘normalidade’ do mercado em 2023, mas entre aspas. Não estamos conseguindo fazer qualquer previsão de longo prazo”, afirmou ao Broadcast o presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), Marco Aurélio Nazaré.

O cenário externo com guerra na Ucrânia, restrições na China e entraves na cadeia logística continua afetando as montadoras. Estão com linhas paralisadas por falta de componentes.

Embora as locadoras venham relatando melhora das entregas de carros, o cenário ainda é de desafios. Até abril, as compras do setor de locação caíram pela metade, em relação aos níveis pré-pandemia.

“Em termos de entregas de veículos, o segundo semestre deve ser mais apertado do que o primeiro. A reposição de frota está complicada com os preços atuais dos carros e estamos chegando no limite do repasse para os clientes”, afirma uma fonte do setor de locação.

A situação para as locadoras só não se agravou porque as vendas de automóveis no varejo estagnaram, diz Nazaré, diante da inflação e da perda do poder de compra do brasileiro. “Uma parcela do que seria destinada ao varejo está sendo vendida para as locadoras”, afirma. “Temos visto redução dos prazos de entrega, o que é um sinal positivo para suprir parte da nossa necessidade.”

Veículos mais caros

Por outro lado, as locadoras continuam pagando mais caro pelos veículos, principalmente porque as montadoras se voltaram para a produção de modelos mais caros, como SUVs (veículo utilitário esportivo). “A composição do mix das locadoras hoje é de maior valor agregado, as empresas continuam pagando mais caro por esse grupo de carros superiores”, diz Nazaré.

Segundo a sócia e analista da Nord Research, Danielle Lopes, as três maiores locadoras do País – Localiza, Unidas e Movida – já vinham relatando tíquete médio na compra de veículos em torno de R$ 65 mil, o que não deve cair. “Talvez no próximo trimestre esse valor chegue próximo a R$ 70 mil, não imagino algo diferente para este ano”, diz. “O que podemos ver é uma rapidez maior nas entregas dos carros, mas só devemos começar a falar de estabilização das encomendas no meio de 2023.”

Em relatório do Citi da semana passada, os analistas Stephen Trent e Filipe Nielsen afirmam que, em 2023, é provável que o cenário de pandemia e alta taxa de juros no Brasil “possa pressionar os preços e as margens do rent a car (RAC), à medida que os consumidores retornam aos escritórios e se voltam para o transporte público mais acessível”.

Para eles, os altos preços e margens do aluguel de carros e de seminovos “parecem improváveis” de durar para sempre. “À medida que a pandemia diminui e as taxas de juros aumentam, os consumidores tendem a optar por alternativas de transporte público mais acessíveis. Isso deve ocorrer mais rapidamente do que a normalização da produção global de automóveis. Potencialmente espremendo empresas como a Localiza, que deve recompor frotas antigas a preços altos. Enquanto os usados começam a cair”, disseram os analistas.

Descontos

Segundo Nazaré, até 2019 os descontos para locadoras eram bem mais altos. De 15% a 20% em média. “A partir de 2021, foram diminuindo”, diz. “Hoje, em alguns modelos, os descontos são praticamente inexistentes.”

Um executivo do setor afirma que os níveis de descontos para locadoras não vão melhorar. “Apesar de o varejo ter estagnado, a oferta da indústria ainda não consegue suprir toda a necessidade do mercado. Os descontos continuam os mesmos do período mais crítico da pandemia.”

De acordo com a Abla, o setor precisa de 400 mil a 450 mil veículos novos. Isso para repor somente a frota envelhecida. “Para atender à demanda em expansão por aluguel, as locadoras precisariam de aproximadamente 600 mil veículos no total”, afirma Nazaré.

Para ele, em 2022, as locadoras devem aumentar sua participação nas vendas da indústria automotiva. Caso as atuais projeções da Anfavea (associação que representa as montadoras) se confirmem, o setor de locação teria quase toda sua necessidade suprida para o ano. No entanto, é provável que a Anfavea revise para baixo suas estimativas. O que pode acontecer já na semana que vem.

“Em 2022, vai existir um déficit de carros renovados no setor de locação. Com a demanda ainda aquecida, não vamos conseguir renovar a frota como precisamos”, diz.

Fonte: broadcast.com.br

Crise persistente nas montadoras

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