Pronampe é a melhor linha de crédito para MPEs, mas precisa melhorar, diz Sebrae
A nova rodada do Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Pronampe) começou há alguns dias e reflete como os empreendedores estão precisando de crédito para superar o impacto causado pela pandemia nos negócios. Funcionando há 11 dias, o programa já emprestou R$ 10 bilhões dos R$ 25 bilhões disponíveis. Ou seja, 40% dos recursos já foram usados em poucos dias.
Para o presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Carlos Melles, o programa precisaria oferecer R$ 250 bilhões em crédito para atender à demanda das micro e pequenas empresas (MPEs). Ao mesmo tempo, Melles conta que acompanha de perto a evolução do programa: “achávamos que o consumo desses R$ 25 bilhões disponíveis seria muito mais rápido”.
O volume que pode ser emprestado depende da quantia injetada no Fundo Garantidor de Operações (FGO), que foi criado para cobrir eventuais calotes. Neste ano, o governo injetou R$ 5 bilhões no fundo. Com a alavancagem dos bancos, o volume do programa chegou aos R$ 25 bilhões.
O governo pretender atender até 325 mil empresas na atual rodada. Segundo o Sebrae, cerca de 5 milhões de MPEs se qualificam para pegar empréstimos de até R$ 150 mil.
Apesar do volume ainda abaixo do ideal, Melles elogia o programa e diz que essa é a melhor linha de crédito que temos atualmente. “Ainda não tivemos uma política tão clara e positiva para as MPEs como o Pronampe”. O programa atende empresas que registraram faturamento de R$ 360 mil a R$ 4,8 milhões em 2020 e concede de 6 a 11 meses de carência e pagamento em até 48 parcelas mensais.
Melles diz ter proposto um orçamento de R$ 50 bilhões para o programa, que, com alavancagem dos bancos, poderia oferecer os sonhados R$ 250 bilhões em empréstimos. Agora, o presidente do Sebrae aposta que o governo vai perceber que o investimento nas MPEs valeu a pena e investirá ainda mais no programa.
Com a recuperação da economia, o Sebrae estima que as micro e pequenas empresas retomem os níveis de faturamento pré-pandemia em outubro, excluindo apenas o setor de turismo.
Pronampe na vida real
Enquanto uns comemoram a obtenção de um empréstimo com taxas baixas e prazo confortável para o pagamento, outros empresários lamentam não conseguir acesso à linha de crédito disponibilizada pelo governo federal.
O restaurante paulistano Canto Madalena faz parte do primeiro grupo. A empresa está em operação há 21 anos, mas vem passando por um aperto sem precedentes durante a pandemia. Por isto, Tita Dias, a proprietária do restaurante, recorreu ao Pronampe e conseguiu crédito do governo.
A empresária conta que nem pensou em recorrer a bancos privados. “As taxas são muito altas e a carência pequena não me deixaria dormir”, afirma.
Além do Pronampe, ela recorreu ao PESE (Programa Emergencial de Suporte a Empregos), do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), tomando R$ 66 mil em empréstimo para pagar seus funcionários.
“A empresa está viva graças a eles (empréstimos). A empresa está ligada a aparelhos, mas ainda viva. Se a vacina é o que salva o CPF, o crédito é o que salva o CNPJ”
Tita Dias, proprietária do restaurante Canto Madalena
Já o empresário Thiago Kempen não teve a mesma sorte. O sócio da Startup K2go, de educação e consultoria para profissionais da Odontologia tentou tomar empréstimo via Pronampe, mas não conseguiu.
Com os consultórios odontológicos parados, a empresa ficou sem faturar por quatro meses e, com isso, não atingiu o mínimo de receita necessária para entrar no programa.
O jeito foi recorrer a capital privado. A K2go conseguiu em junho um aporte superior aos R$ 50 mil que pretendia pegar emprestado do governo. “Mesmo sem acesso ao crédito, a nossa empresa conseguiu superar os desafios fazendo uma transformação digital e praticamente dobrou de tamanho”, conta Kempen.
Apesar de ser “a melhor linha de crédito que temos atualmente”, o próprio presidente do Sebrae admite que há um longo caminho para melhorar o acesso ao crédito dessas milhões de micro e pequenas empresas.
Fonte: CNN