Locadoras têm forte crescimento e refletem mudança de hábitos
Por: Gustavo Brigatto
Carro alugado ganha espaço como opção ao próprio e vira alternativa de renda
As três maiores locadoras de veículos do país mantiveram o ritmo de crescimento acelerado de suas atividades no segundo trimestre deste ano, mesmo em um ambiente de economia ainda fraca. Juntas, Localiza, Unidas e Movida tiveram um avanço de receita de 45%, para R$ 4,5 bilhão. O lucro avançou mais de um terço, para R$ 313,5 milhões. A frota totalizou 535,1 mil carros, 34% a mais que no mesmo período do ano passado.
O mercado de locação cresce não apenas descolado da crise dos últimos anos, mas, de certa forma, até como efeito dela. Com consumidores buscando novas formas de se movimentar pelas cidades, e reduzir gastos, a locação — diária ou por períodos mais longos — tem avançado como uma opção à compra de um carro. Quem está desempregado e busca em aplicativos como Uber e 99 uma alternativa de renda também tem recorrido às locadoras para não empatar dinheiro em um carro novo. No mundo corporativo, a busca por redução de custos tem levado empresas a trocarem frotas próprias por contratos de aluguel.
Segundo estimativa do banco Credit Suisse, o mercado de locação de veículos passará de um total de 396 mil carros no fim de 2018, para 945 mil na próxima década. Nesse período, as três companhias que já lideram o setor vão ganhar ainda mais poder de fogo, elevando sua participação de mercado de 74% para 89%. As empresas de menor porte devem manter a frota estável em 103 mil unidades. O banco projeta que a Localiza seguirá na liderança, triplicando sua oferta para 543 mil carros. A Movida mais que dobrará, de 63 para 142 mil e a Unidas também triplicará sua base — de 52 mil para 156 mil.
Na avaliação de Felipe Vinagre, do Credit Suisse, a locação de veículos para motoristas de aplicativos, destacadamente o Uber, deve ser um dos grandes motivadores desse incremento. Para ele, mesmo com a retomada da economia, a tendência é que o número de motoristas se mantenha alto, já que muita gente que buscou essa opção de trabalho na crise deve manter a alternativa aberta. “A renda obtida é maior que o salário mínimo e a jornada é mais flexível”, disse. O Brasil é hoje o segundo maior mercado do Uber, atrás apenas dos Estados Unidos. A estimativa é que existam no país 600 mil motoristas, que rodam com 450 mil carros. Desses, 360 mil são veículos alugados, sendo apenas 60 mil da Localiza, da Unidas e da Movida.
Para o presidente da Movida, Renato Franklin, o aluguel mensal de carros para pessoa física será o grande negócio para o setor no futuro. A modalidade cresceu 50% no segundo trimestre dentro da operação de locação de veículos da companhia. “A demanda está alta, temos bastante clientes e estamos sendo seletivos na operação [para garantir rentabilidade], disse o executivo ontem, em teleconferência sobre os resultados.
Entre abril e junho, a Movida apresentou crescimento de 4% no lucro líquido, para R$ 41,5 milhões. A receita líquida saltou 57%, para R$ 956,2 milhões, impulsionada pela alta na venda de seminovos. Calcanhar de aquiles da operação, a unidade foi o destaque da companhia no período, superando a projeção interna de vender 14 mil unidades e registrou 16,1 mil, um avanço de 83,4%. A divisão também perdeu menos dinheiro, apresentando margem negativa de 1,8%, quase metade dos 3,2% do segundo trimestre do ano passado. De acordo com Franklin, a tendência de melhora se mantém e a expectativa continua sendo atingir o ponto de equilíbrio da operação no começo de 2020. Na Localiza e na Unidas, as vendas de seminovos também cresceram: 40,1% e 30,5%, respectivamente.
Na Unidas, o destaque do segundo trimestre foi o aumento na locação para pessoas físicas, segmento menos tradicional da companhia, que avançou 74,2%, para R$ 219 milhões. Na Localiza, o desempenho veio saudável, mas abaixo do esperado por analistas. O lucro de R$ 190,1 milhões ficou 11% abaixo do consenso de mercado, impactado principalmente por resultados financeiros mais pressionados. Ainda assim, o desempenho foi bem avaliado. “Continuamos observando sinais contínuos de crescimento forte e saudável”, escreveu Bruna Pezzin, analista da XP, em relatório para clientes.
Fonte: Valor Econômico