Um carro para chamar de seu

O Brasil passa por mudanças profundas no mercado de automóveis. Nos últimos anos houve uma crescimento exponencial na procura por serviços sob demanda, que consiste no aluguel de carros por períodos prolongados e com contratos de manutenção. A prática, que já é sucesso nos Estados Unidos e na Europa, ganha força agora no País porque democratiza o acesso aos veículos. Hoje, não é preciso mais comprar um carro para chamar de seu. Segundo André Ricardo, CEO da Solution 4Fleet (SF4), que faz a gestão de empresas que alugam veículos diretamente junto às montadoras, o aspecto econômico faz a diferença para o cliente que opta pelos carros por assinatura. “A economia é de quase 30% se comparado ao financiamento tradicional”, diz. “As pessoas estão mudando os hábitos de consumo e as montadoras entenderam isso.”

A tese dos especialistas é de que quem opta pela assinatura quer praticidade e conforto. A última grande montadora a entrar no negócio foi a Renault. A marca lançou seu programa “on demand” recentemente com alugueis a partir de R$ 30 por dia. O tempo do serviço varia de 12 a 24 meses, e considera a quilometragem do veículo. O plano mensal mais básico da Renault é o do Kwid, carro popular que custa R$ 869 por mês. Seu “dono” pode rodar de 500 a 2 mil quilômetros com ele. Seguro, IPVA e outras particularidades já estão inclusas. Sendo assim, a única preocupação do cliente é com o combustível.

Foi pensando nisso que depois de 20 anos com seu próprio carro, o empresário Fabio Menegasso decidiu aderir aos planos de assinatura. Ele ressalta que os aspectos práticos e econômicos da escolha. “Consultei algumas locadoras antes de fechar negócio. Alugo há dois anos e estou muito feliz”, conta. “Comprar um carro é muito caro, às vezes compensa andar de Uber ou alugar e, no caso, decidi alugar”.

Embora tenha democratizado o acesso, a Renault não é a única gigante interessada neste nicho. Montadoras como Volkswagen, Audi, FCA (Fiat), Jeep e BMW também operam no mercado nacional. “Com apenas seis cliques, é possível aderir ao programa por assinatura da Volkswagen”, disse Pablo Di Si, presidente da Volkswagen América Latina, via comunicado sobre os serviços de assinatura. “Levaremos a VW para as garagens de todo o País”.

De acordo com especialistas, em 2005 o Brasil tinha uma frota de 230 mil carros de aluguel, número que aumentou em mais de cinco vezes, visto que mais de 1,5 milhão de carros compõem o mercado. O processo burocrático, tanto na negociação direta com as montadoras, quanto em locadoras especializadas, é simples. Portanto, a iniciativa corrobora para uma quebra de paradigma social, sobretudo em termos de posse. “Estamos em uma era de mais serviços e menos propriedades”, afirma André Ricardo.

Embora mais de 23 mil locadoras operem em solo brasileiro, o setor é “dominado” por quem cria a melhor experiência para seus clientes. Liandra Boschiero, gerente da Osten Fleet, empresa que disponibiliza carros de alto padrão para pessoas físicas e empresas em São Paulo, conta que até mesmo pessoas com alto poder aquisitivo estão “desapegando” de seus carros. “Atendemos presidentes de empresas, donos de hospitais, todo tipo de gente”, diz. Liandra afirma que os planos de assinatura de carros “premium” como Audi e BMW giram em torno de 12 e 48 meses, com mensalidades médias entre R$ 4,750 e R$ 20 mil. A locadora também arca com a documentação, seguro, manutenção e ainda faz a gestão de multas de trânsito. “Tem pessoas que não podem comprar uma BMW de R$ 500 mil, mas podem pagar um aluguel de R$ 5 mil”, explica.

Diego Lira, CEO da Turbi, startup que aluga carros por aplicativo, acredita que o mercado é favorável para quem oferece “mais conforto e menos burocracia”, como financiamentos. “Nossos clientes não precisam nem falar direto conosco, via aplicativo alugam e encontram os carros”, conta. O serviço disponibiliza um mapa com a localização dos veículos, então basta o usuário preencher um cadastro e retirar o “possante” onde ele estiver. “Somos uma locadora 100% digital”, diz. Atualmente o Brasil possui cerca de 100 milhões de automóveis em circulação. Estima-se que até 2040, considerando um aumento geral no número de automóveis, cerca de 15 milhões de veículos serão exclusivamente de serviços por assinatura, que serão oferecidos por montadoras e locadoras. É uma indicação de que para os carros o que importa mesmo é o uso e não o valor patrimonial.

Fonte: https://istoe.com.br/um-carro-para-chamar-de-seu/

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