Fusão Localiza e Unidas desperta preocupação também no mercado de seminovos

Fonte: Matéria publicada no O Globo

As pequenas revendas de seminovos tinham 30% do mercado há 3 anos e hoje têm 16%.

 

A fusão Localiza e Unidas tem gerado questionamentos sobre a concentração no aluguel de automóveis — impactando do motorista da Uber ao turista que aluga carro no aeroporto. Mas não é apenas no segmento que a fusão vem despertando preocupação.

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que esta semana declarou o caso “complexo”, começa a investigar também os efeitos da concentração em seminovos — um negócio que se tornou a principal fonte de receita para as locadoras.

O mercado foi apresentado ao Cade como “residual e acessório” e, portanto, não careceria de análise mais detida. Mas o Cade parece discordar. O orgão antitruste solicitou informações adicionais às empresas, e também enviou ofícios com pedidos de manifestação para pelo menos 22 concessionárias que trabalham com seminovos, incluindo Movida, Lion’s Car, CAOA, Kave e Metronorte. Ofícios dessa monta são comuns em casos de concentração acima de 20%. (No total, o Cade já emitiu mais de 100 ofícios relacionados ao caso.)

Em sua apresentação ao Cade, a Localiza considera o segmento amplo de usados — 10,9 milhões de automóveis — no qual teria, junto com Unidas, cerca de 2% de participação. Mas quando se analisa o mercado de seminovos — menos de dois anos de uso e que é o mercado efetivo da empresa — o número cai para menos de 4 milhões. A participação das duas somadas, que a concorrência estima em 15% em 2019, deve chegar a 20% este ano (excluindo casos de dupla contagem).

E esse é um mercado que vem se concentrando. As pequenas revendas de seminovos tinham 30% do mercado há 3 anos e hoje têm 16%.

Principal fonte de receita

O negócio de revenda de seminovos virou um grande negócio para as locadoras. Elas compram das fábricas com desconto e, por se tratar de um ativo imobilizado, ficam isentas de impostos na hora de revender.

Em 2020, a Localiza tinha uma frota de mais de 290 mil veículos. Ao longo do ano, ela comprou cerca de 109 mil novas unidades e despejou quase 135,5 mil no mercado de revenda. Esse volume permite que a empresa atue como reguladora da oferta de seminovos, segundo parecer apresentado pela concorrente Movida.

— Se tem muita oferta de seminovos e o preço cai, pode-se restringir a oferta alugando por mais tempo ou transferindo para os contratos de gestão de frota. Adia-se a volta do carro para o mercado, regulando a oferta — diz Juan Ferrés, ex-economista chefe da Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça e parecerista da Movida.

Procurada, a Localiza informou que segue práticas de governança e que apresentou ao Cade informações sobre o negócio e estudos sobre a dinâmica do setor. A empresa diz ainda que “eventuais esclarecimentos” sobre a operação estão sendo discutidos com a autarquia.

Fonte: O Globo

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