8 razões para comprar um carro elétrico agora e 8 razões para não comprar
Alguns anos ainda serão necessários para que a nova tecnologia dos carros elétricos convença, por completo, os mais céticos e técnicos, salvo alguma lei proíba a venda de carros com motor a combustão.
O setor automotivo representa mais de 20% do PIB industrial e qualquer mudança tecnológica forçada, conjugada com uma política irresponsável, seria catastrófica para a economia e para as próprias montadoras (leia meu artigo sobre a falta de estratégia para carros elétricos e os riscos do Projeto de Lei 304/17). Cumprir com novas exigências de legislação no setor, no Brasil, resulta em complexidade, aumento de custos e quase sempre os prazos são insuficientes.
Comparado aos grandes mercados automobilísticos no mundo, o Brasil não oferece escala que absorva os investimentos necessários para acompanhar as novas tecnologias e a conta da adoção, geralmente é repassada ao consumidor. Como exemplo, temos os casos do Euro 6 e o controle eletrônico de estabilidade e tração (ESC) nos caminhões, que devem aumentar o preço dos veículos em até 20% para o consumidor, nos próximos dois anos, enquanto a indústria pede prorrogação de prazos.
Mudar um parque industrial já consolidado, para produzir veículos elétricos, não é apenas questão de substituir máquinas, processos e fornecedores. É preciso compreender o impacto disso na economia e o comportamento do mercado consumidor. Aceitação de tendências não combina com imposição de tecnologias, apesar das oportunidades de novos negócios.
O Brasil no contexto dos carros elétricos e o desafio de convencer investidores e clientes
Dificilmente uma lei que dificulte a venda ou produção de veículos com motores a combustão teria respaldo na estratégia de governo. Alguns motivos e barreiras para isso são facilmente identificados. O que fazer com nosso espetacular setor sucroenergético; o que fazer com nossa invejável, competitiva e limpa tecnologia de veículos a álcool; o que fazer com as “joias da coroa” Petrobrás, BR Distribuidora e Eletrobrás; com que dinheiro o governo iria subsidiar o mercado de carros elétricos, já que nos demais países as vendas ocorrem devido aos incentivos fiscais e tributários; como sucatear os carros com motor a combustão, sem impactar o senso de propriedade (mexer no patrimônio das pessoas é agredir o próprio capital eleitoral).
Contudo, os carros elétricos vão dominar o mercado, seja na geração de nossos filhos ou de nossos netos. A compra de um carro elétrico, hoje, pode ainda não ser muito racional, mas se você for daqueles para quem “mais vale um gosto do que dinheiro no bolso”, listo oito razões para você comprar um carro elétrico agora e oito razões para não o fazer tão cedo.
Oito razões para você “comprar” um carro elétrico agora
1. Não polui diretamente e coloca você em consonância com as novas tendências do desenvolvimento sustentável. Você poderá acrescentar “amigo do meio-ambiente” em seu perfil nas mídias sociais.
2. O nível de tecnologia é muito elevado e você estará conectado a um novo mundo, inteligência artificial e fará parte da transformação digital 5.0. Você poderá acrescentar, também, “consciência digital e tecnológica” em seu perfil.
3. Não gasta combustível (fóssil) e consome uma energia limpa e renovável, se as fontes não forem poluentes.
4. Você poderá abastecer o carro na garagem da sua residência ou em seu escritório (se não tiver pressa).
5. A promessa é que o motor, transmissão e componentes durem muito mais. O veículo é mais silencioso e não emite fumaça.
6. Acelera muito rápido e pode gerar parte da própria energia.
7. Não troca óleo, filtros, correias, velas, juntas, bico injetor e uma pastilha de freio pode durar até 150 mil km.
8. É seguro, com promessa de manutenção mais barata durante toda vida útil.
Oito razões para você “não comprar” um carro elétrico agora
1. Value-for-money. Custa muito caro e com o seu valor é possível comprar um carro flex de luxo e muito confortável, ou então, dois carros menores muito bem equipados, flex. Abastecendo com álcool combustível você estará colaborando com o meio-ambiente e com dois dos mais importantes setores da nossa economia, o sucroenergético e a própria indústria automobilística já instalada.
2. É uma tecnologia ainda em evolução e os carros elétricos de hoje podem tornar-se obsoletos, rapidamente. Daqui dez anos, os carros elétricos serão diferentes dos que conhecemos hoje e não é possível afirmar que o combustível primário do veículo será a energia elétrica.
3. Além de ser muito pesada, a bateria tem baixa autonomia, risco de superaquecimento e dura, no máximo, 8 anos, quando deverá ser substituída. O preço da bateria, hoje, pode chegar a 60% do valor do carro e o futuro desse procedimento é incerto. Mesmo com a possível redução de custos na fabricação, as baterias continuarão custando mais da metade do valor do carro usado.
4. As atuais baterias íon de Lítio serão substituídas por novas gerações, antes de atingirem o nível de tecnologia com eletrólito em estado sólido (SSB) nos próximos 5 anos. Algumas marcas já estabeleceram datas para lançar os novos veículos com baterias SSB, mais leves, menores e com maior densidade de carga.
5. Talvez não exista mercado para os carros elétricos usados, no Brasil, nos próximos anos e você vai se casar com o veículo. Dificilmente as montadoras farão com os carros elétricos usados, aquilo que as operadoras de telefonia fizeram com os aparelhos de celular obsoletos, seria financeiramente inviável. Sem mercado de veículos usados, o mercado de veículos novos não decola e representará um volume pequeno em relação ao seu potencial.
6. Pairam incertezas quanto aos custos futuros de licenciamento, impostos, seguros e reparos maiores. Pouco se conhece sobre o comportamento desses veículos e suas baterias em um país tropical e tão deficiente em infraestrutura, como o Brasil. No início, e por muitos anos, esses veículos serão importados ou terão a maior parte de seus componentes importados.
7. Não há, ainda, infraestrutura capilar para postos de recarga rápida e a atual bateria íon de Lítio não recarrega tão rápido assim. Quem tiver pressa da carga, em uma situação de emergência, precisará controlar suas emoções e se estiver acostumado a pegar o carro em São Paulo, encher o tanque e partir para Curitiba, Belo Horizonte, Londrina, Uberlândia ou Ourinhos, terá razões para se irritar.
8. O que hoje é um sinal de comportamento responsável, amanhã poderá ser um “mico” nas mãos dos primeiros compradores.
Sem o desenvolvimento de um mercado de veículos usados para os veículos elétricos com mais de cinco anos, a tendência dos “early buyers” pode ser voltar para os motores a combustão, a médio prazo e isso se tornará um problema, não só no Brasil.
Você compraria um carro elétrico usado, com uma tecnologia semi-obsoleta? Pense na evolução dos smartphones nos últimos dez anos e faça a analogia com os carros elétricos, que na verdade, são grandes computadores sobre rodas, super conectados, que também podem levar você de um lugar para outro.
Sou favorável aos carros elétricos e a adoção de novas tecnologias, mas um momento de transição tão desigual, não pode ser imposto por regras e projetos de leis que visam mais benefícios políticos, do que retorno ambiental para um desenvolvimento sustentável.
*As opiniões manifestadas nesse texto são de responsabilidade exclusiva do autor.