Nos bancos das montadoras, os financiamentos voltam a acelerar
Diferentemente dos bancos de varejo, que atuam em diversas linhas de financiamento e contam com flexibilidade para se concentrar em segmentos da economia que estão indo melhor do que outros, as instituições financeiras ligadas às montadoras ficam à mercê do desempenho do mercado de veículos.
No início da pandemia, por exemplo, as concessionárias fecharam as portas e não havia carro para financiar. Meses depois, as revendedoras foram sendo reabertas, mas o problema passou a ser a falta de peças para produzir veículos. Novamente, o financiamento ficou restrito. Em 2021, embora as dificuldades para a produção ainda persistam, os bancos das montadoras já começam a sentir ares de alguma normalidade.
No primeiro semestre deste ano, os recursos liberados para financiamento de veículos somaram R$ 92,6 bilhões, alta de 45,2% em relação a igual período do ano passado, segundo levantamento feito pela Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef) e obtido em primeira mão pelo NeoFeed.
“Os resultados mostram que o total de recursos liberados voltou a atingir níveis pré-pandemia e o saldo das carteiras mantém ritmo de alta”, afirma Paulo Noman, presidente da Anef, associação que representa instituições financeiras de montadoras como GM, Stellantis (que resultou da fusão entre FCA e PSA), Honda, Mercedes-Benz, BMW, Renault, Nissan, Toyota, Volvo e Yamaha.
Com o avanço, ainda que impulsionado por uma base baixa de comparação, a Anef resolveu revisar para cima sua projeção para o ano todo, em meio à expectativa com a retomada da economia. Agora, a previsão é de aumento de 14,9% nas concessões de crédito, para R$ 180,1 bilhões. Antes, era de 12,5%. No ano passado, houve retração de 3,4%, para R$ 156,6 bilhões.
A expansão esperada pela Anef para os financiamentos é próxima do que as próprias montadoras estimam para as vendas. Em 2021, a expectativa da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) é que as vendas alcancem 2,367 milhões de unidades, alta de 13% em relação a 2020.
O número só não será maior porque a indústria tem sofrido com a falta de semicondutores para os carros. Segundo a Anfavea, entre 100 mil e 120 mil veículos deixaram de ser produzidos no primeiro semestre. Não há uma previsão para o impacto no segundo semestre, mas o presidente da associação, Luiz Carlos Moraes, disse ao NeoFeed que o problema deve persistir pelo menos até o fim de 2021.
Segundo Noman, da Anef, a escassez de semicondutores para a produção de veículos também tem obrigado o mercado a procurar propostas de financiamento mais flexíveis. “Estamos tentando criar planos para os carros que estão disponíveis. Se não tem o carro A, vamos para o carro B e tentar convencer o cliente a financiar”, diz.
Apesar do aumento da Selic, que saltou de 2% para 5,25% ao ano nos últimos e deve continuar subindo, o presidente da Anef afirma que as condições de mercado não devem se alterar significativamente e lembrou que, historicamente, os bancos de montadoras são mais competitivos na hora de definir as taxas.
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“Os bancos comerciais têm vários negócios para tocar. Nós, não. Então, sempre vamos ser mais agressivos no financiamento de veículos, em uma atuação que é combinada com as montadoras”, afirma. Segundo ele, o porcentual dos bancos de montadoras no total de financiamentos de veículos gira em torno de 60%, mas varia de marca para marca.
Uma das estratégias, segundo Noman, é propor prazos de financiamentos de 72 meses, acima do máximo que normalmente é praticado pelo mercado, de 60 meses, em um esforço também para se adequar à crise econômica imposta pela pandemia. “Vale tanto para os clientes de mais alta renda, que já não conseguem pagar à vista como antes, como para o consumidor de entrada que perdeu renda”, diz o presidente da Anef.
Fonte: NEOFEED