Montadoras x Locadoras: a Toyota estava certa

Vendas diretas já representam quase 50% dos emplacamentos de automóveis no Brasil. A guerra entre montadoras e locadoras está apenas começando.

Por Raphael Galante*

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

 

Caros leitores, digníssimas leitoras: o mês de novembro já encerrou e as vendas foram “assim-assim”. O mercado registrou quase 231 mil veículos, queda de 4,3% sobre o mês passado (outubro 241 mil) e ligeiro crescimento sobre novembro do ano passado 4,4% (221 mil carros em novembro).

No resto… foi chover no molhado. O segmento mais desejado é o de SUV, seguido pelo de Sedan Pequeno (estão crescendo 16% e 10%, respectivamente cada segmento); o carro mais vendido continua sendo o Onix (hatch); o seu irmão mais comprido (Onix Sedan) está vendendo horrores – ou seja, a festa de São João do ano que vem tá garantida!

Mas qual é a novidade que vos trago?

A primeira é que, oficialmente, o crédito foi o que ditou o mercado. Neste fim de mês (que passou) o BC liberou as informações de crédito. Entre janeiro a outubro foram liberados mais de R$ 131 bilhões para a aquisição do carro. O resultado de 2018 (que era o antigo recorde histórico) foi de R$ 125 bilhões.

O saldo das carteiras de financiamento ultrapassa a barreira dos R$ 245 bilhões e estão caminhando no sentido da estratosfera! O recorde anterior era no longínquo janeiro de 2012, com R$ 244,7 bilhões.

Prazos de financiamento estão se dilatando, a média do setor ultrapassou a barreira simbólica dos 45 meses e os juros dos financiamentos são os menores já registrados. Ou seja, não temos mais taxas extorsivas… apenas taxas com perfil de “agiotagem branda”.

O segundo ponto é que – mais uma vez – os japoneses da Toyota estavam certos! Eles possuem a terrível mania de acertar em tudo (com exceção do Scion e do Etios, globalmente e localmente).

O fato foi que, em setembro, o presidente da Toyota tinha declarado que as vendas diretas neste ano chegariam a 50% no Brasil. Relembre aqui. O que a gente pensou na época?

Nós do segmento automotivo acompanhamos esses dados quase que diariamente e o percentual é alto, oscilando sempre entre 38% a 44% (pico), mas aí chegar em 50%, seria forçar demais a barra.

Mas para vocês verem, o estagiário sempre consegue se surpreender!

O mês de novembro encerrou com 49% das vendas feitas através desta sistemática (considero que o presida da Toyota acertou dentro da margem de erro de 1 ponto percentual). Como ficou a divisão?

1) 51% foram vendidos para os consumidores normais iguais a você caro leitor. Fazendo aquela conta de padoca: 231 mil x 51% = 118 mil. Esse povo todo são os “bobos” da história que pagam o preço full do carro (cheio de impostos);

2) 20% foram lá para a República de Belo Horizonte, vulgarmente conhecido como a terra das locadoras. Foram mais de 46 mil carros (231 mil x 20%). Elas deveriam estar com dinheiro sobrando no budget e foram às compras. Elas são “o malandro” da história. Uma vez que “benefícios” (tributários, fiscais, comerciais e qualquer outro que você possa imaginar) é com elas!

3) 10% foram para os PCD (23 mil carros). É aquele povo com alguma deficiência (ou com parentes portadores de necessidades especiais) que compra o carro com isenção de IPI, ICMS e IPVA. Esse foi o público que mais cresceu ao longo dos últimos anos no setor automotivo. Isso literalmente virou uma indústria. E, para variar, como eles são o elo mais fraco, o governo quando pensa(ou) em algo, sempre é para o pessoal do item acima, não para PCD ou para o público normal (afinal, eles são os bobos).

4) Por fim, 19% dos carros vendidos (ou 44 mil) foram para as pequenas-médias empresas; produtores rurais; e mais alguns que se acham o “experto” da história pois compram o veículo com “certo benefício”. Já falamos sobre: o bobo, o esperto e o malandro do setor automotivo.

OK, cara-pálida… e aí?

E aí que temos dois pontos:

PRIMEIRO:

Em países mais estruturados, com maior segurança jurídica, como por exemplo o Canadá, as mudanças já estão ocorrendo. O que o presidente da marca no país, Steve Milette, declarou há duas semanas?

Naquela tradução “macarrônica”: “…Nossa estratégia é de qualidade de vendas, o que significa que estamos realmente interessados em aumentar a quantidade [de vendas] no varejo…” “…Achamos que [as vendas da frota] não são boas para residual [residual = o valor final do veículos, ou seja ele está falando da alta desvalorização] e [nem para] um modelo de negócios sustentável, por isso tivemos que recuar…” Dúvida? Leia aqui.

Nós já falamos que a “batata está assando” para o pessoal das locadoras. É só uma questão de tempo. Ou você acha que o presidente da Nissan Canadá não conversa com o presidente da Nissan Brasil na reunião global da marca com todos os presidentes?

SEGUNDO:

Outro ponto, é que o mercado de veículos vem mudando em ritmo cada vez mais acelerado. O conceito de “ter” um veículo está mudando para o conceito de “usar” um veículo. Basta ver o resultado das locadoras. Com isso, algumas montadoras estão despertando para o serviço de locação.

O consumidor brasileiro “parece” estar ficando mais racional na hora da compra. Dentre todos os veículos (novos e usados) o nicho (por idade) que mais vem crescendo é o de veículos com mais de nove anos. O pessoal da FENAUTO e da B3 já confirmou isso para nós na semana passada.

O grande paradoxo que a indústria automotiva brasileira viverá nos próximos anos (mantendo-se a atual dinâmica) é como todos os players irão evoluir ao longo do tempo.

Temos as montadoras entrando na área das locadoras; as locadoras entrando no negócio de revender carros; que esmagam cada vez mais os concessionários/lojistas; que por sua vez já são mais do que esmagados pelas montadoras; a necessidade de ganho de escala matará uma infinidade de empresas (pequenas: locadoras; concessionárias; lojistas; fabricantes de peças); existe um Estado que faz questão de onerar/penalizar quem não deveria e dar benesses aos amigos do rei… e por aí vai.

E como vai ser esse futuro aqui em terra tupiniquim?

O cenário está mais nebuloso que as “fogs” de Londres! No ritmo atual, estamos caminhando para uma das máximas de Keynes: “… a longo prazo, A GRANDE MAIORIA estará morta…”. Restarão alguns poucos gigantes.

Fonte: Infomoney
*Raphael Galante – É economista, trabalha no setor automotivo há 14 anos e atua como consultor na Oikonomia Consultoria Automotiva.

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