Movida: as mudanças que levaram a empresa a dobrar de valor desde o IPO
A companhia ganhou o prêmio relevação da Bolsa na categoria bronze no ranking feito pelo InfoMoney em parceria com Ibmec e Economatica
SÃO PAULO – Como uma companhia pode encontrar um equilíbrio entre crescimento e rentabilidade? A locadora de veículos Movida espera, enfim, ter encontrado uma resposta.
“Não foi uma empresa que agradou desde que estreou na Bolsa. Após a abertura de capital, em fevereiro de 2017, a companhia ainda tinha vários problemas internos — que vieram por conta de seu rápido crescimento. Mas ela corrigiu e o mercado reconheceu isso”, afirma Wagner Faccini Salaverry, sócio da gestora Quantitas.
Precificadas a R$ 7,50 no IPO, as ações da Movida caíram 32% até julho do ano passado. Desde então, voltaram a valorizar e estão cotadas a R$ 15,86. Assim, o valor de mercado dobrou desde a abertura de capital e cresceu 210% desde julho.
Fundada em 2006, a empresa foi adquirida pelo grupo JSL em 2013. Como escala nesse setor é fundamental, fez grandes investimentos para aumentar sua frota antes do IPO. Entre 2014 e 2016, saiu de 2 mil para 80 mil carros.
“Investimos em trazer carros diferentes para a locação. Trouxemos modelos novos, coloridos, com aplicativos, rádio e ar condicionado”, afirma Renato Franklin, presidente da Movida.
A Movida se tornou a segunda maior locadora de veículos do país, mas, junto com o crescimento acelerado, vieram problemas em suas duas principais áreas: o aluguel de veículos e a venda de seminovos. Na parte de aluguéis, a Movida sofreu com inadimplência e fraude.
“Depois da abertura de capital, percebemos que esse problema estava se agravando e desenvolvemos uma tecnologia para reduzir inadimplência e fraude. Hoje, por exemplo, mais de 80% dos nossos carros são rastreados — é o maior percentual entre as locadoras do país”, diz Franklin.
O problema da venda dos seminovos
A venda de seminovos (os veículos mais antigos que deixam o serviço de aluguel da companhia) sempre foi visto como o ponto fraco da Movida. Apesar de o segmento ser responsável por mais da metade de sua receita, a empresa tem margem Ebitda (geração operacional de caixa) negativa na venda de seminovos desde 2016. No ano passado esse indicador ficou em -5%.
“O segmento de seminovos pode ser o ‘calcanhar de Aquiles’ da Movida ou uma grande oportunidade de melhorar seus resultados”, afirmam analistas do Itaú BBA em relatório divulgado no início de julho.
O problema dos seminovos foi se agravando aos poucos. “A companhia tinha muitos modelos de carros que não eram os mais populares. Eles eram difíceis de revender e a empresa perdia muito dinheiro”, diz Salaverry.
Com dificuldades para se livrar dos carros, parte da frota dos últimos anos encalhou. Enquanto os automóveis vendidos pela Localiza, líder no setor, têm em média entre 14 e 15 meses de uso, os da Movida têm cerca de 18 meses. Ao vender carros mais velhos, obviamente, a Movida precisa reduzir ainda mais o preço.
“No começo subestimamos a operação de seminovos. Achamos que, por serem bons carros, iam acabar ‘se vendendo sozinhos’. No fim é uma operação de varejo, que depende muito dos vendedores. Percebemos isso e corrigimos o problema”, reconhece Franklin.
Aproveitando essa melhora nos resultados, a Movida realizou, no fim de julho, uma oferta subsequente (follow-on) de ações, primária e secundária. O papel foi precificado a R$ 15 por ação.
Há espaço para novas altas? Por conta dos problemas no segmento de seminovos, a maioria dos analistas não vê motivos para a ação subir mais. Segundo informações do terminal Bloomberg, o preço-alvo médio dos 11 analistas que acompanham a empresa atualmente está em R$ 14,78, ante o preço atual de R$ 15,86 dos papéis.