Sem Parar como um “grande app para carros”
Sem Parar: ‘Ideia é nos transformar num grande app de carros’, diz presidente da Sem Parar
Sinônimo do serviço que oferece, a Sem Parar foi a primeira empresa do país no segmento de pagamento automático de pedágios, ou seja, que oferece um serviço de pagamento automático de pedágios. Mais de duas décadas depois, a companhia trabalha para mostrar que vai ainda mais do que as tags, enquanto enfrenta a concorrência de grandes bancos e de entrantes do setor.
O objetivo daqui para frente é consolidar-se como um “grande app para carros”, explica o presidente da empresa, Carlos Gazaffi, no comando da operação há três anos. O executivo liderou a criação de produtos, incluindo a oferta de seguros até um marketplace com cashback.
No negócio principal, a empresa acredita que tem uma avenida de crescimento a ser percorrida. Assim, com a adoção cada vez maior dos pedágios sem praça de cobrança, conhecidos no setor como sistema de free flow.
Boa parte dos investimentos previstos no novo PAC virá do setor privado. Há apetite por parte dos investidores?
O que às vezes afastou grupos internacionais foram dificuldades com modelagem e segurança jurídica de contratos, tema que está em um patamar mais maduro. Tenho a expectativa de que veremos grandes grupos atuando. Está todo mundo animado com esse período do país.
O que projeta para o setor?
Apesar das trocas de governo, há certa continuidade das políticas públicas no contexto dos transportes. Sou muito positivo com a perspectiva de que isso vai continuar acontecendo, com concessões, novas tecnologias, inovações que vão ser trazidas.
De onde vem o otimismo?
Vejo um mercado em expansão. As concessões rodoviárias devem acelerar. O que ouvimos das associações, concessionárias e agências reguladoras é que vão aumentar os quilômetros concedidos à iniciativa privada e às PPPs (parcerias público-privadas). Junto com a expansão da malha pedagiada, o free flow é um vento a favor para as tags.
Temos poucos assuntos do nosso país em que existe uma convergência tão grande quanto o free flow. Existe um alinhamento dos governos federal e estaduais com as agências, com as associações, com as concessionárias e com as empresas de pagamentos automáticos.
O que muda com o “free flow”?
No free flow, quando o cliente passa com uma tag no pórtico do pedágio, ele tem desconto se for usuário frequente, podendo pagar até 70% a menos na tarifa. O cliente que não tem a tag é lido por uma câmera. Nesse caso, a concessionária vai até o Detran, consulta os dados do carro, sabe que você é o dono, e tenta entrar em contato. Você tem até 15 dias para fazer o pagamento. Caso se esqueça, é considerado uma evasão de pedágio e o cidadão será multado.
Quais serão os efeitos econômicos do modelo?
Os governos veem o free flow como alternativa de aumento de arrecadação. Construir um pórtico demanda um valor muito menor do que construir uma praça de pedágio. Isso te dá a possibilidade de construir vários pórticos. Em micro trechos de regiões com cidades, por exemplo, pessoas que hoje não passam por praças de pedágio vão começar a passar pelos pórticos.
O motorista não vai acabar sendo penalizado?
Se o motorista percorre só uma parte do trecho pedagiado, em vez da tarifa cheia, ele paga o proporcional ao que rodou. Quem é usuário frequente também é beneficiado. A hora que você combina todos esses elementos, existe uma justiça tarifária no sistema do free flow.
Como tem lidado com os concorrentes que estão crescendo nas tags? Os bancos, por exemplo?
Temos que argumentar mais e apresentar as vantagens e benefícios, porque não é fácil competir com uma opção gratuita. Mas estamos indo bem. Ainda tem muito para vender em clientes novos. Nos últimos três anos, crescemos em média 15% ao ano.
O acordo com o Santander tem a ver com isso?
Ele vem justamente com a intenção de ter mais um canal. Por mais que a gente tenha presença importante, não estamos capturando 100% dos clientes. Estar associado a grandes bancos, que têm acesso a muitos clientes, é uma estratégia interessante.
A Sem Parar tem entrado em meios de pagamentos, seguros… Até onde querem chegar?
Dado que a Sem Parar é uma empresa de pagamentos de mobilidade, será que nós podemos fazer mais coisas dentro desse ecossistema? A Sem Parar não vai virar um banco. Mas estamos ampliando o que fazemos. Por exemplo, com seguros.
Qual a estratégia para tocar essas frentes de operação?
Para uma marca que é sinônimo de tags, o desafio é mostrar que vamos além. Por isso eu gosto da ideia de um ecossistema de mobilidade ou ecossistema do carro. A ideia é que a gente se torne um superapp do carro.
Ao todo, temos 30 funcionalidades no aplicativo. Praticamente fechamos a jornada carro, mas ainda há espaço. Não entramos no contexto de compra e venda, por exemplo. Nem de notícias sobre carro.
De onde vem a maior parte da receita hoje?
Hoje, 95% do negócio está baseado na recorrência das mensalidades. A monetização vem com o cliente e não com o pedágio. Além disso, no caso da rede urbana, é parecido com o mercado de maquininhas. Quando o cliente realiza uma transação, a gente negocia uma tarifa que descontamos do comerciante. Portanto, todas as redes urbanas funcionam neste modelo.
Qual é o potencial de expansão das tags?
Esse é um mercado extremamente subpenetrado. São 60 milhões de veículos leves no Brasil e apenas 12 milhões de tags. Uma frente de expansão é também a de usos urbanos. Temos 6,1 mil pontos, incluindo estacionamentos, shoppings, aeroportos, prédios comerciais e hospitais, além de drive-thrus. Ainda mais os postos de abastecimento.
Existe uma nova geração não associada a carro. Essa não é uma barreira para o crescimento?
Essa é uma mudança e estamos atentos a isso. Um dos 30 serviços que oferecemos no app é justamente um marketplace de assinaturas para carro.
Vocês lançaram um serviço de atendimento com ChatGPT. Tem dado certo?
Estamos usando um modelo de IA do ChatGPT que roda com conteúdo privado da empresa. O nível de assertividade fica acima de 90%.