Terceirização de frotas é fundamental para grandes obras
Apesar dos atrasos nos leilões de concessões, os investimentos em infraestrutura devem subir em 2014. Dependendo do cálculo, é possível que o montante investido em grandes obras alcance 2,5% do PIB neste ano, levemente superior ao observado em 2013, conforme informações do Jornal Valor Econômico. Segundo a ABLA, o investimento em grandes obras é cada vez mais importante para estimular, também, a terceirização de frotas de veículos, necessários para a realização de tais obras.
Porém, como os leilões estão praticamente paralisados neste ano, algumas consultorias cortaram suas estimativas de avanço da infraestrutura neste ano. A Inter.B, por exemplo, reduziu a estimativa desse tipo de investimento em 2014, de R$ 131,7 bilhões para R$ 130,2 bilhões, embora como proporção do PIB esse resultado represente uma alta de 2,51% para 2,54% por causa da atividade mais fraca. Já a LCA Consultores calcula que o investimento em infraestrutura tenha subido de 2,5% em 2013 para 2,6% no primeiro semestre deste ano como proporção do PIB. A LCA não fez projeção para o ano como um todo. A Pezco Microanalysis, por sua vez, traça um quadro mais pessimista e estima que o investimento em infraestrutura neste ano será de 2% do PIB, ligeiramente menor do que os 2,1% do ano passado.
De acordo com estudo da Inter.B, que será divulgado nesta semana no Fórum Nacional, no Rio, se confirmados os 2,54% do PIB, ele será superior ao que ocorreu nos últimos anos. Os autores do estudo, Claudio Frischtak e Katharina Davies, porém, veem os dados com ceticismo. Frischtak ressalta que a maior parte dessa alta tem a ver com a revisão para baixo do denominador. A consultoria prevê alta nominal de 6% do PIB neste ano contra previsão anterior, mais otimista, de 8,13%. Isso fez com que subisse a proporção dos investimentos em infraestrutura em relação ao PIB. Além disso, foi revisado para baixo, em 1,1%, o valor dos investimentos previstos, por atrasos em obras como as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
“Se você pensa em recursos públicos, o que o BNDES emprestou e o quanto o governo se endividou, mesmo assim se avançou muito pouco”, critica Frischtak. Nos cálculos da Inter.B, somente o investimento do segmento de transportes avançará em 2014. Os demais setores como saneamento, energia e telecomunicações ou encolhem ou permanecem estáveis em relação ao que foi investido em 2013 como proporção do PIB.
Frederico Turolla, sócio da Pezco e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), avalia que o governo apostou em infraestrutura logística, principalmente rodovias, em detrimento de outros segmentos, como energia elétrica e telecomunicações. Diz que “o país não precisaria escolher, mas o ambiente macroeconômico piorou e as incertezas no marco regulatório limitaram opções”.
Para Turolla, o modo como foi feita a renovação dos contratos de concessões de energia em 2012, por exemplo, reduziu os investimentos no setor, que caíram de 0,9% do PIB naquele ano para 0,7% em 2014, de acordo com as estimativas da Pezco. As projeções da Pezco para transporte indicam estabilidade dos investimentos em 0,6% do PIB.
De qualquer forma, Turolla diz que o país perdeu uma “chance de ouro” de mudar a cara dos projetos levados adiante no Brasil e seguiu com o “rodoviarismo” que há décadas marca o desenvolvimento nacional. “A regulamentação excessiva mudou a dinâmica da alocação de recursos, que era mais privada e flexível, e a tornou engessada”, afirma. O marco regulatório é a principal razão pela qual os projetos de ferrovias, que deveriam somar R$ 100 bilhões de investimentos nos próximos anos, não foram sequer a leilão até agora, ressalta.
Braulio Borges, economista-chefe da LCA, critica a demora na execução dos projetos. Ele calcula que entre 2013 e 2014 foram contratadas obras que somam aproximadamente R$ 120 bilhões, dos quais cerca de dois terços terão impacto sobre a economia nos próximos cinco anos. Além dos trechos rodoviários, estão na lista a concessão dos aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, e de Confins, em Minas Gerais, além de parcerias público-privadas nos Estados, como a linha 6-Laranja, do metrô em São Paulo. “Temos outros quase R$ 60 bilhões que ainda não foram contratados, mas que poderiam ter impacto no PIB neste ano, o que gera alguma frustração, e outros R$ 100 bilhões que só vão começar a partir de 2015″, diz.
Os analistas lembram ainda que o país ainda está longe de investimentos em infraestrutura que correspondam a 4% do PIB, o que seria mais adequado e poderia alavancar o crescimento econômico de forma mais consistente. Turolla, da Pezco, acredita que o país perdeu uma oportunidade de financiamento importante para incrementar sua infraestrutura em um ambiente marcado por forte liquidez internacional. Com oferta de capitais menor daqui para frente, com a normalização da política monetária nos Estados Unidos, o economista acredita que dificilmente o país conseguirá chegar a 4% do PIB em projetos de infraestrutura.
Para Frischtak, da Inter.B, para sustentar um crescimento do PIB de 4% ao ano, o que hoje seria na sua avaliação acima do potencial do país, mas alcançável com “reformas” na economia, os investimentos em infraestrutura deveriam ser de 4,5% do PIB. Borges, da LCA, avalia que os atrasos nos leilões, com pouco investimento em portos e nenhum em ferrovias até agora, reduziram o impacto de curto prazo do Programa de Investimento em Logística. Para ele, deve demorar um pouco mais, possivelmente 2018, para que o investimento em infraestrutura se aproxime de 4% do PIB.
Borges avalia que o Brasil investiu 2,6% do PIB em infraestrutura no primeiro semestre, mas pondera que os dados podem ter sido levemente inflados por causa da finalização das obras da Copa do Mundo. Ainda assim, diz, outros indicadores, como o consumo de asfalto, apontam para um ano melhor para o segmento de transportes, com alta de 31% entre janeiro e julho deste ano, após crescimento de 3,3% em 2013 e de 4,3% em 2012.
Esse avanço costuma ser maior em ano eleitoral, ressalva Borges, mas diz que o desempenho deste ano se assemelha ao de 2010 (+32%), embora o ambiente econômico seja bastante diferente. “É sinal de que o investimento em infraestrutura rodoviária não está desacelerando como o investimento industrial”, afirma.
fonte: ABLA e Valor Econômico