Locadoras procuram uma saída
Pedido de proteção contra falência da Hertz nos EUA e no Canadá acende o sinal de alerta num dos setores mais prejudicados pela pandemia em todo o mundo.
A empresa afirmou, ainda, que a decisão foi necessária para priorizar funcionários e clientes, eliminando todas as despesas não essenciais. “Permanece a incerteza sobre quando as receitas retornarão e quando o mercado de veículos usados voltará a reabrir inteiramente às vendas, o que exigiu ação imediata”, disse a companhia. As principais regiões operacionais globais da Hertz, incluindo Europa, Austrália e Nova Zelândia, ficaram de fora do pedido de falência. Em abril, a empresa havia anunciado o corte de 10 mil empregos na América do Norte, 26,3% de sua força de trabalho global, para economizar dinheiro após o confinamento pelo coronavírus paralisar as viagens e a economia. Mas, desde o início da crise, em fevereiro, o grupo já demitiu 20 mil pessoas, metade da sua força de trabalho global.
Como as franquias Hertz não são de propriedade da empresa, não estão incluídas no processo de recuperação. Por isso, a operação brasileira, comprada pela Localiza por R$ 337 milhões, em 2017, seguirá com as operações normais. Procurada pela reportagem, a Localiza não quis conceder entrevista. Por nota, a companhia afirmou que a situação da Hertz não gera impacto nas operações da Localiza. “A Hertz Corporation, conforme anunciado, continuará realizando, normalmente, todos os seus atendimentos e operações. A Localiza continua monitorando a situação”, informou. “A Localiza esclarece que não possui vínculo operacional e não há qualquer cruzamento de estrutura societária ou financeira com a Hertz. São organizações independentes, possuem governanças diferentes e atuam em mercados distintos.”
O tamanho dos problemas do setor de locação de veículos neste ano será diretamente proporcional à duração das políticas de isolamento social e paralisação de parte da economia brasileira. Segundo Paulo Miguel Junior, presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), o segmento de locações diárias desabou 90% desde o inicio da pandemia. O aluguel de carros para motoristas de aplicativos caiu 80%, enquanto os contratos com terceirização de frotas, que respondem por 52% das receitas das 10,8 mil empresas do setor, recuaram 20%. “Como estamos parados há cerca de 70 dias, as pequenas locadoras estão vendendo suas frotas para fazer caixa e reduzir o sufoco financeiro durante a paralisação econômica”, afirma o executivo.
A crise representa uma reversão de rota para o setor. No ano passado, turbinado pela popularização de aplicativos de transporte como Uber e 99, o mercado brasileiro de locação de veículos faturou 21,8 bilhões, quase 43% acima dos R$ 15,3 bilhões registrados em 2018. “Ainda é difícil calcular qual será o impacto da crise sobre as locadoras, porque não sabemos quanto tempo isso tudo vai durar. Mas é certo que teremos um atraso significativo na renovação de frotas e o fechamento das pequenas locadoras que não têm caixa para se manter por muitos meses”, afirma Miguel Junior.
FONTE: IstoÉ Dinheiro